terça-feira, 31 de julho de 2012

partilhança

partilhar-nos-emos
quando soubermos
como sentir a partilha
quando entendermos que unidade
não é metade mais metade
quando soubermos
que não somos um
e que não somos dois.
partilhar-nos-emos, então
e teremos um sorriso
e uma felicidade
e um amor
em dois corpos
unidos numa só alma
de mão apertada na mão.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

superlativo

andei à chuva
molhei-me na espuma do mar
dancei na copa das árvores
rebolei em jardins coloridos
pulei de nuvem em nuvem
balancei-me nos raios de sol.
assim se me fez sentido
aquele abraço despido
com que te vieste entregar
na surpresa do dia.

amor

quis amá-la e fi-lo
amei-a mais e mais
mais que a mim mesmo
desejei até
que existisse em mim
e, se quisesse, por mim
que amor crescente, sem fim.
não tem mais por onde amar
quem deseja amar assim.

acordar

manhã bonita, preferida minha
despertaste-me para o dia
igual a outro qualquer
só que mais venturoso
porque mo fizeste querer.

toquei-o na ponta dos dedos
quis que pudesse voar
cheguei-lhe de leve os lábios
amei-o com tudo o que pude
e ele deixou-se amar.

foste tu manhã bonita
que me encontraste num sonho
onde eras a preferida
me sopraste no rosto
me despertaste p'rá vida.

pensamento

o tempo de viver não se conta em dias e os dias felizes não se vivem em tempo.
são de paz, podem ser de alegria e sucedem-se dia a dia, haja o tempo que houver.
quem vive da conta dos dias, medindo o tempo que cada um tiver, deixa passar a vida, passa o tempo a correr, sente o vazio de tudo e, se tiver sorte, também se sente morrer.

mágoa

porque me dás o que não preciso?
porque insistes lembrar-me o que te dói?
porque te esforças em mostrar-me o tamanho da tua dor
demonstrando que é infinitamente maior que a minha?
porque desejas sobrepor-te ao que sinto?
porque definhas quando o centro não te está destinado?
porque entras em pânico
quando não lês no meu olhar os teus desejos?
porque soltas a tua ânsia e nos sufocas?
porque te isolas de medo sem vida?
podias guardar teu sorriso e teu olhar
porque por eles te farás feliz.

sedução da morte

doce,
doce faz-se a morte
nasce
devagarinho, nas veias
em cada suspiro, pulsação
cresce
em doce aproximação
sem sinistro
instala-se lentamente
ronceiramente
faz-se desejada
aparece
provocante, também
na forma de poesia
faz-se chamar além.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

bucólico amanhecer

orvalho chegado do céu
límpido, cristalino
brilhando na flor
maduro, pronto a cair.
as árvores espreguiçam-se
ajeitam as sombras
no amanhecer.
erva fresca, cortada
por dentes famintos de frescura.
as vozes ao longe
comunicam
parecem cantar.
os passos sucedem-se
uns pulam, outros caminham.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

errante

aos poucos a vida sumiu, fugiu?
estranho, vislumbrei o horizonte
tão longe, tão longo
o que encontrei nem parecia meu
a vida vazia, perdida, arredada,
longe de tudo perto de nada,
sem que agarrar e sem mão para dar.
ofereci-lhe meu braço, cedi-lhe meu ombro
e a vida, então me gritou:
- NÂO!
a vida não partiu
também não fugiu e ali não ficou
anda por aí, onde sempre andou.

a nossa epopeia

a nossa epopeia de feitos extremos
tem grandes actos de gestos pequenos
doces e ternos, que os faz eternos
preciso uma vida para contar
uma troca de olhar
um sorriso curto, disfarçado
num dia atarefado
o que há de quente
num toque fervente, trocado
e como se lê um ar furibundo
de algo horrível que temos bem fundo.
a nossa epopeia...
fez-se em lua cheia, luzente, pungente
num quarto crescente
e foi lua nova e foi minguante
e de lua em lua se fez estação
outono, inverno, primavera, verão
e em cada uma delas
a nossa epopeia teve lua cheia
gestos pequenos e olhares eternos.
na nossa epopeia até a tristeza
de um dia bem triste
se fez feliz.

infinito

amote até ao infinito,
lá para o fim do mundo
onde no alto e no profundo
se escutam os ecos de amor;
onde o poente se faz nascente
e a lua se faz cheia
prenhe de luz e paixão;
onde  preto e o branco
são cores dum arco-íris, perfeito
tal como o que nos nasce no peito;
onde o fresco azul do céu
tem o aconchego terno de véu
para as nuvens dispersas ao vento
que se procuram em impulso lento.
nesse sítio bonito
baptizado de infinito
há uma fonte nascente
deste amor amado de gente
sem princípio nem fim.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

doce sentir

o doce bom
sente-se nos lábios
na língua e no coração
cruza-se no olhar
e por ser gostoso
saboreia-se
em ternas carícias
o agrado guloso.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

simbiose

as flores não morrerão
enquanto a frangrância dançar
e uma narina se encantar;
enquanto um olhar perdido
encontrar num jardim algo escondido;
enquanto o sol procurar
o colorido dum canteiro para brilhar;
enquanto um grande amor
se vir revelado por uma flor;
e se algum enquanto desaparecer
as flores não quererão viver.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

seria uma flor (2)

seria uma flor
se me colhesses o aroma
me desfolhasses
as pétalas uma a uma
então me desnudasses
desvendando-me os rubores
e o cálice de humores
para o teu pólen frutescer.

seria uma flor

seria uma flor
e as minhas pétalas
cair-te-iam no regaço
colorindo-te o olhar
de paixões confessadas
pelos toques macios
ternos carinhos, semeados
nas linhas do teu corpo.

assim

o que conheço de mim
é minguado, ficou perdido
jamais esquecido
jamais encontrado.
conhecido na perda
desconhecido de mim
em modo de advérbio
encontrei-me, assim.

saudade

conheci a saudade
feminina, elegante
chegou altiva, até confiante
doce no odor perfumado de frio
contacto terno e olhar vazio.
tocou-me as memórias
encontrou-me a ausência
ofereceu-me a dor
que eu aceitei, sem resistência.
tanto falámos de tempos idos
que sem amizade ficamos unidos
assim eu me fiz e ela cresceu
se ela partisse, eu não seria eu
sentiria a falta da saudade minha
não sendo amiga é boa vizinha.

dia santo

também era domingo
o dia em que nos confessamos
sem pecados de alma, partilhamos
consagrados num café
desejos e tentações,
alegrias e piadolas
convicções, oramos
profissões de fé
a uma vontade sagrada
de comungar.

manhãs de domingo

passeamos os olhos na janela
procurando, sem pressa, o horizonte
onde descansamos o olhar
e de vidas dadas, sonhamos
num depois,
o que só pode ser sonhado a dois.

terça-feira, 17 de julho de 2012

a tristeza

tinha a forma de uma sombra
a tristeza que se abateu
pela manhã de dias perdidos.
podia ser luz, podia ser cor
podia, até, ser fresca...
porém, era ausência
era treva, cinza e fria, penumbra
de um qualquer dia .

vi-a árvore
de folhas caindo
despedindo-se uma-a-uma
carregando a dúvida do regresso
na próxima estação.

via-a rio
parado na água
como um postal ilustrado
gasto, desbotado, queimado
onde as árvores não querem beber.

a tristeza ficou-se, só
sombra, de uma árvore
que, sem folhas
não bebe no rio, parado.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

entardecer 2

fiquei, como que sem saber o que fazia.
depois, lembrei-me que estava bafejado pelo momento
e que o entardecer apareceu
porque fora convidado.
então, pintei sobre esse estado.

inspiração

sabe a mar
a poesia que te brota
fresca, salgada
rica, abençoada
amena, encantadora
inspirada
como a brisa marinha
sabe amar.

sábado, 14 de julho de 2012

entardecer

escrevi, solto
em modo de cores, desta vez
igualmente intenso
como nas palavras, talvez
ziguezagueei
até entrar no momento
aí fiquei decidido, absorto
rabisquei, como sempre
gostei, parece-me
ainda sorrio
ao entardecer.

aquele abraço

abracei pelo prazer de abraçar
ali morava todo o meu desejo
de me entregar,
nele e por ele dediquei-me
àquele momento
que sem mais nada
se transformou em encantamento
magia de abraço
desejo de abraçar
que me agrada ter descoberto.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

ressaca

estou cansado, quase exausto
ontem amei muito, quase demais
intenso, o dia vivido de um só êxtase
arrebatamento de alma
feito paixão genuína.
quase sinto que não fui eu quem escreveu
algo em mim me possuiu
pela mão, pela alma
escreveu e fez-me arrebatado.
cansado, preciso de mais poesia.

brincando

corro como uma criança, ao vento
na folia de chegar longe
sentindo a aragem no rosto
desejando que corras atrás de mim
esperando que me apanhes
e que eu consiga fugir-te
jogando a apanhada
porque gosto de brincar.

obsessão

procuras-me...
todos os momentos
em todos os gestos
aí te encontro
eu, que no íntimo
inconsciente, talvez
me desperto para ti.

paixão louca
a deste namoro
que cresce com os dias
sem conta e medida
nos edifica, definindo-nos
pela indistinção
entre a escrita e o autor.

apoderaste-te de mim
banhaste-me de perfumes
coloridos de cores perfumadas
inundaste-me os sentidos
que embebedaste de prazer
de sonhar, de sentir
e de escrever.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

paixão de poeta

encontras-me sempre
são assim os amantes
embrenho-me no trabalho
e tu despontas
de entre os nadas
de entre os importantes
apareces na música
dançante
agarras-me a mão
para que te escreva
te descreva e sinta
o lado mais recôndito
de nós
apaixonámo-nos
poesia
obsessão de deus.

outra descoberta

... inspira-me a poesia
que em mim, vive aliada a ti.

descoberta

dei azo á emoção,
eventualmente à arte,
e, se assim for
à humanidade
na modesta medida
que me é permitida.

poesia

gosto quando fazes isso,
poesia do momento,
sentas-te no meu colo
encostas tua cabeça na minha
para que me inspire
para que te sinta
fervente, eterna
doce, emocionada.
sei que me odeias
quando não sinto nada
chegando esses tempos
afastas-te de mim
deixas-me em paz
esperas que te deseje
o que faço amiúde.
não sei viver sem ti
preciso-te tanto
mais que de mim.

dói-me

dói-me, este doer que não entendo
dói-me, este queixume sem fim
dói-me, este pensamento ingovernável
dói-me, este corpo disforme e desobediente
dói-me, este olhar gasto, puído
dói-me, o tempo que passa e o que falta
dói-me, a alma que descobri...
dói-me, a lágrima que te escorre do rosto
dói-me, a dor que sentes no peito.

terça-feira, 10 de julho de 2012

ansiedade

tamborilava os dedos na mesa
apressando o tempo
fazê-lo correr, andar
mexer, não parar.
tamborilava os dedos na mesa
porque não podia cessar
e o sorriso displicente, que soltei
mantendo-me calmo, sorridente
encobriu-me a insatisfação.

peregrinação

anda comigo
anda, vamos onde pudermos ir
sem caminho nem destino
chegaremos quando soubermos
onde queremos ficar.
anda comigo
pelo destino dos perdidos
que andam para se encontrar
e se encontram de tanto andar.
anda comigo
encontrar-te onde procuras algo
anda procurar-te.

êxtase

abre teu coração e sente
essa emoção pungente.
abre teus olhos e vê
a vida além do horizonte.
abre teus ouvidos e ouve
o som dos anjos no ar.
abre tuas narinas e cheira
a fragrância do vento, profunda.
expõe teu corpo e abraça
o fresco da brisa do mar.
abre a tua voz e grita
o que te vai no pensamento.
solta a lágrima aflita
grita, grita, grita
essa emoção bem quente
deixa existir a poesia
que vive em ti.

beijo terno de paixão

gosto de histórias de amor apaixonado
das que se contam várias vezes
para que se entenda
e não se esqueça o que aconteceu.
têm princesas e amores
têm ódios e odores
ogres, fadas, duendes
trovadores, monges, anões
heróis, cavaleiros e dragões
e, no final, aquele beijo
que compensa a dor
a morte e o lamento
faz justiça
distribui castigo e perdão
tudo num beijo terno de paixão.

encolhido

arrumo-me neste canto
sem pranto
é onde quero ficar
e imaginar
que aqui estarei
se algo acontecer
e se tal suceder
eu estarei aqui
só por estar.

livre pensamento

tenho a sorte de acordar
embalado pelos pássaros.
cantam, saltitando entre ramos e telhados
alegres, partem irrequietos
que linda barulheira.

meu pensamento segue-os
para longe, bem longe
acompanha-os no voo sinuoso
frenético, quase errante
assim permanece, silencioso
uma vez que não sabe chilrear.

há um sítio onde gosta de poisar
ainda longe, num local que desconheço
fica além do lugar onde adormeço
aí encontra a beleza
encantamento e fadaria
por ali me fica o pensamento
perdendo-se, encontrando-se
divagando, descobrindo
desvendando-se na poesia.

sai feliz, revigorado
volta a mim, encorpa-me
traz-me algo para conhecer
a força de quem deseja
a fé de quem acredita
o tino da esperança
faz de mim gente melhor.

libertar o pensamento
e fazê-lo desobrigado
é ser livre, sentir a liberdade
para amar e ser amado.

serei menino

serei menino
enquanto levantar os olhos para apreciar o céu
as nuvens, o sol, a lua e as estrelas.

serei menino
enquanto meu desejo maior
for trazer os pássaros a comer em minha mão.

serei menino
enquanto vir nas gotas da vidraça
um desejo incontrolável de correr à chuva.

serei menino
enquanto acreditar que o mundo está aí
para eu brincar.

serei menino
enquanto usar os objetos do quotidiano
nas fantasias com que sonho os dias.

serei menino
enquanto sentir o carinho
como a dádiva maior da vida.

serei menino
enquanto procurar sorrisos
para alegrar meu dia.

serei menino
enquanto me condoer
com as lágrimas em olho alheio.

serei menino
enquanto precisar de tocar para sentir
o que os olhos não almejam.

serei menino
enquanto me souber bem
um colo, um regaço, uma carícia e um beijo.

serei menino
enquanto me apaixonar
tornando grandes as pequenas coisas do dia.

serei menino
enquanto vir em cada criança
um parceiro de fantasia, de descoberta e de alegria.

serei menino
enquanto não me envergonhar de mim, dos outros, do mundo
e estiver disponível para amar.

serei menino
enquanto adormecer feliz, tranquilo
pelo beijo de boa-noite que me dá a minha mãe.

serei menino
enquanto conseguir ser
porque é assim que desejo que se faça o meu crescer.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

pensamento

criámos deus para nos sossegarmos pelo que não conseguimos alcançar.
criámos deus para sonharmos que com ele não há impossíveis.
e deus, porque nos criou?
é que sem nós, deus não existiria.

domingo, 8 de julho de 2012

dúvida

deus criou-nos.
e nós fizemo-lo à nossa imagem.
produto do nosso pensamento para satisfazer necessidades.
as orações, uma certa poesia glosando a pedinchice.
e se o deus que fizemos for o mesmo que nos criou?

prece

mar, lugar de revelações
euforias, segredos e tormentos
ouvir-me-ás
coisas de mim para ti
decisões, simples opiniões
pensamentos
que me abrolham o existir
confissões, arrependimentos, alegrias
grandes, pequenas
outras pouco sadias
o desejo e o prazer do pecado
e não ficarás corado
saberás do meu vazio
oco de fio a pavio
sentirás meu lado fastidioso
e me entenderás humano.
dir-me-ás
em teu murmúrio barulhoso
que me entendes, apesar de tortuoso
e que assim se define
o humano que conheces
de quem ouves as preces
pelas imperfeições da vida
com que apura a alma.
se isto não me disseres
eu mudarei de deus.

de filho para pai

lembro-me....
quando caminhava, esticado
agarrado a um dedo
onde abraçava minha mão
era confortável, era muito bom.

lembro-me...
no fim do jantar, duma perna aguardando
para eu me sentar e do prazer que tinha
em ser escolhida para eu vos ouvir
falando da vida, aconchegado, era muito bom.

lembro-me...
num colo à tarde, do bem que senti
dum dito do peito, meigo, segredado
"portaste-te tão mal, meu filho, e gosto tanto de ti"
era verdade, foi tão bom, nunca esqueci.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

o olhar

tenho teus olhos nos meus
onde ficaram cruzados
cegos, tontos, perdidos
ou simplesmente dados
entregando-se, unidos
pelo indizível
amor de amante, paixão.
tenho teus olhos nos meus
por onde te vejo a emoção
que me beija o olhar
que me aperta a mão
que me acaricia o rosto
quando abraças e cerras
teus olhos nos meus.

desenho

quis desenhar-te um beijo
peguei num papel e esmerado
fiz muitas flores
pus-lhe um olhar bonito
um sorriso apaixonado
mil corações de amores
ficou um beijo de namorado.

basta!

e quando a vida se torna
a procura maior da norma
e quando o dinheiro for
a procura de amor maior
e quando o novo adereço
é o desejo e tudo o que peço
e quando o relógio manda
prende a atenção e comanda
e quando o prazer de viver
é culpa que não se quer ter...
...então puta que pariu!

domingo, 1 de julho de 2012

valentia menina

descansa menina valente
peito feito, virado à vida
desassossego de criança
serena, acalma, descansa
tua alma de menina
generosa, genuína
teu coração dilatado
pelo intenso do que sente
sem eco nas palavras.
ficas bem sorridente,
pura, transparente
acutilante, frontal
imperfeita, insatisfeita
ou simplesmente mortal
e que tal não te apoquente
valentia menina em gente
bonita por seres quem és.