domingo, 22 de outubro de 2017

o silêncio ensurdece quem dele abusa
é uma estirpe fastidiosa
de colher tédio

os regalos volatizam-se
soam a carrossel
suspendem-se na melhor volta
pelos olhos me incendeias
uma verdade forjada a fogo
indelével, a paixão
o sonho é
uma forma poética do desejo:
imiscui-se nas realidades e urde
o encantamento: o mesmo que
compõe cantos dos chilreios
escuta murmúrios nos marulhos
sorve frescura no gélido:
é ser inocência sem idade:
toma o pico de uma euforia sem tempo
alimenta a serenidade do entardecer

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

alguém terá a verdadeira noção de
quantos dias tem o ano?
meu dia, hoje, teve muitos dias
tantos que me esqueci de os contar
ou me perdi, perco-me sempre
na contabilidade dos dias
talvez porque sopro para o ar
na intenção de assobiar sopro as horas
voam como aviões de papel
longas e soltas, pousando aqui
e ali onde as cores chilreiam
desafiando a física do movimento
testando a química da emoção
e eu que não sei assobiar
que também não sei contar voos
esqueço-me
esqueço-me dos quantos vão
esqueço-me de mudar de dia
esqueço-me que não sei assobiar
e sopro
sopro e murmuro os dias todos de hoje
também os de amanhã, os de ontem, os de sempre
citá-os-ia como ladainha se
disso ocorresse necessidade
recordo-os como os vivo
indispensáveis, revigorantes como um banho
e imerso suponho-me onde as cores tagarelam
onde os pássaros doiram horas coloridas
que gracejam como aviões de papel felizes
alguém terá, realmente, a noção de quantos dias tem o ano?
e da insignificância dessa conta?
dessa impossibilidade insolente?