quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

possessão

tem a força de um vulcão
tem a espuma do mar
o que me incha no peito
o que me faz rebentar
o que eu desconheço
só sei que sinto
não penso e escrevo
sou instrumento de escrita
expressão esse algo
que em mim habita
possuído, disso dependo
disso fiquei assim...

teu sorriso

meu anjo da guarda
soprou-me ao ouvido
um sorriso de cupido
que guardei nos olhos
mantive-os fechados
lacrados
pálpebras encostadas
não quis se perdesse
nenhuma da luz
daquele sorrir
tão puro de lindo.
e quanto à orelha
do meu ouvido, o bafejado
pela sorte do anjo
toco-lhe de mansinho
toque de carinho
cheio de esperança
de vir a encontrar
só um bocadinho
do anjo que guardou
tão belo sorriso
no meu olhar.

pensamento solto

o que me faz falta
o que me impediria de tudo
até de viver
seria fechar os olhos
e não te ver

pensamento solto

a perfeição, tal como a utopia
sonha-se de olhos bem abertos
gera-se no consenso e na cumplicidade
tal como a felicidade.

essência de mar

vagueavam as ondas,
extraviadas, que estavam
tanto viandar

vaga após vaga
essência da errância
que faz o mar

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

misteriosos

teus lábios,
de que falam teus lábios?

de segredos
de inconfessável felícia?

de amores
latejantes de ternura?

de olhares
de impronunciáveis cumplicidades?

de sorrisos
encobertos de palavras?

que não ouço:
é que preciso saber
de que falam os teus lábios.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

despertar da primavera

e quando a primavera chegar...
regressará o chilrear dos teus beijos
esvoaçarão meus olhos
procurando os teus
fugazes, desafiadores
e quando a primavera chegar
voarás
buscando meus braços
que envoltos de saudade
se cingirão em ti
e quando a primavera chegar...
palpitará em teu peito
um coração de ave
e eu ver-te-ei voar.

revelações

nos sonhos de um banco de jardim
vermelho gasto de tão sonhado
e tantas vezes repintado
vimos o céu de azul
o laranja, quente de sol poente
e o escuro lírico de luar.

graciosa

lua
lição de vida
ilumina sem ofuscar
lindo, gracioso, o luar
num céu estrelado.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

gerundiando

vou gerundiar
em tudo o que fizer
vou-me entregar
prolongar
e saborear

simples:

gerundiando
entregando
fazendo
prolongando
saboreando.

gerúndio

descobri o prazer do gerúndio
estou saboreando...
têm algo de indefinido
simultâneo, de entrega
ao momento presente
total, atual.

há gerúndios que gostamos
pelo indefinido
entregua sem fim:
amando
sentindo
pensando
sorrindo
olhando
lendo
beijando
caminhando
escrevendo
encontrando
...

há outros gerúndios que se alongam
mais do que desejamos
descrevem
como sentimos indefinido
sem fim, o contratempo
que persistentemente
se insinua,
moendo
doendo
chorando
penando
partindo
magoando
...

gerúndio
tal como vivemos a vida
vivendo...
gosto!
gostando...
gerundiando...

domingo, 27 de janeiro de 2013

verão praiando

havia praia que chegasse para todos
e ali estavamos nós
sós, na beira d'água
rodeados pela multidão
gente que estava
e, alheada, nos deixava
celebrando em gerúndios.

certeza

quando todos os caminhos
correm para ti
caminhar não é opção.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

pensamento

o tédio sente-se na alma
porque a vida se aborrece
com ela mesma
e connosco.
acontece que um certo dia
se tornou desconfortável
levantar do sofá.

que fazemos a este mar...

e agora...
que fazemos a este mar?

o que nos molhou os pés
ondas sussurrantes
uma, primeiro
depois outra e mais uma
e ainda outra ou mais
e rimos, barulheiros
fugindo e provocando...

que fazemos a este mar...

inspirador, atafulhou-nos
e transbordámos a ternura
que banhou todos os carinhos
que trocamos
entre pôr-do-sol e o luar...

que fazemos a este mar...

espelho da lua e das estrelas
que se rebola a nossos pés
que nos escuta, ronceiro
que se nos entregou
pelo ocioso marulhar...

que fazemos a este mar...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

a felicidade do petiz

- CHOVEU NO MEU NARIZ
gritava, berrando, o petiz
saltando do colo da avó
irrequieto, satisfeito
deste dia predileto
feito para andar à chuva.
logo que pode, o pequeno
tocou o chão, correu pelo jardim
até que se deparou
com uma bela duma poça
água da chuva bem fria
inquieta e espelhada
pedindo, rogando ser pisada
de um só salto de pés juntos.
CHAPUM!, CHAPIM!
bradou a poça do jardim
o rapaz ficou molhado
feliz e enlameado
todo ele escorria
e a poça ficou vazia.

- AI JESUS NOSSA SENHORA
o que a tua mãe vai dizer
se te vê assim sujo a escorrer
e se ficares constipado
foi por te teres molhado
e essa roupa enlodada
e eu é que sou a culpada...
dizia a avó transtornada
com um sorriso escondido.

- ANDA CÁ MEU MENINO
não contaremos a ninguém
será um segredo nosso
quando tua mãe chegar
terei a roupa lavada
e tu limpinho e penteado
serás um menino lindo
e toda a gente será feliz
e com a graça de deus
não ficarás adoentado.
vem cá, vem...

quando a mãe entrou em casa
num impulso incontido,
gritou-lhe no colo, o traquinas
- HOJE CHOVEU NO MEU NARIZ!

enlevo

i ato - desejo e sedução

o mar sempre desejou namorar a praia.
despudoradamente, corre, cavalgando
em ondas de desejo e de prazer
(o prazer de sentir desejo);
ruidosamente, volta e revolta-se
salpicando toda a espuma que pode,
só para parecer mais alvo e, quem sabe, mais belo,
acreditando, assim, conseguir seus intentos.

a praia, é aquela cumplicidade
de água, areia e gente
onde convívio, alegria, folia e desejo não faltam.
não raramente, escasseia disponibilidade
para ceder ao mar
a atenção que este requer,
e o barulhento roncar, estonteante até,
queda-se mero fundo de uma paisagem viva.
é certo que não há paisagem sem fundo,
mas um mar apaixonado
precisa do virtuosismo do 1.º  plano,
pelo menos ao pé da praia, sua amada.

no estado de minguada ou crescente,
a praia mantém a jornada,
ora só, ora apinhada de gente,
determinada que está a ser independente.
embora precise do mar bem próximo;
encorpa-lhe a alma, aquele roncar,
e adora ver-se enrolada pela areia,
sentir o mar espraiado,
ansioso por cobri-la
em toda a extensão do areal.


ii ato - impossível

o mar tem um estar ramerrão:
revigora-se 2 vezes ao dia
para descansar nos intervalos.
descreve-se pela rotina,
em texto corrido, chega uma linha.

a irreverente praia, ora se abandona
ao seu areal, solitária,
ora se dedica às estrelas, ao sol e ao nevoeiro,
ora, ainda, se vê pejada de gente,
pingentes que ostenta vaidosa
feliz de ser a escolhida.
não tem manias de vida,
tem o sabor da maresia e da nortada,
o toque do sal e da areia,
o fresco da neblina,
o brilho do sol, da lua e da trovoada.
irrequieta e ladina, gosta do mar,
mas não se vê namorar
(com data e hora marcada)
agenda que não é a sua.
talvez seja descritível, a praia
nas sinusóides do areal
num estilo enigmático
insinuado à luz da lua.


iii ato - cumplicidade

a praia celebra a vida, cuja força vem do mar
que sendo parte da praia, não a pode namorar
isto nunca perceberá essa entidade solitária
e autoritária, chamada mar.

ora, segundo esta história,
nós somos meros pingentes,
alindamos a praia, reluzimos
a magia necessária e damos-lhe vida de gente...

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

ilusão

às vezes penso que despontaste em mim
quando, de facto, tu me fizeste despontar
creio que surgiste do meu sonho
quando, realmente, tu me fizeste sonhar
vejo-te desabrochar de amor
quando, na verdade, tu me fizeste amar
sonho que encantada me olhas, bela
quando tu é que me encantas
em cada passo que dás
em cada sopro que soltas
e de cada vez que gostas
deste meu vício de poemar.

errante

pousei a cabeça
adormecendo ao tempo
desejando não mais acordar
suplício de momento
desejar ver a vida correr
dormitando, sem participar
inábil para lhe mudar o tento
sabendo ser muito errado
esta forma de viver.

quadra

senti o olhar de teus olhos
senti teus olhos brilhar
o que eu daria para ver
teus lindos olhos dançar.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

desejo do céu

era tanta a noite
quando olhei a cidade
um pontilhado de luzes, estrelas
dir-se-ia.
o céu deixara-se breu
fizera-se deserto desolado
quisera sentíssemos de perto
na vida da metrópole
o encanto do firmamento.

amor é:

ficar no canto, mesmo quando apetece namorar...

compromisso

chegam-me todas as manhãs
dias, perdidos do norte
alheados do fim
entram e acompanham-me
...
confessámo-nos
e partimos, encontrando
talvez construindo
quem sabe desvendando
o sentido de cada presente.
temos um acordo:
por enquanto, o futuro
é somente o que vier a acontecer
envolto da pura brancura da paz.

amor é:

ansiar o encontro do final do dia
depois que o encontra, não saber que fazer nem que dizer...

amor é:

perguntar o óbvio
mesmo incomodando, sempre lhe ouve a voz...

domingo, 20 de janeiro de 2013

amor é:

ir arrumar a loiça quando ele cozinha
sabendo que estorva, sempre está ao pé dele...

chuva

bateu à minha vidraça
a velha amiga de infância
trazia-me a fantasia
a das histórias geniais
que os dois vivemos, ninguém mais
quisera lembrar-me do tempo
em que lhe beijava as gotas
agradecido pelas miragens
oferecidas por elas
e reluzindo escorreu
era uma lágrima sorrindo
na vidraça da janela.
tantos anos passados
e a magia não se perdeu.

sábado, 19 de janeiro de 2013

quadra

as nuvens do meu caminho
andaram comigo todo o dia
eu chamei-lhes nevoeiro
e elas queriam companhia.

ode à vida

as árvores deste caminho
passeiam com o vento, gostam dele
esbracejam, dançando, uivando
tanta força, magia e encanto
dá gosto vê-las viver.

chuva

tomaste as ondas do vento
rumaste à minha janela
onde te pousaste, reluzente
e como lágrima partiste
escorrendo por ela.

navegando ao vento

andei nas ondas do vento
nelas me fiz navegar
então percebi porque o vento
era amigo do mar
ambos gostam da refrega
ambos procuram folia
ambos correm para terra
com o mesmo soar
ambos se confessam a nós
humanos de uma janela
de onde se perde o olhar.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

singelo

semeámos trivialidades à beira mar
passeávamos iluminados
sol rasante
também raso de banalidades.
a sementeira nasceu, cresceu
e antes que o sol apagasse
colhemos um beijo
amante gerado em nós
e nossas vulgaridades.

deflagrar de amigo

os amigos nascem no peito
num mansinho silente
por lá ficam morando
embalados pelo coração
ainda que longe da vista
afloram-nos ao pensamento
e solta-se aquele sorriso
...
e quando nos encontramos
ardem os olhos de resplandecentes
meus deus!
o mundo é pequeno para nós.

pensamento solto

encubro-me em cada olhar
ocultando minha alma
na escrita se esgueira
como a fina areia
da minha mão bem cerrada
...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

poemar

poemar
se fosse verbo, seria ação
poderia ser a arte de compor
com o coração
aquilo que o pensamento vê
as sensações dos sentidos
e o sentido das perceções

se poemar fosse verbo
teria pessoas, teria tempos
teria conjugações
poderia declamar-se
trauteando
como cantiga de escola, bisada
do princípio até ao fim.

compondo, conjugando
um sentido, uma acção
progredimos poemando
atendendo aos fonemas
dobando, tecendo
temos um poema na mão.

o que sentimos poemando
o estado d'alma que nos movia
é a alma do poema
aí temos a poesia.

pensamento solto

quantas estrelas há num céu ensolarado?
quantas existem num céu cinzento?
as mesmas que num céu estrelado!
parecendo mentira e querendo comprovado
no primeiro caso está-se ofuscado
no segundo está-nos ocultado
e demonstra-se que o nosso estado
ainda que seja só desatento
nos leva a apreender errado.

palavras

soltei palavras ao vento e foram, partiram
umas perderam-se, outras por lá ficaram
algumas regressaram e nem todas eu reconhecia
chegaram palavras do mundo
mais ricas do que quando abalaram
e prosseguiram...
reencontrá-las-ei uma dia.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

pensamento solto

às vezes só há compromisso
e não há outra perfeição
que vá além da perfeição
do próprio compromisso

bailado

cantei na melodia do vento
o que me ia no pensamento
no estusiasmo, subi o tom
o vento me acompanhou
ampliando o ventar
cantamos a belo cantar.

as árvores, de batuta ao ar
distendiam-se, gesticulavam
unissonantes comandavam
com vigoroso batutar.

os pássaros riscavam o céu
em voos curtos corridos
traços que ligavam linhas
das nuvens, elas dançavam
corriam, rodavam, pulavam
na música do sentimento
que fora meu e do vento
e a todos contagiava.

interpretamos um bailado
coreografado no céu
entoado no pensamento
na métrica da natureza
fez-se um milagre do peito
celebramos a beleza.

quando cruzamos olhares
tocou-nos a comunhão
e nos embebemos nela
o vento fora, eu dentro
os dois à mesma janela.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

estória sem fim

descobri a nudez; aquele modo de nos apresentarmos sem adereços, sem nada a esconder, e partilhar o nosso segredo, a que chamamos intimidade.
revelou-mo uma árvore que se despiu das folhas para ostentar gotas de orvalho coloridas de sol, em seus ramos.
quando lhe perguntei porque se desnudara, respondeu-me desejar mostrar-me sua intimidade à luz do sol...

trovas

há coisas que tenho perdidas
e que gostaria de encontrar
não que me sejam queridas
são uma parte de mim
que não posso ignorar

a matéria de que me fiz
tem esta arte do ignorado
tem esta busca incontida
daquela parte de mim
que eu dei por censurado

crescer

mãe, quantos anos tenho?
que vou ser quando crescer?
serás o meu menino grande
aconteça o que acontecer.

estória sem fim

uma fada apareceu-lhe, decidida a torná-la feliz.
conceder-lhe-ia todos os desejos, mesmo os mais audazes, usando a magia que já escolhera.
quando perdeu o umbigo e o encantamento por ele, ela elevou o rosto, olhou em redor e sorriu.
havia tanto tempo que não sorria...

pensamento solto

ananiquei minhas emoções
fiz-me forte, fiz-me homem
agora passeio com elas
abraçando, correndo,
rindo, bulhando
creio tornar-me pessoa

lugares comuns ao sol

sol,
quando as nuvens
mostram teu lado cinzento

sol,
quando pelo nevoeiro
ostentas teus raios

sol,
quando as árvores e as flores
expõem tua paleta de cores

sol,
quando as abelhas e os pássaros
dançam no teu pulsar de vida

sol,
quando as gotas de chuva
te exibem o arco-íris

delicio-me pela tua existência
porque meus olhos preferidos
te iluminam, sol

essência

faço-me no silêncio
amanhecendo, entardecendo
e tomo consciência de mim na palavra
aquela que escrevo

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

até domingo às 9

cada vez chegas mais de mansinho
cada vez pedes mais carinho
cada vez demoras mais a despedida
cada vez dói-te mais minha partida
como se houvesse algo por dizer
que ainda não foi dito
o tom da tua voz declara mais que as palavras
fala de uma vida
que vais soltando aos poucos
porque a vida também se larga
confirmou-mo o teu olhar
sereno de resignado
assustado de impreparado

já não queremos dizer adeus
despedimo-nos até ao próximo encontro
que queremos tenha data e hora marcada.

paz

e quando meus olhos
procuram o céu
buscam a luz e o vento
as nuvens e o puro azul
ou nada, simplesmente
como a serenidade
que vive no firmamento

submissão

submeti-me ao caminho
acreditando ser meu destino
caminhar e caminhar

calcorreando, olhei o céu
de azul vi escrito meu fado
cantando que eu fora talhado
para voar e voar

deduzi haver algo errado
pois nunca me vira alado
logo seria caminhante
e segui por diante

chamou uma nuvem, sorridente
e indulgente explicou
que os homens, como as nuvens
sem asas, podem planar
porque deus lhes deu o vento
o sonho e o pensamento
e um céu para voar

envelhecer

gritou-me a garganta
berrou-me o peito
suplicou-me a alma
tudo a uma só voz

adormeceu-me a língua
gelaram-me os dedos
entorpeceu-me o pensamento
tudo num só movimento

envelheço, envelheço, envelheço...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

parabéns, mãe

mãe
que me ensinaste o amor
quando me acariciaste em teu ventre
movimentos que não lembro mas a que adivinho o toque
quando me sonhaste nascido, no colo
depois crescido... e sempre menino
o teu menino
agora meu peito não parará
é a lei da natureza
a tua, mãe
parabéns

saudade

na partida eu te levei
foi assim que reservei
um pedacinho de céu.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

traquinice

varejei as estrelas por traquinice
queria vê-las irrequietas
correram atrás de mim, fuji delas
voando, fintando em longas piruetas
gargalhamos na apanhada
pulamos, brigamos, brincamos
ai como gritamos
nada sossegou, nada
mas que boa varejada

à noite, recolheu-nos, a lua
embalou-nos ao luar
dançou-nos uma história de encantar
brindamos sorrindo, não aplaudimos
e adormecemos reconhecidos
na quietude...

o sol, quando nos despertou
soalheiro murmurou
eh malta! que varejada.

criação

quando a palavra ganha vida

alcança cor e colorido
sabor e sentimento
sentido e harmonia
som de melodia
emoção e pensamento
ouvido, seio e mão
colo, conforto e grito
alegria gargalhada
tristeza no peito gerada
fome, desejo e amor
lágrima pura, cristalina
ódio, desespero e dor
doçura e fantasia menina
alma, asas de borboleta...

do homem nasce um poeta
cumpriu-se a criação
e fez-se a vontade de deus.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

espelho

da chuva molhada caída no chão
fez-se um espelho
emoldurado pelo empedrado
onde se mirava a cidade passar

todos o viram e ninguém se viu
muitos o pisaram e não se partiu
a chuva parou
o empedrado está lá mas não é moldura
porque o espelho se evaporou.

mulher

mulher, mãe
amante, amada
muito amada
colo da vida
prenhe de amor
beijo bafejado
carinho amimado
canção de embalar
criação do poeta
poesia que semeaste
que criaste no peito
semente
nascente
mulher, musa
poesia

fantasia

pariu-me um temporal
isso mesmo, fui parido
não deu tempo de nascer
fui largado no vento, tenebroso
vigoroso, o meu vagido
nem sequer foi ouvido
fiz um manguito ao demónio
mostrei figas aos anjos
batizaram-me de antónio
assim, tortuoso d'oliveira
podia ser pau, podia ser acha
mas não seria madeira
ditava a lei, é tudo o que sei
fui gota de água, lágrima de santo
por ser sagrada, era mais salgada
caí em manto que não quis molhar
recusei o meu estado
parti na luz do dia com a escuridão da noite
viajei com o rio, confessei o mar
expliquei à lua o que era o luar
falei-lhe do sol que não conhecia
nunca vira o dia
aquele que nasceu
e eu acordei do que sonhei
o que seria, não sei
talvez poesia
mas de certo, fantasia.

domingo, 6 de janeiro de 2013

bom dia

sei que pensas em mim
sei...
sinto a tua presença
a luz do dia é quente
resplandecente
teu olhar pequenino
no ar
vem teu sabor de beijo.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

esqueci-me, ainda

esqueci-me do tempo...
aquele em que me via ao espelho
e não via nada
senão mesmo uma figura fugidia
apressada
alinhando o desalinho
de olhos colados no caminho
andando acelerada.

esqueci-me

esqueci-me...
esqueci-me que dia era hoje

voltei a esquecer-me que dia era hoje
não fora planeado, o dia
nem o seu lugar num calendário
não tinha agenda, nem se enchera
antecipadamente
não era importante...

eis porque esqueci que dia era hoje.

contemplação

o que vejo deste lugar
já a janela mo revelou
centenas de vezes
em outros tantos dias
é um ver já visto
que inspira
um olhar perdido
paisagem com fundo de céu
vício de andar fugido
delírio de liberdade.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

mão dada

como um sonho
na palma da mão
nasceu uma flor
bicou um pássaro
poisou uma bola de sabão
como um sonho
na palma da mão
era menino
aparei o pião
apanhei o vento
agarrei areia
cacei tua mão
e a minha ficou cheia
como um sonho
na palma da mão
senti carícias
e acariciei
colei-te ao peito
para que me ouvisses
pulsando pelo coração
como um sonho
na palma da mão
pelas mãos nos demos
fruímos do estado
andando, passeando
o sonho nosso
na palma da mão.