quinta-feira, 28 de julho de 2016

i.
as flores se aprimoram por gerações
para seduzirem, o que fazem com mestria:
são belas, ainda que se desconheça o propósito:
algumas para se alimentarem,
outras pelo nobre desígnio da reprodução

ii.
há um vento que concorda comigo
falo e ouve-me
ouço-o, responde-me rumor de folhas
e refresca-me
a cadeira em que repouso bamboleia
suave, pendulando concordância

quarta-feira, 27 de julho de 2016

ao rubro
é onde a dança nos põe
no olho da ebulição
o gesto deflagra movimento
há um inconsciente nisto
e a graciosidade que se espelha
vem de dentro

o rei dos peixes

eu pequeno
à lareira, meu avô dizia histórias fantásticas,
chamava-as de contos.
adorávamos o do rei dos peixes,
sabíamo-lo de cor: magnífico.
meu avô enchia-nos do melhor que imaginávamos,
era o rei, tal a força da sua generosidade,
eu era peixe para ter um rei assim

quarta-feira, 20 de julho de 2016

ares da beira-mar

o marulho deste mar tem
ondas pequenas, chegam e
enrolam-se nas pedras às risadinhas

vejo as pedras hilariarem-se pelo contorno
das ondas e pelos banhos de salpicos

foliam duas formas da mesma realidade

ao largo, as ondas são mais
vigorosas: enormes roncadoras como
fossem soltas de longa clausura
ou
empurradas por força maior
que desconhecem

provirão da agitação dos peixes
pujantes no bater de barbatanas e
nos jorros de água que expelem de guelras arejadas
ou
ainda, serão coisa de sereia:
sabe-se que instigam o mar
que ondula a voz de água e sal
em melopeia de encanto, se matiza
a aragem, cantando

a realidade tem uma presença de vento
toma todas as formas, até as mais invisíveis

sexta-feira, 15 de julho de 2016

o sopro

tomou a chama dourada
da vela enchameada
o pavio fumegou
afirmava a tristeza
pelo brilho que se apagou

dizer

no íntimo de
cada palavra vive
uma ideia que se aprimora
para ser numa história

é coisa breve de brisa
como borboleteando
obtém um quase soletrado
encorpando a natureza do voo