terça-feira, 28 de julho de 2015

o amor é-me a realidade mais bela e pelo sonho não a consigo alcançar.
sempre que sonhei o amor nunca me aproximei da realidade de amar e de sentir-me amado: é surpreendente demais para poder ser antecipado e a imaginação revela-se escassa.
amor desfruta-se; o que também é amar.

do degredo a carta

meu amor,
se eu desaparecer
não pode ser
não poderá ser
e não será

ser português

por vezes ataca-me uma ideia
no português há um mar
bem no centro de si mesmo
para onde confluem todos os rios
todas as veias e artérias
a correnteza pulsa
penso que nela o mar aprendeu a ondear

sexta-feira, 24 de julho de 2015

portugal 2014

de que farei sonhos
se as palavras que uso não gosto
são gastas hediondas

ágora preciso vestir-te
para me preencher

não vejo senão a água dos sonhos
nossos

não quero senão o mistério dos olhos
teus

não vivo senão o vício de ser
amante

e outras essências cristalinas em água
pura

morrer

ir sozinho
onde a solidão mora
é partir
caminhando só

quinta-feira, 23 de julho de 2015

corrente

há linhas que enleio em si mesmas
fossem ideias em redondo de letras
ou de seixos de rio, ora rebolam
ora se aquietam
no fundo sempre se arredondam
a mensagem corre e eles lá dentro
o marulhar fresco da poética
ouve-se, ouço-a

...
o silêncio em torno da rosa existe
e contém a melodia das pétalas

quarta-feira, 22 de julho de 2015

é esdrúxula
esta repartição do tempo
este suceder: vida em folhetins
que merda!, digo eu
que (tanto) odeio telenovelas

terça-feira, 21 de julho de 2015

biografia

nunca me suspeitei, eu mesmo
poeta de escrita vadia
um dizer de sentir
que é o meu sentido
vadio de nascença
domado de educação

anda a mim, andarilhou a calçada 
voarei p´ra ti, voou a ave

o homem sonha e acontece a vida 
o poeta rasura letras ao tecer borboletas

povo

no jardim onde as flores eram impedidas
de florir, aguardava-se que florisse o ar
jogaram-se, os coloridos, nos bancos de si vermelhos
os pássaros desabrocharam das árvores
florir era preciso
e floriu quando o todo quis

quinta-feira, 16 de julho de 2015

viver por algo é a maior dedicação
gastam-se todos os momentos de uma vida inteira
uma boa janela é sempre um lugar de perdição.
sei-o porque é lá que me encontro
...
nesta europa, como no céu,
os anjos recusam despojar-se das asas...

voar é um desígnio dos homens que sonham
sabe-se...

partiu para onde o lugar o faria feliz
amava a ideia de chegada
alimentavam-no as ânsias da partida
confortava-o o retorno como possibilidade
mas vida, vida mesmo era o movimento
e a felicidade descortinava-se além
longe ao alcance da vista

meu deus

gosto de um deus que se distrai
ou que se baralha
que se edita em formatos com sentido de humor
e concede os contrários

gosto de um deus com desfaçatez
desconcertante na ingenuidade
que a sabedoria tem
que a ignorância esconde

efémero

ainda a folha não tocara o chão
o outono já não estava para a aguardar

gostava que a aguardassem
aquela espécie de agrado que faz quem ama

o outono é precoce à chegada e na partida
pertence-lhe um morno doce pós-escaldante

é sereno amarelo-avermelhado de aconchego
antes do frio gelo cinza até ao branco alvo

na folha o mudar da cor
superlativa a perfeição da vida

e completa-se - a folha - pairando
esbanja-se a um voo de borboleta

segunda-feira, 13 de julho de 2015

auto-atrevimento

como todos
tinha para si próprio um desígnio
antes encobrira-o
um receio enorme em o definir
era o pavor de não o alcançar
definhava, engordando o medo

antes navegava
no ecrã uma vida sem sobressaltos
virtualmente debelava as ânsias

agora que o adamastor estava em si mesmo
fustigavam-no tempestades medonhas

no horizonte permanente
o que fora tormenta era boa esperança

sábado, 11 de julho de 2015

tenho tendência a circular no lado de fora
e nem sempre me sinto arejando

fechamento

encerraram-se as portas, ou foram encerradas
a escuridão sempre senhora
instalou-se arqueando o corpo
monumental, franqueando a luz.
as trevas surgiram-lhe debaixo do vestido
irrequietas devoradoras medonhas
insaciáveis, alimentam-se dos medos
que criam e crescem, umas e outros
gordos, frios, negros e sujos.
o que lhes reluz no corpo vem do íntimo
terrores que os tornam visíveis
aparecem no encerramento, de tudo
e das portas, atacam o que fica lá dentro.
também o inferno é um feito de homens.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

maternidade

no fruto do teu ventre descobriste
o mais, muito mais
encontraste a infinitude
sob a forma de amor crescente
o que tu cresceste além de ti
em teu seio a felicidade leva-te ao colo

ainda o movimento

solidariedade é uma onda
como o abandono e tudo o que é humano
como o mar que entendemos
como se fossemos nós mesmos

imaginação

há um sítio
onde a forma tem lugar
para acontecer
sem limites

domingo, 5 de julho de 2015

cor da escrita

o que se escreve das manhãs não chama o vento nem o faz
não gera o movimento entre as folhas e as flores e os pássaros 
dá-lhes significado que é uma espécie de colorido

sexta-feira, 3 de julho de 2015