quinta-feira, 30 de agosto de 2012

meu sonho

na sombra de uma gaivota
partiu meu sonho
além do mar, onde caiu
e debandou na espuma das ondas
a mesma que salpicou rochedos
e me aspergiu o corpo
abençoando-me, refrescando-me
como o sabor de mar.

e o mar, longo amigo
fez-se onda
enrolou-se na areia
rebolando a meus pés
entregou-me o sonho
que tomou no colo
caído da sombra
de uma gaivota.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

corpo infinito

teu corpo
sentido de céu
onde me abraço
e fico pingente na forma de gente
balanço de dança, ondeando
serpenteando pelas estrelas
fragrâncias mil, de luares cheios de lua.
teu corpo
quente de verão em noite estrelada
fresco de brisa morna de mar
sereia e fada, me encantou
num doce canto de embalar.
teu corpo
terra de além, infinito em forma de porta
nele navego, me perco e me encontro
sonho e acordo, sinto o sol
e nada mais importa.

a graça da saudade

tenho uma vida cheia
pela saudade que alimento
na tua presença
e me deixa adormecer
de pensamento abraçado
à emoção
que me chega com teu olhar.
gracioso sentimento...

arte de vida

vida não é uma luta
é arte do entendimento
aliança, de várias facetas
discernimento
para ser vivida, a vida
precisa da paz, calma
gerada na confiança
vida de luta é briga interior
sem paz nem ideais
os únicos porque vale a pena lutar
em paz.

poesia

a poesia sente-se
e o sentido está na alma
pouco importa se a escreve ou se a lê
o colorido está no peito
toca-se com pudor
pega-se com carinho
escreve-se com paixão
e lê-se com emoção
para que serve o pensamento?
para dar forma de texto
ao mais profundo sentimento.

sábado, 25 de agosto de 2012

viagem no vento

vem vento, partirei contigo
até onde o desejo da invisibilidade me levar
enquanto tua frescura me sossegar
e a nudez que me infliges for o meu estado
natural de pensar, de sentir e de amar.
vem vento, voarei sem asas
viajarei nas brisas que me enlaças
tocarei nas nuvens que penetrarei, sonhando
geraremos intimidade
ensinar-me-ás a melodia do tempo
compassadamente batida 
pelo balançar das árvores, pendular das flores
e dançada por folhas de um outono
ondulantes movimentos,
valsa de amantes encantados.
vem vento, visitaremos tempestades
arrastaremos montanhas
e faremos maiores façanhas
onde buscaremos a bonança
soprarás o rosto duma criança
agradecida, mirar-te-á no horizonte, eterno
e desenhar-te-á no caderno.


bailado de ancas

lá,
onde minhas mãos descansam
tuas ancas bailam
ao som de um beijo
insinuantes de amor
bamboleiam, saracoteiam
balançam, pedindo, maneiam
que lhes leia o desejo
fogo ardente, doce calor
com que me afagas
com teu ventre
perfumado do teu odor.
e minhas mãos descansam
suadas
lá...

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

mar

mar
onomatopeia de ti mesmo
tem a infinitude
de mãe e de amar
tem a intemporalidade
da juventude.

mar
cheguei, andei
e quando parti
pronunciava teu nome
de um só fôlego
sem respirar.

passeando à beira-mar

confiaste em mim
deixaste-me estar
com meus pensamentos
partiram, voltaram
nem sei por onde andaram
acho que mergulharam
andaram na areia molhada
em jeito de par
ora abraçados
ora de mão dada
passeando à beira-mar.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

pensamento

chegam-me, penduradas na melodia
da música que me acompanha esta noite
recordações, que mal vislumbro
e que decifro com esforço
para manter vivo meu passado
dar-lhe o sentido de uma epopeia
que valeu a pena, teve sentido.

domingo, 19 de agosto de 2012

pensamento

a vida criou-me, habituada a poucas palavras.
pela poesia tornei-me extravagante em emoções
e amplo, intenso e profundo nos sentimentos
em poucas palavras.

dia

escrevo sobre um dia, quando não distinguia
o sentido do fresco, do frio aborrecido
a brisa amena, da incómoda ventania
o chilrear dos passarinhos, do estrebuchar da passarada
as nuvens fofas do dia, do céu escurecido
e os gritos das crianças, do berros da criançada.
perguntei a deus, o que tinha aquele dia
que, sobranceiro, respondeu
a respeito do meu dia, quem saberá tudo sou eu.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

ausência

conheci a ausência, tua
trouxe-me o odor latejante, teu
o sabor escarlate de bom
do carinho nascido de beijo, teu
feito na ternura, tua
deixou-me o olhar, teu
aconchego onde me pacifico
consolo fecundo, meu
para a saudade que sinto, eu
pela ausência que é tua.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

luar

nossos corpos aconchegados
nus, doces, salgados
trazem ciúmes às estrelas
fazem-se brilhantes
em céus estrelados
luares iluminados
desejando
que toquem nelas.
de corpos consolados
de olhos fechados
ao som do embalo
ficamos a vê-las.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

pés enamorados

os nossos pés
que temos nos pés?
consolo de pele
meiguice de corpo
toque de prazer
de toque em toque
a saudade atenua
e damos os pés
em forma de jura
depois outro toque
que é mais um abraço.
que temos nos pés?
conforto de amor
e calor de paixão.

amantes

e se,
ao sol faltar o dia para brilhar
às aves falhar o vento para voar
a lua não tiver noite para luar
a nuvem ficar sem céu para estar
aos corações fugir o peito onde pulsar
...
os amantes dar-se-ão pelas almas
porque não podem deixar de se amar.

domingo, 12 de agosto de 2012

som de flauta

cantaria a vida no som de uma flauta
se assim o pudesse
porque a gosto simples
com voz de pássaro
e melodia de alma
sopro de vida
tocado pela ponta dos dedos.

ócio

tudo o que sinto é ócio
dormente de ensonado
desperto suficiente
para que veja o horizonte
pelo colorido, manchado
de formas indistintas.
sabe bem olhar e não ver
e quando fecho os olhos
vejo o que mais ninguém vê
e não olho...

sábado, 11 de agosto de 2012

voo de alma

voou-me a alma
rasando o desejo de estar contigo
sobre as linhas que em teu corpo
fluentemente se curvam
fruindo formas e gestos
cruzando a harmonia com o sensual.

voou-me a alma
encantada, foi-se com o teu olhar
além da distância, viajou
onde sonho se faz das memórias
que temos e das que faremos
ao luar, em carícias trocadas. 

voou-me a alma
radiante, encontrou-se em ti
agraudou-se por ti, escolheu-te
afeiçoada à melodia dos teus dias
sobre ti paira como o anjo da guarda
apaixonado, que deseja ser amado.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

pensamento

ontem passei o dia contigo sem que pronunciássemos uma só palavra.
tanto que eu aprendi com a cumplicidade do nosso silêncio...

rima perfeita ou confissão de jardineiro

sabes flor,
que o teu estado de graça permanente
é a razão de ser da tua existência?
em ti nos olhamos
por ti nos vemos, colorimos e perfumamos
e ainda te usamos
para exprimires por nós, o melhor de nós
o apreço, o carinho e o amor.
sim flor...
o nosso amor
por ti amamos, também.
o que inspiramos de ti
é muito mais que o teu perfume
a tua cor, o teu toque ou as tuas linhas
é a profundidade da tua harmonia
que patenteias na forma e cor que semeias no jardim
a graciosidade com que celebras a fecundidade
para, de imediato, te dedicares ao dever da criação
bem menos exuberante
mas igualmente belo, intenso e perfumado
sem que se saiba porquê.
é flor,
é um milagre de amor
um milagre da natureza
ou a natureza da flor
a mesma que criou o amor.
já reparaste flor,
que és a rima perfeita para amor?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

saudade

são da praia as ondas que chegam
preguiçam e partem de maré em maré
contam-me o tempo da tua ausência
deixam-me a dor da despedida

largo meu olhar no horizonte, perdido
distante, onde quer repousar
só, de si mesmo, além do mar
onde vão as ondas, de maré em maré

terça-feira, 7 de agosto de 2012

pensamento

a alma do nosso amor
fez-se de pétalas de rosa branca
tal é a pureza
que lhe define a natureza.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

pensamento

hoje vestimo-nos de palavras
e com elas
maquilhamos os olhares
que belos ficamos...

sentimento

quando a música amena
irrompeu do silêncio
aquele, dos pensamentos vagos
despertou-me as memórias
primeiro uma, depois outra
e mais uma... ou talvez mais
e não se conheciam.
conduzido pelo convívio
agarrei-te a mão
que beijei tão suave e profundo
quanto o permite o sentimento.
sorri-te...
e celebramos o momento.

há dias

há dias... em que surges exigindo
e levas de mim tudo o que tenho
ignoras-me a entrega.

então, fico sem nada para te dar
fico sem te poder amar.

domingo, 5 de agosto de 2012

futuro

os dias que partem daqui
irão para longe e irão perdurar
sem distância nem tempo
farão uma história para contar
e viajará enleada nas asas do vento.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

despertar

levanto-me, rabiscando
a poesia que tenho
vivi-a durante o sono
agora bem acordado
sonho-a, escrevendo
e algo em mim se fez bonito.

quem é assim...

assim...
é aquela parte de mim
que redescobriu a emoção
e foi viver em poesia.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

paixão, possessão

prendi-te no peito
guardei-te, pensei
não, prendi-te! aceito
porque te aferrolhei
algemei-te
não sairás! está feito.
violenta forma de amar.

memória de beijo

sabe-me a boca a saudade
guardo a memória...
um sabor doce de beijo
um aveludado quente de lábio
o vigor carinhoso de língua
e o conforto dos olhos fechados.
sabe-me a boca a saudade
do beijo que te dei
e do outro que te darei.

no mar...

no mar...
o rio perde-se
encontra-se
destina-se.

no mar...
a onda faz-se
eleva-se
esbanja-se.

no mar...
confesso-me
perco-me
encontro-me.

no mar...
eu e ele
ficamos íntimos
até ao próximo encontro.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

mágoa

são húmidas as palavras que escrevo
por serem nascidas à beira d'água
lugar onde mergulho a mágoa
na esperança de a lavar.
rasgo-me na página da escrita
mancho-me de tinta no papel
amargo as letras em fel
são húmidas as palavras que trago
marejadas, sem sal de mar
como olhos de marinheiro
perdidos, molhados por inteiro
lembrando onde foram feridos.

assim...
são húmidas as palavras que escrevo.

origem

fizemo-nos de abraços
dados, pela entrega
laços de nós
nunca procurámos a volta
só o dar, dar-nos
desejando
que o outro de nós
fosse generoso
para aceitar, aceitar-nos
de dádiva em dádiva
nos abraçamos
enlaçados
nos fizemos de abraços.