segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2013

pois...
e o ano novo chega
este sob o signo do revés
viver-se-á
com o espírito combatido
inevitável travessia
de lés a lés
que passe depressa.

sábado, 29 de dezembro de 2012

novo ano

o novo ano que chega
tem a alegria da esperança
tem o desejo de ser bom
de quem aspira fazer feliz
a avozinha e a criança
a cidade e o país.

o tempo

descansou, o tempo
ainda que sem parar
fora do ritmo cansa, pensou
então tique taqueou
como sempre fizera
ventaneou, ensolarou
brilhou, acinzentou
choveu e enevoou
desta vez repousado
descansando
no ritmo ritmado
que sempre tivera
tique taqueando
do verão à primavera.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

paixão

se hoje fosse meu último dia
amar-te-ia ainda mais, desesperadamente
como quem agarra a última oportunidade
de se fazer feliz.

acontecer

escrevi-te nos sonhos
dormia, acordava
sonhava, vivia
um sonho
vivido
e fiz-te uma ideia
a que chamei magia
juntei-te os factos
e as palavras talhadas
nasceste poema
que li e reli
depois retoquei
fizeste-te de mim
por ti eu cresci
em ti eu amei...
ai se amei...
então nossas almas
foram partilhadas
ficaste poesia.

caminho

para onde me levas
caminho
que piso, que passo
percorro
para onde me levas
surdo que és
te fazes e me ouves
confidências perdidas
para onde me levas
trauteias
os sons da manhã
sorris-me no dia
desvendas-te à noite
para onde me levas

sem norte, sem astros
sem vento
faço-te caminho
dia após dia
para onde me levas

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

.

é! hoje é natal
como nos restantes dias
é bom que hoje façamos natal
só isso
que hoje façamos natal

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

pensamento

os sonhos, por natureza, são cristalinos e confessam a nossa pureza.

história de um sonho

era uma vez um sonho
que me rondava, rondava
um dia, rondava-me o sonho
no momento em que eu acordava
espreguiçei-me bem forte
o mais vigoroso que pude
estiquei-me, agarrei o sonho
que trouxe para o amanhecido
sorriu-me, foi amável comigo
e não me achou rude
explicou-me mais tarde
que há muito por mim esperava.

agora como somos amigos
ele mora em minha casa
agora que nos damos os dois
voamos nas suas asas.
agora cresceremos juntos
e teremos uma vida sem fim
este é o sonho dele
um dia, confessou-mo a mim.

sonho ou carpe diem

sonhei que sonhava
acordado e estava
na praia
onde se encontra com o mar
procurei uma história
indaguei o tempo
como se tratava de um sonho
não tive de encher o momento.
então deixamo-nos estar...
eu, a praia e o mar.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

história sem palavras

escreveremos nossa história sem palavras
porque de silêncios nos fizemos
entregues ao sentido que nos gerou
e aos sentimentos em que nos criámos
nascidos que somos de nós mesmos

descrever-nos-emos com os olhos
pelos olhares
coloridos, meigos, doces, garridos

desenharemos carinhos em nossos corpos
bailados de cisne coreografados à pena
em caligrafia de poemas de amor

pronunciaremos mudas palavras
deslumbrar-nos-emos com nossas bocas
gesticulando os beijos que desejamos

teremos uma história escrita nos dias
guardada em memórias
daquelas que geram sorrisos
que só nós entenderemos
cumplicidades de apaixonados

pensamento

o que nos é dirigido
pertence-nos, é feito de nós
pouco importa onde nasceu
a mão que o fez
ou quem o pensou
não importa por onde viaje
nem os lugares que percorra
é, simplesmente, um pouco de nós
algures no mundo

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

transmudação

e se eu escrevesse sobre ti?
sim, sobre ti que me lês
de palavra em palavra
procurando um sentido
aquele que a tua curiosidade
vai desvendando
oh! se vai...
adoro essa tua curiosidade
alimenta-me 
é que alimento-me do sentido
aquele que sentes 
e o que me dás
sim, porque és tu quem me dá sentido
a partir do que sentes
somos companheiros 
de uma viagem
que iniciamos conhecidos
e acabaremos amigos
ainda que nunca mais nos vejamos.
sinto, porque agora eu também sinto
que te surpreendi
ao propor-te leres-me de ti
e ter a ousadia
de te surpreender
que os dois nos fazemos
pelo método de ler.

fado

ouvi-te numa música
peguei-te na mão
que beijei
em cada palavra
da canção saudade
dancei-te nos braços
aperto abraçado
de peito fervente
ah! que abraço tão quente
e forte de nosso
e rodamos
e rodamos
num eterno rodar
e a música tocou
e nunca acabou
ficou no ar...
ainda te danço
no nosso abraçar

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

pensamento

por vezes...
amamo-nos tanto
que nos odiamos mais

olhar ilícito

olhei-te demoradamente
quis sentir-te próxima
por isso te olhei sem que soubesses
quis assim
pude ler teus pensamentos
nos movimentos com que desfolhavas
teu livro ou tuas recordações
li aquele teu sorriso impercetível
que guardas, sem esconder, no canto dos lábios
e que faz a minha felicidade
é delicioso sentir-te sorrir
emerge em mim uma paz interior
como uma bolha
que se expande do centro do corpo
num movimento ondulante
redondo como teu peito
que se move ao ritmo pulsante da vida
teus pensamentos são de paz
julgo, na serenidade do entardecer
iluminado pelo sol refletido dos teus joelhos
que te alumia o rosto
de um tom de candura
bem demarcado
da ilicitude do meu olhar demorado.

inspiração

não passa um dia
em que não pense em ti
na tua ausência
vejo teus olhos
sinto teu sorriso
saboreio nosso beijo
fresco, meigo, carnudo
solto um pensamento
prenhe de ternura
tamanha doçura
carinhos de namorados

simetria

vida
por mais que te esforçes
hoje, insatisfazes-me
insatisfaço-me, hoje
por mais que me esforce
eu

domingo, 16 de dezembro de 2012

dança de árvore

teu corpo de árvore
dançando, balanceando
envolta no vento
ventarolando uma melodia
forte como a paixão
tem força e tem folia

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

feliz natal

a todos desejo a felicidade de apreciar o bom que este natal vos proporcionará.

a todos me sinto profundamente reconhecido pelo tempo que me dedicaram, ao ler os escritos deste blog.

abraço amigo,

assim...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

conta-me uma história

conta-me uma história
pedi-te
precisava ouvir tua voz
contaste-me de ti
falaste-me de mim
desvendaste-nos
sem princesas nem fadas
revelamos encantamentos
do sentido, do arrepio
...teu tom de voz
quente, carinhoso...
conta-me uma história

até logo

só mais uma vez...
cruzamos olhares
apressados
chocamo-nos num beijo
tocamos as mãos
que arrastamos, pelos corpos
devotos
sussurramos a despedida
ainda apressados
num ciclo de tempo
um pestanejar
"só mais uma vez..."
grita a saudade
precoce
a despedida que se interrompe
de tão esbatida
algo nos puxa para o exterior
adeus...
sendo um até logo
parece um adeus.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

embaraço

perguntaste-me porque te amava
tentei responder-te, sem convicção
expliquei "porque sim"
embaracei-me no teu olhar
e articulei um "amote", o melhor que pude
ainda sorris.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

teus olhos

parei naqueles dias
quando teus olhos existiam sorridentes
porque só assim existiam
e lá fiquei,
foi por isso que para lá caminhei
e deixei-me ficar
contemplando teus olhos quentes, felizes
outra vez sorridentes
pequenos mas imensos
como imenso é o sentido, de sentir
e profundo o sentimento
gerado e crescido neles, por eles
teus olhos quentes
ainda pequenos e mais sorridentes
desafiando o meu gostar
como poderia eu não te amar?

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

despedida

a manhã chovia copiosamente
de chuva só e persistente
triste como a multidão
chorava, a manhã
porque se ia a companhia
que se perdera
entre a noite e a madrugada

depois a chuva amainou
e aflorou um raio do sol
como um esgar de sorriso
na despedida forçada

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

pensamento

há dias que o dia não conhece
nem reconhece
nem quer reconhecer

há dias que o dia não esquece
embora erija uma prece
para que se venha a esquecer

pensamento

sinto-me cheio demais para escrever
muitos pensamentos, muita informação
muita confusão...

pensamentos soltos

deus fez-nos à sua imagem
e nós fizemo-lo à nossa medida

deus ensinou-nos a amar o próximo
e nós aproximamo-nos do que amamos

sábado, 1 de dezembro de 2012

remorso

quebra-se a promessa, desfaz-se
desaparece o que amamos
sem magia; por maldição
vai crescendo o ressequido
e a alma faz-se tição.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

...

chegou a noite
sem que o sol se escondesse
(não quis)
só que a noite avançou
como sempre, à hora marcada
e o sol, ainda que brilhante
cobriu-se de luar
porque era tempo da noite chegar
soubemos então
que o sol não contraria a ordem da criação

coração solto

deixar-te-ei coração
deixar-te-ei navegar nos rios, nos mares
e se quiseres, pelos ares
deixar-te-ei solto
livre, sem nada a que te obrigar
serás vela, caravela
serás ave, gavião
serás brisa ou furacão
tu o serás coração
sem nada te obrigar
serás livre como o ar
sair-me-ás do peito
voltarás quando quiseres
andes por onde andares
nada do que me disseres
será importante para que eu decida
se te darei guarida
pois serás sempre bem vindo
e quando me chegares ao peito
ficarei inteiro e serei perfeito.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

coitado

mergulharia no frio do mar
gelado, invernoso e batido
para acordar do torpor que me afaga
e me cativa... e eu deixo.
quer ser afagado, meu lado coitado.

pensamento

é...
hoje não me apetece falar
votar-me-ei ao silêncio
creio que vou repousar
preciso estar comigo
falarei para mim, de mim
coisas sem nexo, sem fim
até, enfim, me cansar
só depois irei falar, falar
falarei pelo peito,
pelos olhos, pela boca
falarei de qualquer jeito
nada me irá calar

agora estou cansado
não vou falar
ficarei apagado
escrevendo
sossegado

isto sou eu a pensar

escrevo

por que escrevo?
o que escrevo
como escrevo
se escrevo
então escrevo
porque escrevo
logo escrevo
agora escrevo
pois escrevo
até escrevo
ainda escrevo
onde escrevo
e escrevo
aonde escrevo
com que escrevo
é, escrevo
escrevo
escrevo
...

taciturnidade

a tristeza encontrou-me
aportou em mim
tal como antes dela a beleza
o amor e a paixão
o mar e a cor do jardim
agora tenho o só
o sozinho e a solidão
e esta tristeza em mim, abrigada
neste corpo, nesta alma
a que agora chama morada.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

pensamento

morre-se um pouco
quando morre um amigo
morre algo em nós
morre aquele bocado de vida
que só nós vivíamos.

melancolia

as palavras...
mais uma vez as palavras
estas surgem-me tristes
sondam a tristeza que carrego
no fundo tão profundo
que nem a enxergo, mas está lá
descobrem que está
revelam-mo as palavras

terça-feira, 27 de novembro de 2012

pensamento solto

pensei contar as estrelas do firmamento
pareceu-me uma tarefa ambiciosa
fútil e eivada de alguma loucura.
então, soube que estava vivo.

confissão

sabes,
o meu desejo de hoje
era escrever-te algo lindo
algo que te fizesse estremecer
por cada sílaba proferida
e que esse estremecer te fosse para além do corpo
e te fizesse sentir cheia
plena de mulher
como a lua de luar
e te sentisses dar à luz como um sol
radiante, como mãe apaixonada
que acaricia o ventre para tocar no filho
que, deliciado, se estica preguiçosamente
como um abraço dado de dentro

é isso que gostava de escrever-te
um abraço de dentro
de dentro do peito
de dentro da alma
que te confortasse
que ao tocares no teu corpo
o sentisses preguiçoso
a abraçar-te por dentro

não sei como escrever-te
não sei como estremecer-te
não sei como abraçar-te
nem sei como balancear teu corpo
num embalo de aconchego

abismo

esvaziámos nossos colos que se tornaram secos
perderam o molde de corpo, petrificaram
como estátuas, expomos a harmonia fria e dura
porém, seráfica
esgravatámos o brilho dos olhos e a doçura da ruga
em terreno deserto, estéril de memórias, vago
como tudo o que temos, vago
como o abismo que cavámos
em tempos e que plantámos em nós.
e nossos colos de tão vazios são abismos
vagos de memórias em pleno deserto.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

adeus

adeus,
interminavelmente longo
sem fim,
é assim a dor do adeus

adiado

um dia destes serei
serei bom, serei tudo
serei o que puder ser
um dia destes serei, serei, serei
um dia destes...
quando? não sei
mas serei o que sempre sonhei
amarei o que sempre odiei
um dia destes serei
tudo o que sempre adiei
hei de ser, eu sei
quando será, isso não sei
um dia destes será
e eu serei.

sábado, 24 de novembro de 2012

chuva boa

gosto da chuva que molha
molha tolos, molha todos
molha o jardim
molha a rua e a estrada
molha a água, apesar de ser molhada
porque a chuva molha o rio
molha a praia e molha o mar
lugar de onde partiu e aonde irá chegar

o que eu gosto na chuva é a qualidade de molhar
molha a cara, lavo o rosto
fecho os olhos, acelero meu andar
molho os pés, chapinho nas poças
bela forma de pecar.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

pensamento

o amor que temos fez-se aos poucos
sem que o soubessemos
e o que fizemos, soubemos fazê-lo bem

pensamento

o azar de muito boa gente
é que o seu desejo de vida
é ser o próprio desejo da vida
parecendo real e concretizável
esse desejo é pura ilusão
e dos mais atrofiantes

terça-feira, 20 de novembro de 2012

que é preciso...

que é preciso para aquecer
a alma, um pensamento
o coração, um beijo
o corpo, um abraço
o olhar, um raio de sol, um sorriso lindo
se nada disto funcionar, talvez um vulcão

saudade

há um traço de mar em toda a saudade
um sulco de lágrima riscado no rosto
o sal de abençoado, o salgado da saudade

poeta

i
sou uma edição antiga de um escrito
ainda redigido a caneta, em papel
amarelecido de tempo, garrido
exibindo os vincos da leitura

ii
sou pai de um filho que escrevo
levo pela mão, passeando ao vento e à vida
delicia-me o cheiro do seu corpo
a tinta, papel e poesia

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

voo de gaivota

aquele voo de gaivota
a que dedicamos um terno conchego de cabeça
o mais terno que pudemos
sentimo-lo vertiginoso
rápido, mas calmo, perfeito, coreografado
domínio do movimento que também sentimos nosso
como aquele achego
onde nossas cabeças se uniram da alma ao coração
e vimo-nos rodando, voando,
mergulhando profundamente num mar
em praias de areias quentes
escaldantes
que rasamos, vertiginosamente
sem pecado, sem princípio, sem fim
e quando nos olhamos
não distinguimos
se vemos, se sonhamos
o nosso movimento.

domingo, 18 de novembro de 2012

2º olhar

sei
porque gostas das palavras que escrevo
ficam-te mais tempo presentes
para que as olhes, as sintas
releias, as palavras
gostas de as ver insinuadas
meu lado enigmático.

entre o lido e o relido
há um escrito que aspira ser sentido
desnudado, carinhosamente despido
como uma virgem, na noite de núpcias.

fascina-me ser relido, sabes
delicia-me merecer um 2º olhar
por ele vivo, por ele escrevo.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

teu acordar

são de oiro as palavras
que proferes, preguiçosa
ainda, antes do dia nascer
acordas a fantasia
que trazes para o dia
preciosa, tua atitude ao acordar.
sabe bem ficar a ver.
falas de sonhos
que enrolas nas palavras
que também saem enroladas
e quando acordas, nem recordas
as palavras que proferes
parecem inacabadas
as palavras de fantasia
que acabas de evocar
têm piada. sorrio, acho bonito
teu riso preguiçoso
delicioso, é ver-te acordar.

adivinhança

adivinho o que pensas, quase
adivinho o que sentes
vi teu olhar cruzado no meu
demorou-se e agradeceu
tudo o que ainda não aconteceu.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

teu joelho

encontrei teu corpo
nas curvas de teu joelho
ele tornou-se belo
e eu ruboresci, lindo
o corpo que descobri.

sedução

falas-me das ondas que vestiste
com que refrescaste teu corpo
e sorris-me demoradamente.

falas-me das ondas feitas de mar
e do fresco do sal
como cobriste teu corpo de salgado
e de cristais coloridos que a luz desvenda
no ombro que elevas, de olhos fitos nos meus.

falas-me das ondas do vento
como penetraram tuas vestes
e te envolveram o corpo, num abraço
que descreves, libidinosamente, fresco
enquanto eu adivinho teu ondear.

sinto o choque das tuas ondas
fragrâncias quentes de corpo escaldante
que exalas ou bafejas sobre mim
e inspiro profundamente teu odor
delicioso e ocioso de ventre.

trauteio teu corpo ondulado de mar e fresco de brisa
navego no perfume das fragrâncias quentes do teu seio
e revelo-te meu desejo de te vestir.

sem título

doei-me pelo desvelo
nos dias e nos momentos
os nossos
os que quis nossos e não o foram
os que sonhei, mas não vivi
e aqueles que desejei e já esqueci
não sei o tempo deste momento.

declaração

amor meu
fizeste-te tão antigo como as minhas memórias
tão recôndito quanto meus segredos
e tão belo como a minha felicidade.

os momentos do momento

perguntaste-me quantos dias tem este momento
não soube responder-te, também não contei os dias
ou perdi-lhes a conta ou, ainda, não me interessou essa soma.
lembro-me, agora, que os vivi, vagamente: primeiro um, depois outro
e mais um e mais outro, um de cada vez... até hoje.

sei, porém, que o amor e os gestos que trocámos
e os que agora cruzamos, não são rotina
sei, também, que este momento não se mede em dias
nem horas ou semanas, segundos, meses ou anos,
faz-se de momentos e do que deles ficou.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

pensamento

qual
o peso de um dia
a força de um olhar
a dureza da palavra
a frieza de um beijo

igual
à leveza do momento
à meiguice do mirar
à doçura do discurso
ao calor de beijar

a senhora

chegou a senhora
da esperança, para uns
da desgraça, para outros
bendita, maldita
chegou ágil, bonita
simpática, super intendente
organizada, sorridente
e prometeu cá voltar, para férias
quando não for chanceler.
a mim foi-me indiferente
não me parece boa gente
e, creio, padece do poder.

dimensão da amizade

a amizade é maior
de dimensão poética
de grandeza mais que épica.

amigo

amigo é nobre humano
tal como a natureza do amor
e como o sentido da poesia
criada para desvendar
que amigo rima comigo e contigo
e com tudo o que partilhámos até à exaustão
do prazer de comungar
que amigo rima com espigo e com trigo
por serem simbolos eternos do germinar e da vida
que amigo rima com abrigo e com umbigo
enquanto afirmações corpulentas de fratria
feita dia após dia, para que se entenda
que amigo rima com sigo e com persigo
não porque seja um caminho
mas porque és tu, amigo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

sobre vagas

hoje o dia chegou-me em vagas
como se fosse um mar
onde as vagas se sucedem, uma após outra
ou como a vida, umas vezes ritmada pelo mar
outras, escolhe ritmos variados
alguns dos quais nem sempre acerto no tempo.

mas o dia chegou-me em vagas
vagas de trabalho, vagas de ideias
tempo vago e vagos pensamentos.

acontece que de vaga em vaga
fui enchendo os lugares vagos
de sínteses, de imagens e de memórias
que um dia de inverno, quente de luz
me trouxe algures de marés que nem recordo
onde não foram ordenadas, nem arrumadas no lugar certo
algo tinha ficado por fazer e permaneceram por ali
recusando-se ser arrumadas.

as ideias e as memórias são assim:
persistentes e com vontade própria.

numa dessas vagas alinhei este texto
dele fiz método para arrumar
aquilo para que me tem faltado o vagar.

já sei como encarar a próxima vaga
sim, porque o dia de hoje chega-me em vagas.

domingo, 11 de novembro de 2012

um toque de saudade

logo após tua mão ter partido
aflorou-se-me a saudade
daquele toque solene
que minha pele reconhece, ainda
o calor não se tinha extinguido
nem a sensação de ser tocado...
a saudade estava lá, aflorando
talvez florindo, como as flores
embora feita de cinzentos
mesmo assim aflorou-se-me a saudade
pelo toque florido, ainda quente
que guardo de ti.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

temor

porque já não temo o inferno
os demónios desapareceram
partiram os anjos
deus tornou-se amigo
e não quer ser imponente.

já não me apoquenta
o calor do verão
nem o frio do inverno
porque já não temo o inferno
não tenho batalhas a perder.

aprendi que não temer
fez desaparecer o inferno.

fusão

porque nos deitamos
antes, debaixo do sol
quando estávamos quentes
ferventes de sangue
escaldantes de pele
vapor exalado de amor
debaixo de sol quente
porque nos deitamos
por amor, somente
por desejo de nós.

porque nos fizemos
pouco a pouco
fusão de momentos
e de pensamentos.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

renovação

morre algo em nós
sempre que sentimos da vida
o sabor da traição.

nasce algo em nós
sempre que ganhamos da vida
o prazer da confiança.

assim nos renovamos
melhoramos
de aliança em aliança
de criação em criação.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

desejo

abracei-te num beijo
forte de abraço
envolvi-te nos lábios
que abracei nos teus
sei que se prolongavam
os teus nos meus
beijos feitos
de lábios abraçados.

sonho

contei-te meu sonho
e continuei a sonhar
porque era meu sonho...
sonhei-o para te agradar
de sonho nos fiz
pelo sonho cresci
e meu sonho me diz
que o sonho que sonho
é um sonho de ti.

chuva de inverno ao sábado de manhã

entre as gotas de chuva
cantam-se melodias de inverno
de embalar, ouvem-se
as bategas pousando no telhado
aí se encontram umas e outras
rodam e rebolam ruidosas
celebrando a partida eufórica
destino à vista.

conforto reconfortante
melodia de sábado de manhã
preguiçoso de cama
elas cantam, eu ouço-as
cantando-me cantigas
de embalar, embalando-me
eu ouço-as, dormitando
não é sonho, ouço-as mesmo.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

domingo, 4 de novembro de 2012

dar

uma dia
partilhamos tudo
a forma do vivido
o intenso do sentido
num momento de vida.

noutro dia
alguém nos oferece
aquele pedacinho
embrulhado como prenda
com um laço de carinho.

sentimos
que daí em diante
não haverá lugar para a infelicidade.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

bom dia, mar

mar...
demoraste a acordar
tanta preguiça tu tinhas
em ondas te espreguiçavas
longas, lentas
bem esticadas
largo bocejo
murmurado

mar...
acariciavas a praia
banhavas as rochas
beijavas a amurada
deslizaste como pudeste
quiseste chegar-te a mim
quanta ternura senti
toda vinda de ti

mar...
ajoelhei-me
em equilíbrio
estiquei-me
quis dar-te a mão
com a mesma devoção
que minha mãe me ensinou
a de tocar na água benta

mar...
de ti me fiz benzido
da tua espuma quis-me ungido
trouxe-te comigo
no meu corpo, na alma
no meu ouvido
no sal das palavras
na memória...

mar...
ambos sabemos
um dia nos veremos
tu, num horizonte distante
eu, de olhos preguiçados
recordarei
tuas ondas de ternura
acho que sorrirei

mar...
se meu anjo da guarda
perguntar
porque sorrio
no que estou a pensar
não saberei que dizer
"nada"
terei que contar.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

lugares comuns numa tarde de sol

i
teu olhar pousou em mim
senti
mantive os olhos fechados
recusando acordar
era esse o meu sonho.

ii
uma borboleta interrompeu-nos
seguimo-la, fantasiando
de flor em flor, sorrindo
era a nossa forma de amar.

iii
interrompeu-me, o silêncio
quando já não havia mais nada em que pensar.

iv
banhada de medos
a alma encolhe-se
encardida de tanto pavor.

v
por amor te aninhas em meu colo
confortas-te, reconfortas-me
sinto que gostas do meu amar.

grito

por vezes
preciso gritar teu nome
para ouvir o belo
e notar como sou feliz.

tarde de domingo

lembra-me uma tarde
era domingo
perdemo-nos num abraço
sentados na amurada da ria
enquanto convivíamos em silêncio
porque essa era a forma de nos amarmos
naquele momento
e comemoramos com um beijo
depois outro abraço...
inesquecíveis de tão simples
tão importantes.

letras

de todas as letras que escrevi
recordo cada uma, como filhas
as que foram geradas no calor da paixão.
as outras, juntaram-se em palavras
foram bandos, rodas, canteiros
pedaços de melodias
quiseram-se histórias contadas em dias
que se fizeram maiores.
perpetuaram-se
os dias, as palavras e as letras
amo-as, todas fizeram-me assim...

melodia

repara que melodia
junta a natural doçura do mel
com a vida do dia
aprecio, agora, a doçura
e a melódica harmonia
como pintalgas minha vida.

namorar à beira-mar

marulhava, o tempo, à beira-mar
que adoçamos com um encosto de corpo
conforto morno, quente de gente
carinho de pele em ternura de amante.
partimos, fugindo, divagamos no tempo
em silêncio, sem cumplicidade
sentados na amurada
acompanhando pensamentos distantes
coloridos de sonhos.
estivemos connosco, íntimos
de nós e de cada um
descobrimo-lo
quando nossos olhares se cruzaram
e revelamos num beijo
o desejo e o prazer de nos beijarmos
e o regalo de estarmos ali.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

evocação

de tudo o que hoje me disseste
me esqueci
recordo
o sentido de cada uma das tuas palavras
os preguiçosos movimentos dos teus olhos
o calor do teu abraço
o toque terno dos teus lábios
e o hálito morno de cama do teu beijo
quando me declaraste amado
é o que recordo do dia de hoje
e o que reviverei ao adormecer.

domingo, 28 de outubro de 2012

olhos fugidos

fugiram-me os olhos
encontrei-os detidos nos teus
namoravam
narravam uma história de amor
que não teve início
e sentem-se bem.
vê-se nos olhos.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

a cor do olhar

leva-me os olhos
o olhar que te dedico
por te serem consagrados, meus olhos
meus olhares transbordam o colorido
que semeias em minh'alma.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

cor de mar

mar
cor de movimento
espelho do sol, reluzente
dourado, prateado
azul, verde de mar
branco de espuma
de onda batida, espraiada
que embalou marinheiro cansado.

murmúrio

mar
sentido
voz do íntimo
sussurro de água
murmúrio de deus
cântico de sereia
brado de náufrago
grito de gaivota
afeiçoei-me a ti
àquele batido de onda
como pronuncias meu nome.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

introspeção

descrever-me-ia, se pudesse
escrever-me-ia de nada
silêncios de palavras invisíveis
mudas do sentido da emoção
pelo desconforto que teria
de emocionar-me comigo mesmo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

desterrado

na despedida
fugiram as lágrimas
brotaram da juventude, lá
onde não se pode esconder a tristeza
aquela que chega da partida
sem retorno, só de ida
despejado de um país
despojado de uma vida
todos os dias sonhada.
partiu, deixou a mágoa
que trocará pela saudade
de que hoje é companhia
se algures for regressado.
a tristeza de um povo
envergonhado deste dia.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

domingo, 14 de outubro de 2012

as cores das pétalas

são brancas de rosa as pétalas que repousam, aguardando-te
no caminho do sonho em que viajas entregue aos teus desejos.
resplandecem-te pela brancura que te reconhecem, alva
como teus anseios, tuas vestes e teu sorriso.
teu sonho faz-se nosso porque o desejaste
e crescemos amantes, coloridos nos sentidos.
as pétalas brancas de rosa fizeram-se de vermelho
forte como a paixão, profundo como o sentimento, nosso
quiseram-se de rosa como o carinho e a sensualidade
que exalas e despertas em mim
e de amarelo como o virtuosismo, a jovialidade e a alegria que soltas
no sonho com que passas levemente como a brisa
sobre as pétalas de rosa que te aguardam no caminho
para se colorirem para ti
por nós.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

braços de rios

entrelaçamos os braços
e nos enleamos
assim nos abraçamos
com os braços nos irrigamos
como rios
sangue corrido, aquecido
fluido de amor
pelos braços nos demos
nos braços nos temos
em abraços navegamos
por rios de paixão maior.

os rios

os rios
não nascem no mar
não partem do mar
não procuram o mar
os rios
não têm destino.
os rios
são vida a passar
são calma do navegar
a revolta pela condicionante
os rios
desejam ser mote de amante
ser a inspiração maior
os rios
sentem ser este o seu tino.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

unificação

serei teu
como os dias vividos
mais teu que o teu sorriso
porque serei teu
mesmo quando não quiseres
mesmo que eu não queira
porque nos fizemos impregnados
do amor
que nasceu de nós.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

contemplação

vi-te no mar
estavas no jardim
as ondas eram calmas
suaves, as cores
havia flores
o vento era o mesmo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

enlevo

quando adormeci
já tinha acordado para o sonho
aquele em que me inebrio
por ti, em ti
como se não tivesse havido mais nada.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

pelo canto do olho

pelo canto do olho
procurei um amigo
fugi de um conhecido
me entrou um mosquito
me engordou a lágrima
que teimava.
pelo canto do olho
tornei-me distraído
fiquei importante
e quando dei por ela
no canto do olho
guardava a remela
onde esteve o mosquito
e a lágrima engordou.
pelo canto do olho
construí meus silêncios
antecipei desavenças
mudei a história
antes de corar
aquela da remela
do mosquito parado
da lágrima engordada
pelo canto do olho.
explorei o mundo
sempre defendido
sempre resguardado
canto abençoado
dedicado à remela
ao mosquito apanhado
à lágrima redonda
gorda de crescida
no canto do olho
onde foi parida
por o canto do olho
ser um modo de vida.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

anjo da guarda

acompanha-me a tua ausência
não estou só
tenho comigo a saudade
minha companhia, sempre
recordando-me
que tenho um anjo da guarda.

outono

chegou o outono
morno, morno, morno
como o sol, o odor e o café
como os amarelos, acastanhados, avermelhados
como os frutos maduros, risonhos, melados
como as compotas, em mornos potes
carinhos doces de mãe, tias, avós
família, amigos, aconchego
chegou o outono
morno, morno, morno
gostoso de bom.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

momento

teu corpo
repousando no meu, entregaste-mo
sentido de ti para mim
pela intimidade que só existe em dois
despida, nua porque o teu olhar o revelava
ofereci-te meu peito
indaguei um odor
que me desvendou teu desejo

deixei-me
por inteiro
ancorado àquele momento
nascido de um beijo terno e quente.

condição de vida

escrevo pela imprescindibilidade do escrever
preciso manter-me no estado de poeta
minha condição de humano.

fusão

nossos olhos encontraram-se
onde os corações aquecem
os peitos explodem
em corpo escaldante
amor e paixão, fusão
e tudo fica uno.

a poesia

escrevo no calafrio
no gume do arrepio
onde a palavra se comove;
se emociona, se faz humana
mais humana
onde a voz embarga
os olhares se procuram
os abraços ficam indispensáveis
e dão-se
torna-se vital partilharmo-nos
do fundo, da alma, da humanidade
peitos e braços são unidos
pela emoção da palavra
a poesia
a mais humana das palavras.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

ingenuidade

quando deus se viu pelos olhos de uma criança
sentiu-se feliz
pela ingenuidade com que olhou a maturidade
e concluiu
que a idade pode não ensinar nada.

destino 3

deixei acontecer
porque acontecer era o destino
de um destino acontecido a cada passo
a cada momento, onde o acontecer se faz
foi isso que fiz: deixei acontecer
e cumpriu-se o destino
do que não estava destinado
talvez...

terça-feira, 25 de setembro de 2012

destino 2

destinei-me, a mim mesmo
à descoberta
vi-me e encontrei-me
como este povo
do encoberto ao desejado
duas faces da mesma moeda
dois santos da mesma medalha.

outono

chegaram as gotas de chuva
minha vidraça aguardava-as
como sempre...
alegraram-se no encontro
velhas amigas. ao fundo
estou eu vendo-as conviver.

sábado, 22 de setembro de 2012

lamento

lamento, ai como lamento que seja necessário haver quem passe mal, muito mal, para o povo se faça ouvir e se consiga cheirar a democracia. já me tinha esquecido que um dia convivemos: eu e ela.

destino 1

vi-me no fundo de um desejo
aguardando por ti
que me quisesses teu, só teu
esperei
era meu destino ser-te destinado.

amor cego

conheces o amor que te tenho
porque teu nome passou a ser "meu amor"
porque entre as batidas de meu coração
tu existes, bem além deste palpitar
como vês, melhor, como sentes
como sentimos
quando fechamos nossos olhos
vemos e amamos como cegos
então, amamos cegamente.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

utopia

há um lugar onde todos os sonhos se encontram, convivem e aspiram e crescem em utopia.

doçura

aroma doce, de vida
de terra, de flor
doce, perfume
aroma de amor
em ti vejo doçura
vinda de doce e de cura
para ti tenho amor.

meninas

dançaram-me nos olhos
as meninas, quando te viram
irrequietaram-se
só para que lhes desses atenção
um sorriso, de preferência
ou para que soltasses as tuas
e fizessem uma roda com as minhas
dadas de mão na mão.

sentiram-se ignoradas
mostraste as tuas geladas
e então, as minhas bem marejadas
colaram-se às sombras do chão.

perfume

falaste-me de cheiros
de cama, de corpos
do adormecer e do acordar
com a arte dos perfumes

aperfeiçoaram-se os cheiros
colhemos odores, aromas e essências

perfumados, perfumamo-nos
como a terra, a água, o fogo e o ar.

confissão

na paixão de um beijo
confessaste-me apaixonada.
meiga, ardente
rasgaste teu peito
beijaste-me a roupa, ainda
sem despires teu vestido

sussurraste-me arrebatada
sentias a cona molhada.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

beijamo-nos

teu beijo aguarda-me
entregas-mo devagar
saboroso saborear
como nos ensinamos
olhos fechados
vemo-nos beijando
sentindo o beijo, amando
quando te estou a beijar.

retrato

recordo-me
de um retrato partido, gasto e sujo do tempo
que um dia morou numa cómoda puída da idade e do pano do pó
e num outro dia se esfumou
na história, no tempo e perdeu o lugar.
viajei num retrato desses
senti dos dedos da avó o prazer de o emoldurar
vi a satisfação contemplativa
desprendida ao ritmo das contas
de um rosário carregado
também ele, de histórias e significados longínquos
enquanto a avó bichanava com deus
ou com a consciência e de certeza com os seus
alguns ausentes
outros desconhecidos dos meus olhos, da minha moldura
mas presentes nas orações
nos pensamentos e na galeria de retratos.
começamos vizinhos, ficamos conhecidos e daí passámos a amigos
ligados pelo gesto de uma avó
que bichanava para nós ao ritmo de um rosário.
e nós, sorridentes atrás de um vidro, exibíamos o nosso melhor
agradecidos pela devoção.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

além

depois do mar
há um oceano, profundo
senhor de muitos mares
amo de muitas marés
onde tudo se perde
se nós quisermos
se ele deixar.

grandeza dos pequenos nadas

inundou-me o dia, a poesia
cresceu-o, sem o aumentar
engrandeceu-o
coisas pequenas, grandezas
depois, ganhou cor e odor
teve amigos e sorrisos
e o dia inundado, de miudezas
será lembrado, pela grandeza
a poesia deste dia.

por amor

cravaria em meu peito um punhal
não que eu deseje morrer
somente pela lírica esperança
que a minha dor encobrisse a tua
e que por isso ficasses melhor.
algo em ti me impede de o fazer
não é em ti, é em mim
não suporto a ideia de não estar contigo.

pensamento

quero um pensamento dente-de-leão
solto, leve, flutuando no vento
sabendo que chegará aonde for preciso.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

necessidade

preciso escrever, escrever, escrever
até que meus dedos fiquem dormentes
então, escreverei com os dentes
e quando ficar desdentado
gritarei
o que me vai na alma
sem lamentos, expelirei meus ais
declararei meus amores
abandonarei meus tormentos
e não sei que farei mais.

agora, tudo o que preciso
é escrever, escrever, escrever
ato compulsivo, danado
se pareço parado
tenho o pensamento inquieto
ansioso para aprender
procura motes e glosas
para descrever o que vê
e para sentir a melodia
de um afeto maior.

preciso escrever, amar, escrever
carícias em forma de letras
a ternura das palavras
por sorrisos pontuadas
abraços com forma de versos
estrofes de modo de estar
cada poema conta um conto
a magia de um encontro
uma história de encantar.
e se me encanto, perdido
fascinado neste versejo
é que na essência de cada escrito
coloco a força do amor
e a doçura de um beijo.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

sinónimos, quase

poesia
extensão da alma
arrepio do calafrio
humano do divino
genuíno.

origem da poesia

é da alma a poesia
por isso é profunda
intrínseca, intensa, genuína
pura, límpida, cristalina
como o sentir...

ainda entrega...

se me arrancassem a alma
sentiria a poesia com os ossos
senti-la-ia com as vísceras
porque um dia também lhe dei meu corpo.
... a ela me entreguei tanto quanto pude.

tormento de criação

fiz-me apaixonado
bafejado, benzido, abençoado
caiu sobre mim um manto de emoção
deixou-me rendido, cansado
exausto
escrevinho em todo o lado
para que não me pare o coração
que o meu discernimento
me deixe estar neste tormento de criação
tão penoso como bom.

verdade do poema

um poema não mente
é escrito com o peito
que só sente
mentir e, em geral, a traição
exige a sofisticação
que não se encontra no coração.

oração

senhor deus fazei-me bom
fazei-me falar com o coração
fazei-me justo, correto
fazei-me amigo do peito
fazei-me um pouco deus, ainda
que seja imperfeito
...
deus, estás a fazer-me poeta!

encoberto

em meus sonhos há um mar
grande, imenso e profundo
encoberto pela areia
pelas rochas
e pela indiferença da praia.

praia mar

o mar alheou-se, melindrado
pela indiferença da praia
que nele se banhava
sem o ver, sem o sentir.
não havia mar
só praia,
casamento de mar e areia
e paixão de gente.

sina

o desconforto instalou-se em mim
onde quer viver, estar
incorporou-me
como sempre
nunca escolho o lado confortável da vida
é algo que não sei fazer.

génesis

encontraram-se
meu peregrino e meu errante
amigos inseparáveis, fizeram-se
cúmplices
nasci assim...

milagre

só na poesia
amor rima com dor.

desejo último

quando um dia eu morrer
leiam-me um poema
para que leve uma memória
uma oração
e um pouco de poesia.

criação 2

porque deus se quis humano
fez-nos à sua imagem...

criação

quando deus criou o homem
desejou sentir-se humano
gostou do trabalho que fez
e ofereceu-lhe o pecado.

15 setembro

um dia, demos por nós interessados
gritando numa manifestação,
algo que nunca tínhamos feito.
saímos manifestando, recusando, até
a companhia de um partido qualquer.
e fizemos democracia
finalmente encontramo-la
nós, que a julgávamos perdida
por a termos vendido
por nos termos vendido
até ao pensamento.

domingo, 16 de setembro de 2012

obrigado

tive de agradecer-te pelo amor que fizemos
porque não soube outro modo
de te mostrar meu amor, minha felicidade
meu reconhecimento
por teres aceite a minha entrega.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

tornar-se poeta

entreguei a alma à poesia
aquele estado
em que o humano se faz divino
porque o divino,
sabendo-se gerado no profano,
colocou no barro humano
um coração de poesia.

pensamento

sinto na alma do poema
a paixão da minha vida.

pensamento

apaixono-me no poema
por ser simples a descrever
o emaranhado vivido
e ousado a esculpir
a simplicidade do sentir
dando-lhe feição do viver.

meu setembro

o meu setembro tem olhos, quentes
senhores de um sorriso, prolongado
até aos lábios
de onde brota um coração
também quente, palpitante
como as palavras que trocámos
e as que não dissemos.
meu setembro tem o quente suado de mão
e tem aura quente de corpo
que escalda antes de ser tocada.
meu setembro também tem jardim
sempre o eterno jardim
templo de todos os actos
do qual tu és a alma
do setembro que mora em mim.

paixão

foderam. foi isso que fizeram
porque o sangue lhes fervia
lhes queimava, a paixão
tão quente, tão forte
que os corpos, hirtos
só podiam foder e morder.
depois, fizeram amor.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

liberdade

cerrei meus olhos
quando tudo era branco
intensamente branco.
impaciente, rabisquei as paredes
escrevinhei no chão, o tecto,
salpiquei-o de espuma de mar.

abri meus olhos, revelou-se
teu nome ali, irreverente
no puro branco escrito
estendendo-se pelo chão
forte em intensidade
grande em dimensão
abençoado pelo mar
salgado, virtuoso, imponente
colossal, te senti, liberdade.

solidão de solitário

meu peito consumiu-se
só, amargurado de solidão
quis-se abandonado
despojado de companhia, sonhada
dia após dia.
em cinzas, árido, meu peito ardido
brasão do sentido perdido
do seco, do amargo
meus olhos, gelaram
meu pensamento, empederniu
meu coração, ficou carvão
meu bom, aos poucos, sumiu.
sou deserto, humano, tição
ardida que foi, minha emoção.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

entrega ao livro

vi-me encantado
viajava na página dum livro
que me pousara na mão
suave..., em comunhão.
passeou-me o pensamento
alimentou-me o coração
expôs-me, contando de si
a história que acolhera
a qual tomou sentido
alcançou vigor e expressão
quando me entreguei, ao livro
pela imaginação.

saudade pura

ouvi tua voz
clara, límpida, segredando
senti teu sopro
quente de palavras boas, gostosas
adoçando meu ouvido, guloso
gostoso, teu odor
minha flor
de longe me acenavas
pequenina que estavas
cerrei meus olhos
vi-te, gotícula de gente
sentido forte, ausente

saudade pura, eu sei
apesar da certeza
que te entregarás a mim
no primeiro olhar, logo
eu sei.

alma gémea

se minha alma for perdida
solta a tua por favor
de amor se tomarão
com o mesmo desejo
com que aperto tua mão.

obsessão pela escrita

sério, de nada me importaria
se a loucura me invadisse
me soltasse as palavras
me libertasse ideias e emoções
fazendo-as brotadas, fluentes
arranjadas e ordenadas
segundo a lei do espontâneo.
sabe-me velho o que penso
e o que escrevo, já o escrevi
algures, numa página da vida
que liberto ao tempo...
consome-me esta obsessão pela escrita
que hei de fazer?
esta paixão de escrever...
por ela vivo e por ela me faço viver.

pensamento

amigo ódio tens-me visitado
acompanhado da tua amiga raiva
que par... tanta emoção
tem-me feito mal ao coração.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

ânsia

quanto falta para passar este desconforto
que não me deixa estar bem
quanto falta?
para passar este empedrado
que me deixa o peito dorido
de tão amassado, macerado
de deveres, angústias
formas de morte
mortificações de vida.
quanto falta para sentir o sol nascer
quanto falta
para eu ser eu, arejado?
pergunto-me...

sábado

doces dias aqueles
que esta manhã abarca
tomando-os no regaço
embalando-os
porque os quer amados
muito amados.
a manhã fez-se linda
dela cresceu um dia bom.

domingo, 9 de setembro de 2012

folha de outono

pingou uma folha
depois outra e mais uma
folhas pingando do céu
como danças coreografadas
por fadas e bailarinas
rodam em piruetas
em trajetos ondulantes
como cornucópias dançantes
movimentos de menina.

chegou o outono

chegou o outono
doce como sempre
persistentemente suave
tal como o vento
que agilmente despe as árvores
sabedoria, diria.
chegou o outono
anunciou-se no meu jardim
deu-lhe um toque dourado
castanho e avermelhado
realçando mais o colorido
daquelas flores
que escolheram este outono
para se exporem aos amores.
chegou o outono
revelou-me o banco do meu jardim
sinto que quer que o aproveite
que o veja bonito e o enfeite
de folhas caídas, de outono coloridas
e que nele eu me sente
aproveitando os dois
o sol de outono
dourado e ainda quente.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

ao poeta

esse deus que trazes em ti
poema de um momento
floresce-te da alma
evade-se de ti
pelo vigor do teu olhar
pela força das tuas palavras
pela estética moral
só possível encontrar na poesia.

li um poeta

li um poeta do sonho, do horizonte
onde convivem a paixão e a liberdade.

li um poeta das palavras, soltas no vento
livres no colorido, lindas no sentido.

li um poeta emocionado, intenso
entrega a alma no poema e a vida no tema.

li um poeta amigo, algo de irmão
entendi a razão de uma certa intimidade.

em setembro

no quente de setembro
final de verão
agarramos 5 estrelas
tantas quantas cabem na mão
escolhemo-las no firmamento
de luar bem luarento
onde eram todas belas
ficamos perdidos, de vê-las
reluzentes, cintilantes
diamantes de presente
se ofereceram, uma a cada dedo
e 5 nos cairam na mão
no final do verão
em setembro, ainda quente.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

aliança

a intuição é discreta. insinua-se, segreda, agindo mais pelo implícito que pelo manifesto.

segredou-se um certa intuição, aquela que tantas vezes ignorei, que há noites em que as estrelas se aperaltam para, reluzentes, se passearem no firmamento, como transeuntes domingueiros, com o doce intento de se fazerem notar.

essas noites ficam iluminadas, alegres, pejadas de pontos luminescentes que da terra miramos inexplicavelmente radiantes, felizes, de corações palpitantes e quentes, enquanto procuramos uma mão e um olhar para nos acompanhar.

abrindo a mão para o céu, cada um dos dedos se alinhará com uma estrela, cumprindo-se o intento de todas elas: criar laços para a eternidade.

assim se faz a aliança entre o céu e a terra.

grito de uma gaivota

ouvi a minha voz
no grito de uma gaivota
aquele tom desafinado
entre o grito e o berrado
arrepiou-me, a melodia
que senti, visceralmente
o conteúdo foi-me indistinto
e parco de entendimento
como lamento...

escrita sem tema

treta na gaveta
perdido no vidro
olhar na janela
pensamento na bela
adormecida na cama
cheirando quem ama
obsessão de alma
letra a letra acalma
fogo ardente
sabor a mar
pensamento a viajar
explorador de mundos
vidas sonhadas
vividas, esquecidas, lembradas
brisa amena
aragem marinha
onda serena
magia de vida, varinha
condão de vida, viver
ciência do ser
humano, vivo, pensante
certo, errado e errante
inventor da utopia
da razão e da paixão
lenga-lenga fluindo
no ritmo do coração
tão fluente no sentido
como etérea na razão.

palavrear

porque é mais fácil:

pronunciar cortina que descortinar
criar problema que desproblematizar
ver catástrofe que descatastrofizar
ou
pronunciar problema que desproblematizar
criar catástrofe que descatastrofizar
ver cortina que descortinar
ou
pronunciar catástrofe que descatastrofizar
criar cortina que descortinar
ver problema que desproblematizar...

respire-se fundo antes de falar.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

destino

o que a vida tem para mim
o que me está destinado
não procuro saber
prefiro-o bem guardado
porque a vida só interessa
enquanto for uma surpresa
que faça desalinhado
o princípio, do fim
e nas curvas do desalinho
dermos por encontrado
do viver, o prazer
e da vida, o seu tino.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

desconhecida

passou por mim
desinteressada
vendo em mim
um qualquer
passeava, andarolava
ousando
seu corpo de mulher.

teu olhar

guardei-te o olhar
onde não o podes tirar
pelo absurdo temor
que me pudesse escapar
que me fosse roubado
que me ficasse distante
que se tornasse ausente
ou se quedasse diferente
que eu não o consiga ler
ou não o saiba interpretar
tal a ânsia de amor
tão desusado este amar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

magia

onde céu e terra se unem
e se tocam por um momento
ficam os jardins estrelados
e florido o firmamento.

sangramento

ao pé, tenho um café
em mim, a ânsia de escrever
no ar, uma música do momento
ao fundo, vozes soltas
na consciência, pesa o atraso
no cumprimento de um dever
sobrepõe-se a ânsia
sangra-me um poema
hemorrágico, incontido
relaxo quando, letra a letra,
alinho um sentido
a que dou significado.
assim...
minha alma luta para viver.

reencontro

perdi-me do amor
perdi-me do corpo
perdi-me da alma
perdi-me da paz
perdi-me de mim
perdi-me de todo
foi então, que tudo
veio até mim.

retorno

cheguei desejando partir
ou não estar, podia
simplesmente não ser
a chegada mais odiada
a maldição do dia.

domingo, 2 de setembro de 2012

ombro do meu amor

chegou-se-me o ombro
desafiador
pediu-me beijos quentes
pediu-me amor
trocava por calor
de ombro quente
carente de amor
fez-se doce delicado
pele de anjo, macio
e tornou-se desejado
quente e fresco no sabor
fi-lo meu, aconchegado
dei-lhe um beijo
o meu melhor
e deixei-me apaixonado
repousar no ombro
doce do meu amor.

patxi andion

hoje ouvi patxi andion
voz grave, quente e meiga
forte de emoção
senti-me adolescente
desejando, suplicando sentir
que me rasgassem o coração
... viciado na comoção
crente que a força vem de dentro
de algo a que chamei peito
mas que poderia ser a alma
como lhe chamo agora
que tenho a vida mais calma.
ouvi patxi andion
foi bom, sentir adolescente
fumegar a alma quente.

cheguei

cheguei, onde deveria estar
cheguei, que bom chegar
cheguei, sabe bem
saber que quero estar aqui,
cheguei, nem quero repousar
apetece-me mesmo... estar, assim
bem chegado ao meu jardim.

sábado, 1 de setembro de 2012

sonho

entre a noite velha
já cansada de o ser
e a manhã menina
pronta para romper
beijei-te num sonho
sonhei-te num beijo
dei azo ao desejo
fechei meus olhos
senti nos dedos
as linhas do teu corpo
lindo de mulher.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

meu sonho

na sombra de uma gaivota
partiu meu sonho
além do mar, onde caiu
e debandou na espuma das ondas
a mesma que salpicou rochedos
e me aspergiu o corpo
abençoando-me, refrescando-me
como o sabor de mar.

e o mar, longo amigo
fez-se onda
enrolou-se na areia
rebolando a meus pés
entregou-me o sonho
que tomou no colo
caído da sombra
de uma gaivota.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

corpo infinito

teu corpo
sentido de céu
onde me abraço
e fico pingente na forma de gente
balanço de dança, ondeando
serpenteando pelas estrelas
fragrâncias mil, de luares cheios de lua.
teu corpo
quente de verão em noite estrelada
fresco de brisa morna de mar
sereia e fada, me encantou
num doce canto de embalar.
teu corpo
terra de além, infinito em forma de porta
nele navego, me perco e me encontro
sonho e acordo, sinto o sol
e nada mais importa.

a graça da saudade

tenho uma vida cheia
pela saudade que alimento
na tua presença
e me deixa adormecer
de pensamento abraçado
à emoção
que me chega com teu olhar.
gracioso sentimento...

arte de vida

vida não é uma luta
é arte do entendimento
aliança, de várias facetas
discernimento
para ser vivida, a vida
precisa da paz, calma
gerada na confiança
vida de luta é briga interior
sem paz nem ideais
os únicos porque vale a pena lutar
em paz.

poesia

a poesia sente-se
e o sentido está na alma
pouco importa se a escreve ou se a lê
o colorido está no peito
toca-se com pudor
pega-se com carinho
escreve-se com paixão
e lê-se com emoção
para que serve o pensamento?
para dar forma de texto
ao mais profundo sentimento.

sábado, 25 de agosto de 2012

viagem no vento

vem vento, partirei contigo
até onde o desejo da invisibilidade me levar
enquanto tua frescura me sossegar
e a nudez que me infliges for o meu estado
natural de pensar, de sentir e de amar.
vem vento, voarei sem asas
viajarei nas brisas que me enlaças
tocarei nas nuvens que penetrarei, sonhando
geraremos intimidade
ensinar-me-ás a melodia do tempo
compassadamente batida 
pelo balançar das árvores, pendular das flores
e dançada por folhas de um outono
ondulantes movimentos,
valsa de amantes encantados.
vem vento, visitaremos tempestades
arrastaremos montanhas
e faremos maiores façanhas
onde buscaremos a bonança
soprarás o rosto duma criança
agradecida, mirar-te-á no horizonte, eterno
e desenhar-te-á no caderno.


bailado de ancas

lá,
onde minhas mãos descansam
tuas ancas bailam
ao som de um beijo
insinuantes de amor
bamboleiam, saracoteiam
balançam, pedindo, maneiam
que lhes leia o desejo
fogo ardente, doce calor
com que me afagas
com teu ventre
perfumado do teu odor.
e minhas mãos descansam
suadas
lá...

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

mar

mar
onomatopeia de ti mesmo
tem a infinitude
de mãe e de amar
tem a intemporalidade
da juventude.

mar
cheguei, andei
e quando parti
pronunciava teu nome
de um só fôlego
sem respirar.

passeando à beira-mar

confiaste em mim
deixaste-me estar
com meus pensamentos
partiram, voltaram
nem sei por onde andaram
acho que mergulharam
andaram na areia molhada
em jeito de par
ora abraçados
ora de mão dada
passeando à beira-mar.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

pensamento

chegam-me, penduradas na melodia
da música que me acompanha esta noite
recordações, que mal vislumbro
e que decifro com esforço
para manter vivo meu passado
dar-lhe o sentido de uma epopeia
que valeu a pena, teve sentido.

domingo, 19 de agosto de 2012

pensamento

a vida criou-me, habituada a poucas palavras.
pela poesia tornei-me extravagante em emoções
e amplo, intenso e profundo nos sentimentos
em poucas palavras.

dia

escrevo sobre um dia, quando não distinguia
o sentido do fresco, do frio aborrecido
a brisa amena, da incómoda ventania
o chilrear dos passarinhos, do estrebuchar da passarada
as nuvens fofas do dia, do céu escurecido
e os gritos das crianças, do berros da criançada.
perguntei a deus, o que tinha aquele dia
que, sobranceiro, respondeu
a respeito do meu dia, quem saberá tudo sou eu.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

ausência

conheci a ausência, tua
trouxe-me o odor latejante, teu
o sabor escarlate de bom
do carinho nascido de beijo, teu
feito na ternura, tua
deixou-me o olhar, teu
aconchego onde me pacifico
consolo fecundo, meu
para a saudade que sinto, eu
pela ausência que é tua.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

luar

nossos corpos aconchegados
nus, doces, salgados
trazem ciúmes às estrelas
fazem-se brilhantes
em céus estrelados
luares iluminados
desejando
que toquem nelas.
de corpos consolados
de olhos fechados
ao som do embalo
ficamos a vê-las.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

pés enamorados

os nossos pés
que temos nos pés?
consolo de pele
meiguice de corpo
toque de prazer
de toque em toque
a saudade atenua
e damos os pés
em forma de jura
depois outro toque
que é mais um abraço.
que temos nos pés?
conforto de amor
e calor de paixão.

amantes

e se,
ao sol faltar o dia para brilhar
às aves falhar o vento para voar
a lua não tiver noite para luar
a nuvem ficar sem céu para estar
aos corações fugir o peito onde pulsar
...
os amantes dar-se-ão pelas almas
porque não podem deixar de se amar.

domingo, 12 de agosto de 2012

som de flauta

cantaria a vida no som de uma flauta
se assim o pudesse
porque a gosto simples
com voz de pássaro
e melodia de alma
sopro de vida
tocado pela ponta dos dedos.

ócio

tudo o que sinto é ócio
dormente de ensonado
desperto suficiente
para que veja o horizonte
pelo colorido, manchado
de formas indistintas.
sabe bem olhar e não ver
e quando fecho os olhos
vejo o que mais ninguém vê
e não olho...

sábado, 11 de agosto de 2012

voo de alma

voou-me a alma
rasando o desejo de estar contigo
sobre as linhas que em teu corpo
fluentemente se curvam
fruindo formas e gestos
cruzando a harmonia com o sensual.

voou-me a alma
encantada, foi-se com o teu olhar
além da distância, viajou
onde sonho se faz das memórias
que temos e das que faremos
ao luar, em carícias trocadas. 

voou-me a alma
radiante, encontrou-se em ti
agraudou-se por ti, escolheu-te
afeiçoada à melodia dos teus dias
sobre ti paira como o anjo da guarda
apaixonado, que deseja ser amado.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

pensamento

ontem passei o dia contigo sem que pronunciássemos uma só palavra.
tanto que eu aprendi com a cumplicidade do nosso silêncio...

rima perfeita ou confissão de jardineiro

sabes flor,
que o teu estado de graça permanente
é a razão de ser da tua existência?
em ti nos olhamos
por ti nos vemos, colorimos e perfumamos
e ainda te usamos
para exprimires por nós, o melhor de nós
o apreço, o carinho e o amor.
sim flor...
o nosso amor
por ti amamos, também.
o que inspiramos de ti
é muito mais que o teu perfume
a tua cor, o teu toque ou as tuas linhas
é a profundidade da tua harmonia
que patenteias na forma e cor que semeias no jardim
a graciosidade com que celebras a fecundidade
para, de imediato, te dedicares ao dever da criação
bem menos exuberante
mas igualmente belo, intenso e perfumado
sem que se saiba porquê.
é flor,
é um milagre de amor
um milagre da natureza
ou a natureza da flor
a mesma que criou o amor.
já reparaste flor,
que és a rima perfeita para amor?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

saudade

são da praia as ondas que chegam
preguiçam e partem de maré em maré
contam-me o tempo da tua ausência
deixam-me a dor da despedida

largo meu olhar no horizonte, perdido
distante, onde quer repousar
só, de si mesmo, além do mar
onde vão as ondas, de maré em maré

terça-feira, 7 de agosto de 2012

pensamento

a alma do nosso amor
fez-se de pétalas de rosa branca
tal é a pureza
que lhe define a natureza.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012