sexta-feira, 29 de junho de 2012

concentração

meu corpo afastou-se
manteve-se à vista
dirigiu-se uma fonte
lavou as mãos
molhou a fronte
colheu o fresco
refrescou-me, o pensamento.

teus olhos

não deixarei teus olhos fugir
são meus, não poderão partir
porque os olho, os sinto e os entendo
porque um dia, por eles, me declaraste amado
e te entregaste a mim, por eles
se os quiseres de volta não tos poderei devolver
a força do deu olhar impregnou-se ao meu
e para onde quer que eu olhe
avisto-os a reluzir
por isso são meus e não os deixo partir.

tédio

há dias sem chuva
há dias sem vento
há dias sem sol
há dias que lamento
por não ter chovido
o sol ter fugido
e o dia ser lento
sem vento soprando
que o obrigue a passar,
navegando sem tempo,
correndo, parando
para descansar.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

tuas carícias

conto os segundos que passam
nos pulos de um coração
contei as tuas carícias
não me couberam na mão.

pus o meu corpo a jeito
para as poder abarcar
alheei-me, meu defeito
não as consegui contar.

dia de chuva

deixa-me chover
o tempo de um dia passado
preciso reviver
o bom desse tempo
que tanto aprecio
de tão confortado.

deixa-me chover
chover e ventar até trovejar
trago raios e tochas a arder
luzes de memórias
criadas de mim
que não quero apagar.

deixa-me chover
preciso da paz do piso molhado
enxaguar o gemer
chapinar meus pés
encontrar na chuva
o sabor salgado.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

pensamento

sinto-me como um pião.
repito-me, rodando, circulando, cumprindo o mesmo trajeto com o mesmo movimento.
a física prova-me que cada ação é distinta e que nunca se repete.
mas ninguém nota..., nem eu..., nem o pião... e não interessa ao menino que lhe pega na mão.

terça-feira, 26 de junho de 2012

minha janela

da minha janela
vejo o mundo
corre, espera, desolado
agressivo, solidário
compulsivo, alheado
doce, sarapintado
ancião apaixonado.

da minha janela
vejo o mundo
que me olha como dela
sabendo estar predestinado
haver quem olhe pela janela
e comente a vida do mundo
como se não estivesse nela.

beijo de mãe

minha mãe
deu-me um beijo
afagou-me num abraço
chamou-me seu menino
curou-me as mágoas
curou-me a dor
beijo abençoado
fez-me bom, fez-me amado
reconhecido, fiquei bem
o resto não interessa
tenho um beijo
que me deu a minha mãe.

a resolução

pai, e agora?
que fazemos com o tempo?
aquele que perdemos
ou que gastamos
demonstrando quem estava certo
ganhei eu, ganhaste tu
ficamos cheios de razão
e de tempo perdido
agora aproveitamos cada bocadito
foi isso que resolvemos
fazer com o tempo.

ócio

toca o sino
assinalando o divino
que tem o tempo.
batem as badaladas
uma a uma, bem contadas
marcando passo ao pensamento
para que se ausente
por um momento
se afaste, deambule
e regresse bem arejado
livre do bafio bolorento
em que meu dia
corre, passa, lento.

diário

encontro-te, mais uma vez
disponível.
paciente, compreendes
o peso e a forma das palavras
ouves-me.
apático, ativas-me
para a profundidade da escrita
refletes-me
sem procurares perceber-me
apreendo o que escrevo
entendo-me, sei o que sinto.
nesse instante
vejo-te sorrindo
mudo e quedo
feliz
discretamente bom
é esse o teu dom.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

cheguei

cheguei
onde a inteligência sente
com emoção. é bom
aqui me desvelo
para encontrar o belo
pelo prazer da beleza
aqui encontro a felicidade
que sei morar no desejo
de desejar ser feliz.

calafrio

pegaste-me ao colo, disseste
pelo escrito que amimaste
num longo beijo
bem sentido
senti-me frio
quente, suado
gelado
senti-me doce
senti-me bom
senti o teu amor
senti a tua admiração.

íntimo

orei ao mar, parece-me
disse-lhe que me sentia bem, ali
o mar vociferou
murmurando...

domingo, 24 de junho de 2012

jantar a dois

estavam os dois
jantavam, parecia
ela, distante, tal como seu olhar
perdido na mesa
ele, empenhado no que fazia
murmurava, comia, escrevia
ela, voltou-lhe o corpo
aconchegando a mão entre pernas
ato de conforto, sem malícia
de olhar perdido na mesa
ele, continua, fala, gesticula
entre garfadas, sms e colheradas
ela, resignada, carente
inclinou a cabeça
bebericando sem tento
um sumo, indiferente
perdida, de olhar sobre a mesa
ele, entregou-se ao sundae
e convive com o telemóvel
ela, murmura
de olhar perdido, na mesma mesa
ele, está lá mas perdeu-a
porque ela encontra-se algures
naquele olhar perdido numa mesa.

sábado, 23 de junho de 2012

doce qb

achei-me doce
tão doce
que temi ser enjoativo
temi a minha doçura
mas amo-a
desejo-a
quero-a
perpetuo-a
porque é minha
porque é a minha forma de ser
de amar até não poder mais
de amar sem esquecer
que tu existes
que eles existem
que vos amo
quero ser-vos doce
sem vos enjoar
sem ser enjoativo.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

sonhando as palavras

quero ver de olhos fechados
quero enxergar
o que a luz deixa esconder
a cor dos sentimentos
nas palavras enleados
como laços bem cingidos
quero-as livres e soltas
para que as sinta
perfumadas, coloridas
passeando-se
a meus olhos bem cerrados
para que não percam nada.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

com a nuvem

nuvem redonda, arredondada
rufada
fofa de almofada
fada
magia linda
de maga
que tens para me contar?
dragão, anjo
monstro, doce
algodão...
foi bom
tua imaginação
de nuvem talhada de fada.

intimidade


procuramo-nos em intimidade
olhamo-nos, examinando-nos
tocamo-nos levemente
apertamo-nos num abraço
partilhamo-nos até à cumplicidade
penetramo-nos fundo, bem fundo
onde o olhar se desfoca
onde a alma nos comanda
desvendamo-nos as mentiras
sem vergonha
entendemo-nos
arrependemo-nos, surpreendidos
confiamos e sorrimos
levitamos, elevamos os olhos
agora puros no olhar
límpidos de luz
não se afastam, nem se escondem
procuram-se, por amor, sem sexo
ou talvez não
mas já não precisamos dele
para sermos íntimos.

terça-feira, 19 de junho de 2012

meu ombro

tenho um ombro
onde repousas a cabeça
e gostas, quando te encostas.

tenho um ombro
onde depositas um sorriso
que preciso, quando te encostas.

tenho um ombro
onde escondes a lágrima
teimosa, quando te encostas.

tenho um ombro
feito para namorar
é teu, quando te encostas.

tenho um ombro
que te gosta presa em meu braço
rejubila, quando te encostas.

metamorfose

a saudade que te ficou
cresceu, desenvolveu-se
tornou-se-te maior que a vida
ficou forte, entranhou-se-te
nos dias e seus tempos.
inconscientes, teus gestos
exibem memórias
coreografias ressurgidas
olhares vistos noutros olhos.
as almas gémeas fundiram-se
pelo amor
numa alma maior.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

dah!

pensar ao contrário
maluqueira de maluco?
genialidade de génio?
anormal, em qualquer dos casos.
uma pergunta: hã?
uma resposta: dah!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

pensamento

porque somos sempre melhores a opinar sobre a vida de outrém que a decidir sobre a nossa?
a vida dos outros nunca a sentimos na plenitude e só lhe vemos uma parcela, sempre pequena, ao passo que estamos comprometidos com a nossa vida que, por sua vez, se define como uma teia de compromissos.

pensamento

ao vivermos, repartirmo-nos aos poucos pelos que encontramos.
por isso, precisamos encher-nos e preencher-nos, criar-nos e recriar-nos, isto é, desenvolvermo-nos para não ficarmos secos, sem nada para dar e incapazes de receber.

amizade

a amizade por definição
é o milagre de uma troca
de emoção, de afecto
um sentimento em construção
feito de dádiva, sem devolução.
há um pedaço de nós
que confiamos
a cada afeição
jamais o recuperamos
e quando recebemos,
é impossível devolvermos
é o ADN daquela amizade
que se parecer ruir
como se se fosse destruir
acredite-se, não é verdade
só ficou transformada
por ser feita de gente
nunca se reduz a nada.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

saudade de menino

vi uma foto e correu-me no corpo uma saudade...
soou tão estranho como forte, o desejo
de correr para aquele lugar naquele momento
como não pude, tive de expressar um olá com gestos, voz, sorriso e olhar
tão amigável, carinhoso e meigo quanto consegui.
havia um poema impresso que reli
como uma oração, sentida e venerada
ao amor mais puro e genuíno:
o de uma mãe e do seu menino.

busca

procuro algo
que sempre encontro
satisfaz-me
esse indistinto
que defino
em cada encontro.
descubro, descobrindo-me
inovo, renovando-me
desvendo, desvendando-me
pelos algos
que encontro
exercício mágico
de descobertas
desconcertantes, triviais
bizantinices, até
facetas de uma vida
facetada
que julgava não ter faces
por ser arredondada.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

amor de poeta

por vezes fere-me o modo como te lêem
corrido, correndo, sem respirar
repousando fora do compasso
e ficam cansados
e tu tornas-te um mero escrito
sem ar nem amplitude
abafado no sentido
no sentimento e sem emoção.
dou-me conta que a mudança de linha
que planeei
a virgula que ali coloquei
o ponto em que me esmerei
não impõem o ritmo
aquele em que foste sonhado, gerado
o pensamento foge
e não repousa nas palavras
meticulosamente escolhidas
inspiradas na alma
no mais inconsciente de mim
lugar onde foste criado.
desculpa-me escrito
não saber expor a intuição
com que te escrevi
torná-la visível ao leitor.

por vezes, ainda, quando te escrevo
sonho-te, na relação com quem te lê
e segredo instruções sussurradas:
inspire-se no seu ritmo,
respire e tome balanço,
acelere, acelere...
agora pare, inspire...
dedique tempo a essa ideia
saboreie-a,
espraie-se na doçura das palavras
são suas, adocei-as para si
sinta o sabor dos "s" e dos "ç"
sinta o conforto
arranque, despedindo-se, suavemente
aproveite essa virgula
e abrace o que nos preparei
essa lágrima sua, é nossa
precisa mesmo de se soltar
por isso a escrevi
sente o calafrio percorrendo a espinha?
estranho, realça o seu lado humano
por isso esboça esse sorriso.
feche os olhos... e sonhe
o que leu, agora é seu.

terça-feira, 12 de junho de 2012

comentário

parece que encontrei uma nova linha
algo que julgava perdido algures no início da adultez.
ontem e hoje senti-me cáustico,
como nas recordações que tenho daquele tempo.
soube-me bem!
e escrevi.

desconforto

era uma vez... um desempregado
entrou para uma bica
ouviu que outros como ele
eram subsidiados, preguiçosos
eram oportunistas
sorriu-se, invejado
na sorte que tinha
"não produzia e era pago"
pediu trabalho
riram-se da ignorância
que arrogância
"procure no centro de emprego".

segunda-feira, 11 de junho de 2012

sorte sem sorte

a sorte bateu-lhe à porta
mandou-a entrar
não a reconheceu.
recebeu-a bem
ofereceu-lhe um café
aprendera a ser amigável
falaram do tempo
falaram do resto
contou-lhe o dia
a semana e a vida
e soube, a sorte
que nunca fora admitida.
cortesmente se despediram
e a sorte partiu
convencida
que ali não seria reconhecida.

sem desejos

hoje não tenho desejos
para o mundo, para a vida
hoje quero que tudo aconteça
como é suposto suceder
hoje sinto-me inspirado
hoje saberei viver.

janela colorida

chegou minha janela
aberta à luz do dia
cheia de maresia
fresca, quente
salgada, sagrada
onde me posso debruçar
só para ver
o mundo acontecer
num sorriso colorido
saído para encobrir
o que explode num peito
e os pinotes dum coração
tonto de tanta paixão.

beijo de avó

quando o ânimo nos falta
e o mundo grita para desistirmos
os olhos caem no desalento
e a voz repete-se no lamento
os pensamentos ficam ensarilhados
em novelos enrodilhados
de ideias feias
sobre o que a vida oferece
e tudo em nós padece
então, diga-se NÃO!
com a fúria de um trovão
a tempestade esvai-se
e a bonança regressa
bom cheiro a terra molhada
vida inspirada de fresco
ar  bafejado dum beijo
de avó grande e feliz
pela atitude da sua petiz.

domingo, 10 de junho de 2012

teu pedido

pediste-me a companhia
se me levar a primavera
se me perder nas ondas do mar
se partir na maresia
se os pássaros me levarem o pensamento.
sabes que em meu intento
procuro a poesia
da qual me és o mote
de onde me brota o poema.

sábado, 9 de junho de 2012

leva-me primavera

leva-me primavera
para o sitio onde pertences
onde o ar nasce fresco
e onde o sol que ilumina
se inspirira
no orvalho e nas flores
onde o azul casa com verde
onde há perfumes
tão originais quanto extasiantes...
leva-me primavera
para o sítio onde os pássaros
aprendem a cantar
onde os amantes
se entregam confiantes
onde as trovoadas
combinam com a paisagem.
leva-me primavera
para aquele lugar
onde a vida se recria
em harmonia exuberante, atributo
de quem ama e cria a vida
de quem vive a vida que ama.

primavera

amiga primavera,
todos os anos chegas
em cada ano partes
só para poderes regressar
e nos encontrarmos.

pássaros

pássaros, preciso dum favor
levai-me o pensamento
alto bem alto
para que saiba o que é voar
sentai-o num galho
para aí descansar
cantai-lhe um sentimento
para que se emocione
mostrai-lhe o vosso ninho
para que conheça o amor.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

olhos de encantamento

de tudo o que me encanta
não sei escolher a maior, a melhor
somente sei que é bom, e chega-me.
nos dias em que me perco
por não ter com que me encantar
liberto os olhos, deixo-os repousar
no que encontram
e espero que o coração em bata
com um toque de mansinho
dizendo-me para onde olhar
então, solto o sonho e deixo-o sonhar.
ao ver o mundo com olhos de encantamento
eu fico melhor
e o mundo fica mais ternurento.

renascer

quero nascer por amor
gerado
em seio apaixonado
quente e aconchegante
com carícia de mãe
quando afaga o ventre.
quero nascer por amor
para sentir maior e intenso
impregnar as palavras
de força e sentido
imenso
vasto como o mar.
quero nascer por amor
para amar pelo poema
ter a vida como tema
e a paixão como lema
e quando tiver conseguido
a virtude de renascer
que me seja concedido
o dom de escrever.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

pensamento (fresco)

abram as janelas para que o ar fresco entre e obrigue o mofo sair.
o quentinho do ar viciado é um conforto viciante com fungos, bolores e outros males.
pode-se desodorizar.
mas não se pode ter frescura sem sentir o fresco.

terça-feira, 5 de junho de 2012

amigo corpulento

tenho um amigo corpulento
de carinho tamanho.
admiro-lhe
a ingenuidade de menino
como fala às crianças
enleva-me
o fascínio da petizada
escutando-lhe
o conforto da voz
a meiguice
que canta nas palavras.
partilha-se no silêncio
de atos e gestos redondos
longos de generosidade.
sei que um dia o coração
lhe saltará da boca
agora
cresce no peito
pulsa-lhe na voz, nos feitos
e nas meninas dos olhos.
nesse dia quero estar por perto.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

pensamento (de padrinho!)

chega um dia em que, por vermos a obra de um alguém, lhe damos  o valor que realmente tem.
acontece que a imagem do quotidiano, não nos deixa ver além de um agora emoldurado por um algures no passado.

amado

bem amado, mal amado
sendo mais que um estado
sendo um modo de estar
o primeiro faz-se feliz
o outro, difícil amar.

aquele beijo

anda comigo
aquele beijo
que na manhã de hoje
não te entreguei.
teima em encontrar-te.

sábado, 2 de junho de 2012

pensamento

Deus fez-se criança.
não sei bem porquê.
talvez para ensinar o valor da ingenuidade.
passaram 2000 anos e os homens ainda a consideram um defeito.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

vida

as memórias de um dia
são nossas
são, também, daquele momento
onde estivemos
ao qual pertencemos
tal como ele
nos pertence a nós.

dia

olhei o dia
corri para ele
abraçamo-nos forte
tão intensamente
nunca esqueceremos
aquele momento.

pureza

gotinha de orvalho
mata-me a sede
molha-me os lábios
lava-me a boca
fica-me no peito
para que eu saiba
como é a limpidez.