domingo, 30 de junho de 2013

partida

partida
é um bom estado
aberto para sair
disponível para mudar
pronto para entrar
saber o indispensável
bagagem pequena
amizades em dia
aquela certeza amena
encontrar-nos-emos
entre uma volta e uma ida.

confissão


confessou-me, o vento
já não suportava mais soprar

busca

o que procuramos
pode estar mesmo diante dos olhos
pode estar no desconhecido
pode nunca ser encontrado
pode nunca se ter perdido
pode estar tão bem guardado
que nunca será reconhecido
é impossível encontrar
o que nunca foi definido

nesga

era uma nesga
por onde se via o dia
e o dia
que se via por uma nesga
passava rápido
entre as duas faixas escuras laterais
tudo era tão rápido e efémero
parecia colorido
mais colorido
e rápido
e efémero
o que faz uma perspetiva cerrada

ânsia

meu dia foi longo
interminável
interminavelmente longo
e vazio
faltavas, não estavas
não te via
nem chegava o final do dia.

nostalgia

tocava a nostalgia
numa melodia
chegava a nostalgia
no vento fresco da manhã
aparecia a nostalgia
estampada numa fotografia
mergulhavam na nostalgia
as linhas do meu pensamento
instalou-se a nostalgia
queria, precisava ser acarinhada
e recostados convivemos
verso a verso neste poema

sábado, 29 de junho de 2013

pequenos nadas

e se as ondas do mar
se fizessem do nadar dos peixes
e se as tempestades
se iniciassem nas brisas
e a chuva
no rio corrente
...
talvez a minha paixão
tenha despontado
da distração do teu olhar

sexta-feira, 28 de junho de 2013

desaguar

quando éramos rio
viamo-nos nos reflexos
cintilantes como olhos
que nos espelhavam
saltávamos nas pedras
pulávamos das quedas
gargalhávamos de rio
era o som jorrante da corrente

quando éramos mar
rebolávamos
de onda em onda
e ora nos projetávamos
no abismo vociferante
ora namoradamente
marulhávamos
ao som das gaivotas

hoje desaguamos
só porque somos água

ao acordar

esta manhã
pedi aos pássaros
que escrevessem por mim
entusiástico
galhofando ao sol
do alto de um voo
semeando alegria

a-balada

meu olhar de hoje
encontrou-se com o de ontem
desconheciam-se
ou não se reconheceram
chegaste e apresentaste-os
convivemos
conheceram-se e partiram
foram na mesma direção
primeiro um
depois o outro

nascimento

as palavras sairam-lhe
se fossem água, brotariam cristalinas
ou desabrochariam, se nascidas num jardim
soprava-as a leveza da brisa
nela borboleteavam quase infinitas
para pousarem em peitos abertos
e perfumaram-se
combinaram aromas
que estremeciam de tão humanos
quando o poeta sorriu
os pássaros chilrearam
em poesia

quarta-feira, 26 de junho de 2013

pensamento

a infelicidade aprende-se a curtir com a idade.
a felicidade é aquela parte que desaprendemos com a idade.

depois há a morte, cuja eminente proximidade, nos impele a redescobrir a simplicidade da felicidade.

olhar feliz

i
tão feliz, teu olhar
tuas meninas dos olhos
rodam sem parar
crianças num recreio

ii
tão feliz
tuas meninas dos olhos
crianças num recreio
teu olhar
rodam sem parar

iii
tão feliz
crianças num recreio
rodam sem parar
teu olhar
tuas meninas dos olhos

iv
tão feliz
rodam sem parar
crianças num recreio
tuas meninas dos olhos
teu olhar

v
tão feliz
teu olhar

3 formas

i
a gota de água
escorria em teu corpo
gerou um amor perfeito

ii
gota de água
escorria
teu corpo
gerou
amor perfeito

iii
gota
água
escorrida
teu corpo
gerou
amor
perfeito

aroma

beijei
teu ventre
perfumei-me
repousei a cabeça
adormeci
sonhei
acordei num sorriso
sonho perfumado

orvalho

tu
gotícula
água
cristalina
refrescas
purificas
reluzes
ao sol

erva do caminho

uma erva do caminho
pisada, importunada
tratada como daninha
dela nasceu uma florzinha
tantas vezes ignorada
que teimou e fez-se linda
desejada
pois sentia seu destino
gerar a sementinha
ou ser colhida
num ímpeto apaixonado

terça-feira, 25 de junho de 2013

vincos do destino

nas linhas das mãos
nos vincos do vestido
decifrava-se o destino
ora amarrotado
ora alisado
por mãos amarguradas
que queriam do vestido
o colorido que vestiam
e encobriam 
seu tom atormentado 

transcendência

encontramo-nos
no teu dentro, no cerne
do nosso encontro
envolvemo-nos
peito a peito de um abraço
segredado em confissões
sussurradas ao ouvido
e o que dissemos
falava-se pelos olhos
e o que sentimos
ia bem mais além
do próprio corpo

segunda-feira, 24 de junho de 2013

teu beijo

teu beijo chegou-me
tocou-me à fronte 
queria entrar
apanhei-o na mão
pousei-o no corpo
para o tentar.

teu beijo desdobrou-se
aqueceu, alongou-se
abraçou-me por inteiro
tão forte e intenso
hoje e sempre penso
no teu beijar.

musa

andas sempre comigo
nos meus sonhos
nos meus desejos
nos meus pedidos
escritos em poemas
que oro
e que não sei declamar
rezo-os
com a entoação
que aprendi no rezar
com a convicção
que te manterás em mim
mais um pouco
uma sílaba que seja
e se puder ser, um verso
ou uma estrofe
e porque não um poema
um livro, uma obra...
assim me tento poeta
para continuar sonhando, contigo.

pensamento

nunca esquecem os aniversários de quem nos tocou no coração
ainda que omitamos a ação, manifestam-se as memórias

domingo, 23 de junho de 2013

vezes sem conta

de todas as vezes
eram vezes que nunca contei
e que quis minhas
sempre quis
sem que soubesse
se merecia
ou porque queria
uma só vez que fosse.

como se escolhe uma das vezes
quando não se sabe
aquela que se quer?

de todas as vezes
é-se tão pobre
como de vez nenhuma

sábado, 22 de junho de 2013

gosto

gosto da raridade
do sol da meia noite
da estrela da manhã
da trovoada de verão
da claridade do luar
dos teus olhos
quando os fazes pequeninos
iluminados de um sorriso
denunciando tua paixão

poetizando

tomei-me de mim
tornei meu sonho
a realidade de um poema
onde me verti 
dia a dia
desde que nasci

criação

todos os poemas são verdades, cristalinas
como é imaculada, a natureza da poesia
tocam fundo: serenam e inquietam
do sentimento à razão, a beleza da criação
os ideais e as ideias mais peregrinas

sexta-feira, 21 de junho de 2013

cuidado

i
miras meu peito
podes tocar-lhe
tem cuidado
para que não te magoes
no quente ardente
inflamado
ou nesse pedaço ressequido
mais empedernido
que um empedrado
tem cuidado

ii
gosto que me olhes
sentir a tua atenção
a telepatia de um beijo
que me entra pela janela
toma meus dedos como seus
e me despeja, letra a letra
verso a verso, num poema
de mim desconhecido
que me faz ser ungido
em vez de derramado.

iii
como gosto
do teu cuidado.

pensamento

deus fez o homem
deus fez a mulher
e nós fizemos amor
um hino a deus
hossana lá nas alturas!

carta

meu amor,
escrevo-te o que não sei
nem entendo. o facto
é que moras em mim
e sem que eu saiba porquê é belo
tão belo que me desponta uma lágrima sem tristeza
comoção? talvez
agradecimento? seguramente.

e escrevo-te outra vez
sem saber porquê
como quem passeia sem destino
caminhando; um pé à frente do outro
de olhos no infinito
onde tu, sempre tu, te insinuas bela
mais uma vez belo, vês?
como tu e o infinito casam tão bem.

volto a escrever-te
impulsionado pelo desejo
de dobrar o infinito
e tocar-te como se tocam os humanos
ardentemente, calafriamente
e se conseguisse escrever esse toque
tornaria este papel sagrado
seria a inspiração de deus.

e escrevo-te, agora sem vez
preciso abrandar minha alma
agigantada por ti, ousada para ti
só para poder evolver-te
como um perfume, agradecida
pelo teu olhar, meu amor
poesia doce do dia.
do teu amador poeta muito amado.

.

até as pedras do caminho
alinhadas no empedrado
se emalham para que saibas
a linha do teu destino
os passos do teu passado

quinta-feira, 20 de junho de 2013

tentação

seduziu-me
a lonjura da minha janela
arrancou-me com ela
tentou-me, para a desvendar
pairando na dimensão dela
fecho os olhos
deliciado à minha janela

alúvio

tua natureza de rio
encontrou-me e viu-me mar
sobre mim jorrou
desaguantemente

inundaste-me
tomaste-me em tuas águas
possantes e irrequietas

e não sendo eu mar
e tu não sendo rio
sabemos
nestas águas não se nada
flutuamos
o que nestas águas afunda
é coisa imunda

nobreza

- porque me proteges?- indagou o lobo.
- és uma criatura do meu reino. - serenou-lhe a princesa, afagando-lhe o pêlo.
o lobo entendeu, reconhecia-se no olhar, e partiu com a alcateia.
a princesa despediu-se com um adeus, até os perder de vista.

felicidade

anda, fura-me a janela
invade-me
leva-me, sem partidas
quero-te
quero-me teu
abraçado, arejado
sem convicções nem certezas
leve como a felicidade
um olhar descontraído
em fim de tarde
morno de poente que serenamente 
entrega à noite o que foi dia

e a ternura da noite, quente
encobre a noite fria

bola de sabão

sem sonhos nem madrugada
deitaste-te em meu peito
porque era o teu lugar
cobriste-te com minha pele
baloiçando ao ritmo do meu pulsar
e sopraste minha alma

levitei, nem sei
agarrei-te a mão
saímos voando
como bola de sabão
coisa mais bela de fazer
como a felicidade plena
surge de coisa tão pequena

descansa em meu peito
onde é o teu lugar

quarta-feira, 19 de junho de 2013

exibição

meu pensamento
coloquei no vento
ficou logo pronto
saiu e foi voar

letras arejadas
palavras enfunadas
velas de caravela
montadas em poema

galgando a onda
liberta-se do tema
exibicionista
só para te agradar

segunda-feira, 17 de junho de 2013

tristeza

a tua tristeza entristeceu em mim
e o mar já não marulha
e as gaivotas são pássaros
e o luar fez-se frio
e sem graça
e as borboletas
tal como as abelhas, são insetos
e as flores são plantas
e o jardim, um mero jardim
e sinto tua tristeza
entristecendo
em mim

luar

haverá luar
quando olhar o céu
e encontrar a lua
tentadora, insinuante
olhando do alto
e sendo amante
far-se-á luar

domingo, 16 de junho de 2013

senhores

tirai da cabeça
aquela parte do intestino
que para lá migrou
por melhor que se tenha instalado
tão bem que fez migrado, o cérebro
que se escapuliu
pelo sítio do evacuado
uma vez incompatível
o maciço cinzento
com o gaseificado destino
de mais abaixo nível

eis a razão
porque vos flatua a voz
e quanto à ideias
as perdeis no saneamento

poeta

mineira, mulher
vive na a força do vento
fantasia de vulcão
peito quente e reluzente
estourando de paixão
doçura em pensamento
tão delicada a flor
no toque
cada uma das pétalas
conta uma história de amor.

jardinamento

eu tinha
sem saber
era minha
a atenção de uma flor
aquele amor de borboleta
uma chegada de andorinha
que por mim se coloriu
de primavera se floriu
talvez...
talvez tivesse

é que eu tenho uma rainha
sendo eu dela, fez-se minha
no reinado de um jardim
somos um feito de dois
namoramos, fazendo pós
semeamos perlim-pim-pim

apelo

solta teu cheiro de poeta
quero inalar teus perfumes
que desenhaste, escrevendo
um a um
de um só repelão
ventania escrita à mão
calmaria com paixão
alma quente
poesia por inteiro

sábado, 15 de junho de 2013

borboleteado

era um voo de borboleta
ondulante
movimento de bailado
diria mesmo
borboleteado
tal era a sua natureza
única
como o poesia
esse voo de borboleta

pensamento

usei metade da minha vida para me afirmar
uso a outra metade para me construir
sabendo que não me faço pelas minhas mãos
ciente que me faço pelas mãos dos meus amigos

sexta-feira, 14 de junho de 2013

ato de contrição

bateste à minha porta, maria
querias a minha mão para levar
sentias a solidão
de nada ter para agarrar
confessaste... rogaste...

abri-te a minha porta, maria
que nunca pude fechar
sempre estiveste em mim
de dentro do limiar, enquanto
eu esperava... tu passavas...

e como ousavas, maria
como os anjos sabem ousar
enquanto... eu... aguardava...
a solidão assolou-te
ferrou-te como um tormento

como lamento, maria
não ter partido contigo
corrido à volta dum mundo
maior que este quarto imundo
onde me amarguei, só

me curti e azedei
aguardando, paciente
teu arrependimento
bateste à minha porta, maria
só, triste e infeliz

e tudo o que eu nos quero, maria
é a felicidade petiz
leva-me todo na mão
ainda que me arrastes pelo chão
não quero aguardar-te em mágoa

quero ousar como tu
meu anjo de ousadia
minha doce maria
acre doçura de gente
maria da poesia

quinta-feira, 13 de junho de 2013

...

talvez haja (ainda) um pouco de mim
em ti, talvez...

se te belisca o corpo, sou eu que não resisto
se te foge o pensamento, sou eu que insisto
se teu peito explode, sou eu que o ateio
se tens saudade de beijo, ficou em ti meu desejo
o formigueiro em teu seio, creio ser o meu anseio
e a inquietude em teu sexo,
meu amor, é lá que eu tenho meu nexo.

declaração

eu,
até já nem me importo de dar amor
porque não tenho outro modo de ser
sempre amador, sempre apaixonado
entrego um pouco de mim
a quem quiser

em teus braços

cheira-me a braços
dos teus abraços
suaves, sempre ternos
carícias
que semeias em meu corpo
como brisas
sopradas pelo carinho
poderoso
dum beijo guloso
cravado em mim
embebecido e embalado
por teus abraços
perfumado de teus braços
delicados
que me ofereceste
a que me entreguei

cheira-me a braços
cheira-me a colo e a regaço
cheira-me a mel do teu corpo
quente, em tarde de outono
de um castanho reluzente
aroma frutado, florido
tão perfumado
tão bom, forte e suave
cheira-me a braços
dos teus abraços

quarta-feira, 12 de junho de 2013

beijo

o beijo que colheste de mim
era teu, nasceu para ti
concebi-o eu
ano a ano, uma vida
de desejo, de saudade, de amor
tudo impregnei no beijo
que sempre foi teu
e em mim nasceu

terça-feira, 11 de junho de 2013

tentação

olá
meu nome é antónio
quando era pequeno rimava
rimava interminavelmente
meu nome com demónio.
era algo que me entristecia
no inverno, cinzento do dia
resignava-me à desgraça
encostado à vidraça
e rimava meu nome antónio
interminavelmente
com o que achava ser sinónimo
por isso eu pecava
em tudo o que fazia, pecava
mesmo quando não queria
eu rimava com demónio
havia sempre alguém que dizia
"antónio, és um demónio"
até a minha namorada
que à época era pequena
e parecia-me apaixonada.

eu cresci
a rima se esqueceu
deixou de ser destino meu
rimar, interminavelmente
mas continuo a pecar
pecando, pecando
não sei se sou demónio
mas ainda me chamo antónio.

sem...

sou aquela noite triste
fria, enregelada
sem paixão, sem corpo
uma noite vazia
sem estrelas e sem luar
sem oração para declamar
sem poema para rezar
sem anjo para invocar
sem musa para adorar
sou aquela noite triste
sem pensamento para elevar
tão só, este modo de estar

descolorido

descorado, um arco-íris
arqueado, dégradé acinzentado
sem sol que o ilumine
nem o raio de um luar que o faça brilhar
será sempre arco-íris
ainda que desbotado

nada

meu destino de hoje é breu
escuro, sem imagem
sem chão nem céu
sem nada e sem que eu queira
algo meu se perdeu
por isso mesmo, por onde sigo
é breu, meu destino

pensamento

dei comigo apanhando cacos
pedaços de algos, partidos, pelo chão
apanhei-os, levei-os no lixo
na partida, deixaram-me saber
poderiam ser lindos painéis
assim se define refazer (a vida)

....

a terra mãe benzeu-a
uma cruz feita de pó
abraçou-a
em sinal de boas-vindas
lembrou-lhe, então, que era pó
soube porque regressara


segunda-feira, 10 de junho de 2013

definitivamente

de quando em vez deseja-se morrer para o mundo
não que se queira morrer, claro está
nem sequer matar o mundo
nem, ainda, qualquer tipo de morte
somente se quer deixar qualquer coisa em qualquer lado
distante, definitivamente

de quando em vez apetece fugir daqui para fora
não que se queira fugir, claro está
muito menos desaparecer
nem, ainda, qualquer tipo de fuga
somente se quer deixar de conviver com algo
o queremos longe, definitivamente

de quando em vez apetece dormir eternamente
não que se queira adormecer, claro está
muito menos para sempre
simplesmente desejamos que o tempo repare tudo
ao acordarmos, definitivamente

porém, pode acontecer haver muitos de "quando em vez"
para desejar morrer, para querer fugir e adormecer
não que seja sempre, claro está
talvez, o suficiente para ilustrar a infelicidade
a nossa, definitivamente

entardecia o dia
eu o sentia, tal como eu
entardeceu
um pôr-do-sol
belo, rechonchudo, corado
morno de quente e de frescura
ideal para uma ternura
barrando um carinho.
mas meu carinho dormia
enquanto o sol desaparecia
e assim anoiteceu
noite escura como breu.

...

gasto, puído do tempo
roto
sequioso de escrita
procurando
queria um mote
que não me falasse de mim
melhor, que nada dissesse
silencioso
só eu falaria, se quisesse
o mote fez-se do silêncio
das letras mudas
que a tradição escreve
sem que se ouçam
presentes, pesam na palavra
significados silenciosos
como os não ditos
que se escapam
do puído corpo
das roturas da alma
pelos silêncios

pensamento

a pior forma de morte
é o sono de fuga
mata em agonia
adormecendo para a vida

sexta-feira, 7 de junho de 2013

dá-me lume

dá-me lume, incendeia-me
quero labaredas, revelações
sarças ardentes
queima-me de corpo e de alma
de pensamentos e emoções
incendeia-me de palavras
pecaminosas confissões
segreda-me
teu desejo fervente
e meus ouvidos ardem
ardidos, ardentes, arderão
prazer
quero lume
incendeia-me

belo canto

tua voz,
inundou-me a alma
acariciou-me o peito
segredou-me a calma
deixou-me a paz
fechou-me os olhos
dançou-me no ar
rodopiou-me
beijou-me, levemente
e partiu, com a magia
como chegou.

6ª à noite

6ª feira e não é dia 13
tomara que fosse
queria algo que acontecesse
que fosse mistério
que fosse macumba
superstição ou nada de sério
tudo o que peço
é que algo aconteça.
que caia um trovão
que venha chuvada
um sol à meia-noite
uma coisa de nada
mas que algo aconteça
logo hoje que é 6ª feira
e por mais que eu deseje
não é dia 13.

happy ending

as almas penavam e os corpos definhavam nelas
como se fossem excrescências
ou outras formas parasitas de existência.
mas não, eram corpos desolados
entregues a si mesmos
porque as almas penavam de males
que os corpos jamais compreenderiam.

era o desalento. quando a dor já não importa
e o corpo, que nada entende para além da dor,
definha de abandono e indiferença;
nada do que sente interessa.

a morte, meu velho,
essa morte medonha que te assusta
não vem hoje. talvez nem chegue.
diz-se por aí que agora se vestiu de branco
e nos sopra como um anjo. quer-se desejada.
também a morte sucumbiu ao desejo
e prefere finais felizes.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

os sons das palavras

as tuas palavras
chegam-me sem sílabas
sons completos como melodias
que cantas, sem proferir
me encantas, me enlevas
na harmonia, na leveza
como soltas
as palavras que me chegam
e não entendo
porque as ouço cantando.

ciúme

eu
que te amo
não sabia
nem sonhava
em teu peito trinava
a agonia de um ciúme
afiado
gume fino cortante
sentimento persistente
retalhante
de confianças
de estimas
dos sonhos

e eu
que te amo
mesmo ao lado
nem sabia
nem via
nem cheirava
esse ciúme
essa dor afiada

meu amor

tentei amar-te até ao fim do mundo
mas o mundo era pequeno

tentei amar-te até à lua
e sobrava tanto amor

tentei amar-te até ao sol e às estrelas
e o meu amor não cabia

tentei amar-te até ao universo
mas o espaço não chegava

então meti meu amor num olhar
e olho-te para to dar
aconchegado de carinho

terça-feira, 4 de junho de 2013

sms

queria soprar-te o rosto
queria afastar-te o mau
aquele que te levou o sorriso
que te entristece o olhar
que te aterroriza o pensamento

soprar-te-ia e diria
não faz mal, já passou
e abraçar-te-ia no peito
forte, mais forte e mais forte
só para que soubesses
onde é o teu lugar

segunda-feira, 3 de junho de 2013

pensamento

revoltam-se as entranhas
quando o esquecimento se apresenta como virtude

meu desejo

deixaria cair minha cara em teu peito
aí fecharia os olhos
não que queira dormir ou descansar
só preciso sentir-te mais e melhor
e saberias como sou teu

anomia da paixão

o que eu teria para ti
num lugar diferente
perto do sol
iluminado de luar
andarolávamos no rio
passeando à beira-estrada corrente
as árvores como algas
os pássaros como peixes
e os peixes como estrelas
flutuantes, prateadas
pelo luar
que eu teria para ti
se o mundo se vertesse
no peito
onde o sangue se insufla de ar
onde fervem os vulcões
onde o mar bate forte
e se entalha na areia
puro prazer de espraiar
que teria para ti
num sonho de mundo sonhado
onde os amantes se fundem
de alma, sorriso
tudo no mesmo olhar
perdidamente apaixonado
que eu teria para ti
num mundo de pura paixão
sendo essa a sua razão.

pensamento solto

que o dia te traga poesia
o melhor unguento
para dor de crescimento

sábado, 1 de junho de 2013

à vossa

embebedei-me de vós
amigos poetas
profetas da poesia

embebedei-me
das vossas palavras
do vosso peito

embebedei-me
dos vossos sonhos
dos vossos desalentos

embebedei-me
do vosso pensamento
da vossa atenção

embebedei-me de vós
e sinto-me orgulhoso
desta forma ébria
de vos sentir em poesia

pensamento

poderoso
um pensamento
silencioso
inquieto
inviolável
permanente
laborioso
produtor de ideias
construtor de ideais
rico
é pensamento
nada mais

a gente e o mar

junto à escarpa
abri os braços
precisava voar ao vento
que é o sopro do mar
sentir a aragem no rosto
no sovaco 
ser abraçado de fresco
como só vento sabe abraçar
ao som do ronco do mar
grave, longo e profundo
saído do peito que  é o mundo
a gente dá-lhe a batida
e o coração a pulsar
pum-pum, pum-pum
e o mar bateu poderoso
aspergiu-me vigoroso
salpicos de água-benta
a emoção da comunhão
junto à escarpa
um abraço de gente e de mar