quarta-feira, 30 de setembro de 2015

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

"... o neoliberalismo não tem futuro!
a vida tem a última palavra ..."

todas as vezes que olhares em frente verás o sol nascer.
sempre que olhares o teu smartphone verás todas as aplicações que couberem no pequeno ecrã e
perguntar-te-ás, para que servem, que faria eu se não as tivesse, ou
não perguntarás nada porque perdeste o hábito de perguntar e, pior que tudo, de te interrogares.
e ser-te-á indiferente essa treta do sol-nascente.

ouçam a erva nascer
escutarão a voz do povo
burburinho crescente
agora em tom de lamento
agora tingida de medo
o que ouvem sussurro
é grito à vossa surdez

excênctrico

a um canto
uma parede encontra outra
surrealmente
plantada para a encontrar

uma mesa
uma cadeira e mais outra
uma lâmpada e as sombras, tantas
une-as a coerência da cor, a um canto
vultos e sombras têm-se

uma pessoa
e outra pessoa estão, no canto
com os objetos gesticulam o movimento
as sombras, antes inertes, emaranham pelas paredes
cobrem o teto e rasam o chão
partem do canto

as vozes cruzam-se
também com o timbre das coisas
o som dá volume, singelo canto
cheio acolhe no seio
a vida que de si parte.
um canto, quem diria?

viagem

escreve-se a beira-mar
na linha de água o sossego
das pegadas moldadas grão a grão
soam como palavras
profundas distintas ordenadas
a perder de vista
o texto perfeito

escreve-se a manhã
sustida no canto dos pássaros
emplumam-se as nuvens
enfunam-se voos em todas as direções
laicos a perder de vista
em todos os sentidos
o texto perfeito

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

vão

vão.
o do mar é longo e profundo
enche-se de peixes
e florescem-lhe as algas;
agita-se de todas as nuvens
emprenha-se de todas as aves
perfuma-se de todos os ventos.
aos montes confere as vistas.

vão
as águas em rios e lagos
até aos mares, onde foram nascidas e
infinitamente criadas;
levam toda a prata que a vista alcança
escorrem nelas todas as vidas,
as acalentam como se fosse um embalo

e vão.
que vão é inúmero,
prenhe de tudos e ausências;
a forma em criação
tecida de olhares
ideias e coisas,
obras da imaginação.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

à porta

aguardo à porta!
sinto todas as portas onde se aguarda. sinto (!)
a putice que encerram;
são putas,
de putice em portas que fazem aguardar:
o mesmo que jogar tempo ao inferno,
onde tudo arde, até ao arrependimento, de esperar.
continuo ferido de putice,
isto é, manietado aguardando,
com tanta vida para viver e
aguardo, espero, sossego, arrefeço
ou tento arrefecer e ardo à porta,
à puta da porta que odeio até ao desprezo.
ah! como eu odeio e desprezo a incompetência
de quem se faz esperar,
de quem vive esta forma de se afirmar,
putice que tanto odeio.

a despedida

adeus, é o que fazes paulatinamente
vais-te perdendo nos poucos nadas
despedes-te sem dizeres e sem palavras
demoras atos simples que já foram reflexo
cuidas eternidades e sobeja-te o tempo
alongas o presente
o que sentes é mudo como a tristeza
teu pesar vem do que amas
e desamar não consegues
habituaste-te a ser feliz e não queres partir

pressentes o frio no corpo
ouves ranger
a noite já não tem silêncio
e o silêncio já não tem paz

meus sonhos guardo-os
como rebanhos, apascento-os;
engalfinham-se brincalhões,
bem alimentados a verde de erva e
a doirado de sol banhado em azul céu,
onde as nuvens passeiam em rebanho, também
pastoreio.

as coisas vãs ouço-as, andam;
arrebanham-se os chocalhos
em melodia em movimento,
forma e volume em poema
ímpeto em texto não justificado.
da lã se toma o conforto
como o quisermos urdir.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

sonho firme

manuel, firme, olhando
o papagaio de papel, zelando
o sonho que era seu

manuel tomou-o na mão
estudou o vento, correu
num alancão botou-o ao ar

ao cordel manobra-o atento
agora voa o papagaio
manuel sente o sonhar

domingo, 13 de setembro de 2015

maldade

vivia nos confins da vida
era má
fizera-se má
diziam-na má
à oportunidade de melhorar
negou-a
era má
e não saberia ser boa

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

um país de velhos

um país de velhos é um país medroso
e não alcança;
num país de velhos o certo vale mais
porque há certeza na previsibilidade;
num país de velhos prefere-se a certeza da morte
à imprevisibilidade da vida;
num país de velhos teme-se a a morte
porque é imprevisível a vida além dela;
num país de velhos os jovens são incautos
e tudo o que reluz é passado;
num país de velhos as crianças nascem velhos;
um país de velhos é encolhido e sossegado
o pouco chega "graças a deus";
um país de velhos deixa partir os jovens e não pode lutar;
um país de velhos pelo medo se faz medroso
num país de velhos o futuro apaga-se.

desenho para colorir

pintei sempre dentro das linhas,
tive cuidado, 
nunca passei o risco. 

podias passar só um bocadinho.

a professora não gostava.

podias pintar só do lado de fora
e também não passavas o risco.

e diziam que eu era maluco.

alguém te disse isso?

não.
mas também não pinto do lado de fora.

muito bem.

ocaso

onde o sol se apaga
em forma avermelhada
que o sol alonga
é tua a vista
onde plantas os momentos
todos numa só mirada
enchem-te o sorriso
que ao sol inspira

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

 a melhor lei não precisa de ser escrita. 
porém, é respeitada por todos, ainda antes de ser cumprida. 

outono

encontrei
o melhor poema do mundo
inscrito no ar
desprende-se a folha e rodopiar
sem uma palavra
encheu-me
de tudo, senti-lhe a alma
tomara fosse minha.
já o ouvira
e visto já o tinha
mas nunca o li.
quis-se momento
fez-se poema
rodopiou-me
ali.

amargura

há um recanto
naquele muro que o sol tinge
a negro onde a sombra se revela
a daquele muro
do recanto que tem
que o sol não penetra
não há porta ou janela que o deixe entrar.

há sombras que são estados de alma
tal como os muros e os recantos
que o sol nunca varre.
lá vivem líquenes e musgos
e o encanto que guardam rejubilaria ao roçar do sol
abrissem-se as portas
descerrassem-se as janelas
pudesse entrar um raio de alegria.

burburinho da manhã

a música diz-se nos passos
o movimento dos corpos é uno
o sol fortalece as cores que estoiram o fundo
pulula a manhã acabadinha de acender

a morte

a morte insinua-se
é uma ideia que não deixa muita coisa acontecer
até que aparece arrebatadora
só, mas dissimulada, como é seu feitio

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

rumo

busco a solidão do encontro
colho o só da palavra
e destilo-o no sentimento.
do convívio habito os silêncios.
os sons, por fora, são ruídos impenetráveis
por dentro, são fantasias e afagam.
no silêncio assenta o promontório.
só, um método para arrumar rumos.

onde rebentam as ondas, sonhos e pesadelos

por fim resta a areia de uma praia
o rebentar das ondas que afagam
o rosto que a morte te deu.
o sorriso que fora teu, acabou
envergas vermelho-azul notável
vulto de boneco caído no areal
arrepiaste a surdez cega e muda
a razão porque os muros são construídos
após o dia em que foram demolidos.
a consciência, onde existe, está doída
a praia tomou-te o corpo
velado por ondas mansas
o retrato é o pesar em momento
em que naufragamos.
como teu pai morreremos sempre
até depois do esquecimento
a teu pai o desgosto
a nós a vergonha da passividade
o nosso horror.