sonha
a noite lá vem
aquele fundo escuro
o teu sonho a iluminará
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
calafrio
cai sobre mim teu olhar
onda do mar
sonho de pássaro que ousa
voar
sopro de asa
rocio em sal
abençoado
onda do mar
sonho de pássaro que ousa
voar
sopro de asa
rocio em sal
abençoado
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
a palavra
adeus
era a palavra
que usei
por não saber mais
nenhuma
adeus
foi a palavra
que tinha
quando nada era
ainda
adeus
sempre a palavra
que pulsava
e nada mais havia
já
era a palavra
que usei
por não saber mais
nenhuma
adeus
foi a palavra
que tinha
quando nada era
ainda
adeus
sempre a palavra
que pulsava
e nada mais havia
já
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
a rua
quem quer mesmo perder o jeito
perder mesmo, seja qual for
saia de si
mostre-se à porta
ouse entrar na rua
rua mesmo
onde o mundo de expõe
passando
onde se entra nele
e passamos com ele sem entrar em casa
depois faça-se a viagem em sentido inverso
se se quiser
se houver audácia
e se retornarmos a casa, por termos cruzado com ela
descanse-se
casa é o melhor sítio para descansar
e a rua o melhor sítio para perder
onde tudo se encontra
que a rua acontece
perder mesmo, seja qual for
saia de si
mostre-se à porta
ouse entrar na rua
rua mesmo
onde o mundo de expõe
passando
onde se entra nele
e passamos com ele sem entrar em casa
depois faça-se a viagem em sentido inverso
se se quiser
se houver audácia
e se retornarmos a casa, por termos cruzado com ela
descanse-se
casa é o melhor sítio para descansar
e a rua o melhor sítio para perder
onde tudo se encontra
que a rua acontece
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
dos indicadores
a melhor maneira de desumanizar uma sociedade
é descrevê-la por indicadores
numéricos, assépticos, inodoros;
permitem escalpelizar a realidade
numérica, neste caso.
já agora, qual é o indicador de dignidade?
e o de responsabilidade?
e o de racionalidade(?)
no qual assenta toada esta visão "indicadora" das pessoas
no mundo?
quando os números se tornam mais importantes que as palavras
e estas mais importantes que os olhares
a humanidade mortifica-se
pela perda de humanismo.
desconheço a fórmula matemática da dor
da vergonha ou da indiferença
mas sinto-as nas faces,
mais profundamente nos olhos,
nos gestos, grandes e pequenos,
e sei-a sem indicadores
e sei-lhe a grandeza
e sei, ainda, da grandeza de quem sente.
depois há o uso que se faz do indicador
serve para perceber o que falta
e para ir mais além em humanismo (?)
ou serve para justificar a opção pela desumanização
pelo desacato entre grupos
pelo desvio à responsabilidade individual pelo coletivo,
à solidariedade
ou, ainda, para exacerbar uma visão racional
asséptica, inodora. insensível
em análises numéricas, indagando-se
e descobrindo-se sempre - sempre mesmo - alguém
nalgum lugar do mundo
que fez algo, ainda que momentaneamente,
que nos confirma a veracidade
a fundamental
realidade aqueles dígitos
seguidos de uma percentagem
e uma legenda: o indicador
será perfeito se tiver um sinal de moeda
será sublime, se de um magnânime mercado
essa abstração em forma de deus.
trouxeram-nos um bezerro de ouro
fizeram-se sumo-sacerdotes e entoam rituais de sacrifício
propõem-se oferendas; alguns de entre nós, os estropiados.
nos altares erguem-se bem alto dizeres de merecimento do castigo
sacrificam-se alguns para que outros sobrevivam
o que só acontecerá - sobreviver-se - pela benevolência
de um ídolo ourado que precisa de povo para o adorar
e esperam que o povo aclame, em uníssono.
o bezerro é o mesmo de todos os tempos
e os sumo-sacerdotes também
o povo já não aprova e não é unissonante
esse é o sinal do crescimento civilizacional
e esta civilização já deixou o ritual ir longe demais
ainda que todos os indicadores - escolhidos - apontem o contrário.
é descrevê-la por indicadores
numéricos, assépticos, inodoros;
permitem escalpelizar a realidade
numérica, neste caso.
já agora, qual é o indicador de dignidade?
e o de responsabilidade?
e o de racionalidade(?)
no qual assenta toada esta visão "indicadora" das pessoas
no mundo?
quando os números se tornam mais importantes que as palavras
e estas mais importantes que os olhares
a humanidade mortifica-se
pela perda de humanismo.
desconheço a fórmula matemática da dor
da vergonha ou da indiferença
mas sinto-as nas faces,
mais profundamente nos olhos,
nos gestos, grandes e pequenos,
e sei-a sem indicadores
e sei-lhe a grandeza
e sei, ainda, da grandeza de quem sente.
depois há o uso que se faz do indicador
serve para perceber o que falta
e para ir mais além em humanismo (?)
ou serve para justificar a opção pela desumanização
pelo desacato entre grupos
pelo desvio à responsabilidade individual pelo coletivo,
à solidariedade
ou, ainda, para exacerbar uma visão racional
asséptica, inodora. insensível
em análises numéricas, indagando-se
e descobrindo-se sempre - sempre mesmo - alguém
nalgum lugar do mundo
que fez algo, ainda que momentaneamente,
que nos confirma a veracidade
a fundamental
realidade aqueles dígitos
seguidos de uma percentagem
e uma legenda: o indicador
será perfeito se tiver um sinal de moeda
será sublime, se de um magnânime mercado
essa abstração em forma de deus.
trouxeram-nos um bezerro de ouro
fizeram-se sumo-sacerdotes e entoam rituais de sacrifício
propõem-se oferendas; alguns de entre nós, os estropiados.
nos altares erguem-se bem alto dizeres de merecimento do castigo
sacrificam-se alguns para que outros sobrevivam
o que só acontecerá - sobreviver-se - pela benevolência
de um ídolo ourado que precisa de povo para o adorar
e esperam que o povo aclame, em uníssono.
o bezerro é o mesmo de todos os tempos
e os sumo-sacerdotes também
o povo já não aprova e não é unissonante
esse é o sinal do crescimento civilizacional
e esta civilização já deixou o ritual ir longe demais
ainda que todos os indicadores - escolhidos - apontem o contrário.
domingo, 19 de outubro de 2014
das mulheres
das mulheres há o encanto
como nomeiam as estações
e como alimentam pelos olhos
o asseio colorido da primavera
o calor tórrido que os verões têm
ou a doçura em morno aroma do outono
ou, ainda, a pureza branca do frio inverno
talhei-me de encantos
ainda nos tempos da minha avó
nos olhos seus, baços de quase cegos,
giravam, cristalinas, todas as estações dos anos
e se desprendiam matizes várias
aromas, cores, sabores e temperaturas
as mulheres nunca envelhecem
acarinham o tempo nas histórias suas
encantos que afagam como bonecas
e, por magia, a vida se adentra
como nomeiam as estações
e como alimentam pelos olhos
o asseio colorido da primavera
o calor tórrido que os verões têm
ou a doçura em morno aroma do outono
ou, ainda, a pureza branca do frio inverno
talhei-me de encantos
ainda nos tempos da minha avó
nos olhos seus, baços de quase cegos,
giravam, cristalinas, todas as estações dos anos
e se desprendiam matizes várias
aromas, cores, sabores e temperaturas
as mulheres nunca envelhecem
acarinham o tempo nas histórias suas
encantos que afagam como bonecas
e, por magia, a vida se adentra
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
diálogo de um amor normal
ainda não sei
porque não sei dizer-te
o que sei.
não será bem o que sei
é mais o que sinto
e que não sei dizer.
em mim coração e pensamento
andam embrulhados desde sempre
soam a amantes apaixonados
de contornos indistintos
creio, não se importarem com isso
nem com as palavras das descrições.
uma vez apanhei-os a confidenciar
"que importam as palavras e o descrever?"
ao que o outro emendou
"será deslumbrante, caso não se perca o momento
a magia o sentir e o sentimento"
eu concordei e confirmei.
o que dizer agora
que me afoga a felicidade
algo teu cruzou comigo
calo-me sorrio silencio-me
sossego
nunca sei o que digo
porque não sei dizer-te
o que sei.
não será bem o que sei
é mais o que sinto
e que não sei dizer.
em mim coração e pensamento
andam embrulhados desde sempre
soam a amantes apaixonados
de contornos indistintos
creio, não se importarem com isso
nem com as palavras das descrições.
uma vez apanhei-os a confidenciar
"que importam as palavras e o descrever?"
ao que o outro emendou
"será deslumbrante, caso não se perca o momento
a magia o sentir e o sentimento"
eu concordei e confirmei.
o que dizer agora
que me afoga a felicidade
algo teu cruzou comigo
calo-me sorrio silencio-me
sossego
nunca sei o que digo
terça-feira, 14 de outubro de 2014
volátil
a palavra
infinita inacabada e perfeita
o poema
drapeio parábola do vento
provém e eleva
nas dobras guarda o sentido
infinita inacabada e perfeita
o poema
drapeio parábola do vento
provém e eleva
nas dobras guarda o sentido
presciência
havia, de onde tu vinhas
um sorriso ainda vivo em teu rosto
– de onde chegas? quis eu saber
– de onde me beijarás
eu sonhava fazer-te feliz
tu já tinhas sonhado este agora
um sorriso ainda vivo em teu rosto
– de onde chegas? quis eu saber
– de onde me beijarás
eu sonhava fazer-te feliz
tu já tinhas sonhado este agora
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
da chuva
da chuva, eu desconhecia
que ela mesma fazia
muita água correr
também encontrei água sentida
por ter sido impedida
de, à chuva, passear
contou-me que se empoçou
queria sentir o céu
e o toque do seu pingar
que ela mesma fazia
muita água correr
também encontrei água sentida
por ter sido impedida
de, à chuva, passear
contou-me que se empoçou
queria sentir o céu
e o toque do seu pingar
terça-feira, 7 de outubro de 2014
filho
a tua presença transfigura-me
homem, vejo-me pai
o centro do teu olhar tocou-me
rebentou-se o orgulho em mim
já dizes "não" com sabedoria
e o teu "sim" é concordância e consentimento
já não tenho chocolates no bolso
ofereço-te a discreta admiração num sorriso leve
cuido o teu lugar em meu colo
homem, vejo-me pai
o centro do teu olhar tocou-me
rebentou-se o orgulho em mim
já dizes "não" com sabedoria
e o teu "sim" é concordância e consentimento
já não tenho chocolates no bolso
ofereço-te a discreta admiração num sorriso leve
cuido o teu lugar em meu colo
meu filho
maravilhei-o com os olhos antes de pegar-lhe
queria dar-lhe o colo perfeito e não fiz planos de futuro
acho que temi errar na fantasia
gostei da ideia de sermos felizes ao sabermos um do outro
já no colo, estranhei que tanto amor pesasse tão pouco
aconcheguei-o o mais que pude e meu corpo fez-se ninho
procurei os olhos da mãe, tinha que dar-lhe daquela felicidade
saiu-me: – "tão lindo, ...tem os olhos como os teus..."
esta 1.ª vez aconteceu-me 2 vezes
queria dar-lhe o colo perfeito e não fiz planos de futuro
acho que temi errar na fantasia
gostei da ideia de sermos felizes ao sabermos um do outro
já no colo, estranhei que tanto amor pesasse tão pouco
aconcheguei-o o mais que pude e meu corpo fez-se ninho
procurei os olhos da mãe, tinha que dar-lhe daquela felicidade
saiu-me: – "tão lindo, ...tem os olhos como os teus..."
esta 1.ª vez aconteceu-me 2 vezes
minha mãe entrou no céu de menino ao colo
no colo de mãe os corpos moldam-se pelo exterior
o molde é a ideia bem de dentro
lembro-me de tudo do colo da minha mãe
do calor, do cheiro e do carinho
do toque que a mão dela soltava ao segurar-me
esta ideia de colo é-me um tesouro
minha mãe disse-me com tudo que estávamos no céu
depois chamou-me "meu anjo" dentro dum sorriso
eu ainda não falava e não disse nada
ela percebeu tudo
no colo de mãe os corpos moldam-se pelo exterior
o molde é a ideia bem de dentro
lembro-me de tudo do colo da minha mãe
do calor, do cheiro e do carinho
do toque que a mão dela soltava ao segurar-me
esta ideia de colo é-me um tesouro
minha mãe disse-me com tudo que estávamos no céu
depois chamou-me "meu anjo" dentro dum sorriso
eu ainda não falava e não disse nada
ela percebeu tudo
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
voz do poema
fosse eu cantor
e entoaria os poemas
com a toada que os sonho
soaria a forma
o voltar da folha
o rasgar do papel
o sussurro da caneta
o toque do caderno
entre o abrir e o encerrar
até ao bolso
Subscrever:
Mensagens (Atom)