segunda-feira, 22 de maio de 2017

silêncio em 12 estações

i.
há um truque qualquer, topei-o
sumido como se fosse na areia.

era de um sólido quase palpável
até invisível. creio que
por isso o encontrei


ii.
contei a mim próprio
todo o movimento eu tinha
para o mar

ondas a secarem-se nas rochas,
quase transparentes,
a espuma, branca, é a dos dias


iii.
há sempre alguém que se senta vazio
para descansar de nadas cansativos

se aturde pelo inesperado
que o invulgar tem: quase ilógico

e pela consciência de ser quase
(um) engano da sua própria existência

há sempre alguém que torpedeia as banalidades
e nos desflora até ao olhar

sorte! é tropeçar inadvertidamente na cegueira
e despertar


iv.
emociono-me
com o que sinto, não há palavras
para dizer


v.
silêncio no olhar
germina a ideia
peregrina
silenciosa


vi.
a assimetria das linhas no rosto revelava
minúsculos desentendimentos básicos entre as faces
cada uma com seu modo de ver


vii.
olhei
um rosto de silêncios estampados


viii.
invernia
diariamente
a noite chega
mais cedo
mais tarde parte
mais tempo fica
mais tempo dura


ix.
teu nome
um regaço em concha
aberto par-em-par
vista ampla para o mar

x.
às palavras
soletrei-as para desnudar
traços das parte íntimas
impronunciáveis
agora que as sonho
brindamo-nos na intimidade


xi.
tocou-me
uma longueza penetrante
chegada de uma lonjura impossível
o olhar fito de uma criança
trazia a ingenuidade sem lugar para vergonha


xii.
tens suspiros no olhar
acomodam coisas de acontecer
simples como teimosias
de aparência intermitente

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