sexta-feira, 11 de março de 2011

Cá estou para falar contigo

Cá estou eu mais uma vez para falar contigo intimidade sem fundo, como o poço. Recebes, não respondes, não repetes, ficas muda e queda.

Também desta vez o motivo da escrita não é nada bom. Meu amigo vai morrer. Desistiu para vida entregando-se aos mimos dos ganhos secundários de estar doente. Isso também mata. Surpreende-me a dignidade que se esforça por manter de modo hercúleo. Nada de ambulâncias, nada de pijamas nas deslocações ao hospital. Vestido e de carro como sempre fez para sair de casa. Trata-se de  mais uma saída de casa, de um passeio ou de uma ida ao tribunal (que sempre gostou), e é com esta indiferença que trata a doença e a morte. Não se veste para elas. Resistência passiva....

É a 2ª vez que sinto a morte em alguém aproximando-se com uma assertividade inabalável. Da primeira vez não me saí muito bem, ignorei o que adivinhava e sabia. Desisti e senti que assim já não valia a pena.
Desta vez está a custar-me desistir mas quando insisto magoo. Magoo alguém de quem gosto e nada fica melhor.

Desistir e baixar os braços dói mas às vezes é a única forma de ajudar o nosso amigo. Deixar a vida acontecer e fazer parte do dia-a-dia é a melhor ajuda que se pode dar, pela serenidade que se pode propiciar. Ao fim e ao cabo também é isso que eu quero de ti...

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