terça-feira, 1 de junho de 2021

as mães
dão nome aos filhos pelo gesto
mãos olhos seio
e sussurram morno 
lar

as mães
trazem a luz do dia
abrem janelas à brisa 
ao sol aos pássaros

as mães
encontram-se nos filhos

as mães
têm para os filhos o cheiro a colo
que eles guardam a vida inteira 
são as mães
quem ensina o sonho
aos filhos que alimentam
beijo a beijo

são as mães
quem desperta as manhãs
quem as veste de sorriso
e as serve ao pequeno almoço

são das mães
as flores das jarras
as sardinheiras à janela
o jardim da casa
e os vasos da entrada

são das mães
os sonhos dos filhos
e o rasgo com que se fazem ao voo

quinta-feira, 12 de março de 2020

voo

i.
todo o voo é maior que a ave

ii.
voo é a magia maior que o pássaro orquestra

iii.
a bailarina transforma o pulo em voo
pela arte de ser enorme
o movimento inflama
e o cenário se esgota

iv.
a bailarina transforma
o pulo em voo pela arte de
ser enorme, o movimento
inflama e o cenário se esgota

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

dos pássaros leio o voo
tento aprender o voar

da verdade bebo a inocência
imagino-me saber dizer

da utopia tomo o desejo
apurei a ambição de tocar-lhe

..., pairo para voar
ouso o silêncio para não calar
persigo a lua pelo luar
gostaria de poder contar-vos a alegria
de cujo desejo me queima nas veias

gostaria de ler-vos um poema
declamar-vos aromas
a chá, a canela e a flores
e àquela coisa de um sorriso que
felicita e engrandece o momento

gostaria de assobiar-vos a melodia
do pairar
do voo de pássaro
do deslumbramento pelas coisas simples
e das coisas simples
sobre nós, levantei-me
a madrugada corria
fora e dentro deste quarto
onde nos contemos

janela virada a poente
para lá nos convergem os olhares
lá a paisagem que procuramos
ao lado do armário
onde se arrumam atavios

quais generais empoeirados
encaramos o dia ao espelho temendo
o abandono da glória
e desejamos a morte

a madrugada corria, levantei-me
fora e dentro deste quarto
onde nos contemos

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

a mulher azul invadiu o recinto de
futebol. vibrou deliciou-se
ninguém lembra se usou palavrões

os homens que eram
os donos daquele festival prenderam-na

de azul imolou-se
e não mais faltará a um jogo

sobre o sol

pende uma luz
no inverno da cozinha escura
a lareira encarvoada
trempe, panela de ferro e
o sopro encardido
da mulher que governa a casa

o bichano vigia
o fogo preguiçando
cheiro a lenha
a granito a fumo enegrecido
a caldo que sabe a borralho
à luz da lâmpada gasta
pendente
acesa, ali, única
como o sol

quarta-feira, 10 de julho de 2019

sexta-feira, 24 de maio de 2019

deito-me
diariamente com a morte,
acordo e ela adormecida
em meu leito, aguarda
o dia em que eu não possa,
acordará antes de mim
para me deixar dormindo

quarta-feira, 13 de março de 2019

no muro rasgado p'lo tempo
sopra em caneiro o vento
assobia um pensamento

poema das banalidades

sofrer banalidades
piruetas na origem do vento

o enlaço molesta
o abraço dói
o que no peito pulsa
é aflição
que o sorriso aquieta

há um brilho baço
esse olhar que não muda
penumbra da solidão

corre a vida na janela
pula ágil entra nela,
ver-se passar onde não pode sair