sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Brindemos: "à nossa"

Um brinde. Tilintam os copos ao som melódico do "à nossa" sobre o fundo de um pôr-do-sol, real, pelo calor que se sente e pela luminosidade rasante que resplandece os líquidos das nossas taças e que pronuncia as formas dos nossos corpos. O teu rosto ganha um fascínio algo enigmático onde as sombras, nos diversos matizes, ganham um papel importante na leitura que faço das tuas expressões.

Levamos o copo à boca sincronizados numa vigia de quem deseja, acima de tudo, estar no ritmo, como se de uma dança se tratasse. Dou um gole grande que engulo devagar, refrescando-me, fecho os olhos prolongando o momento...

Perscruto-te no teu pensar, no teu sentir, na tua linguagem corporal que não se revela, indago o teu olhar que não se deixa prender no meu. Falamos sobre coisas mundanas evitando tomar partido, cingimo-nos a factos e não expomos as nossas interpretações. Falo sereno, dou-te tempo mantenho uma pose de braços afastados informando-te, secretamente, da minha disponibilidade para ser continente, seja qual for o conteúdo.

Vejo-te alinhada na perfeição da cabeça aos pés. Estes assentam no chão com aprumo, mantendo-te um bom apoio, apesar de estarmos sentados. Tua maquilhagem é perfeita, discreta e tudo está no sítio. Teu corpo, hirto, solta palavras e liberta sorrisos parecendo utilizar somente os músculos da face. Impressionante, nem a cabeça desalinha. Teus joelhos belos, compõem-se formosamente, repousando.

As tuas mãos movem-se em círculos e elipses, acariciam o copo, o tampo da mesa e acariciam-se uma à outra; não param. Desejo tocar-lhes explorar seu toque, indagar sobre a tua pele. Tento o toque casual - acidente - mas as tuas mãos coordenam-se na perfeição e não querem perturbar o espaço que vou ocupando em direcção a ti, ao alargar a minha pose. Falas, sorrio, mas não te ouço; sigo as tuas mãos.

Apanhei a tua mão direita com a minha esquerda. Consentiste, a resistência foi só inicial. Olhei-te nos olhos, vejo-os perfeitos, lindos, profundamente doces e quentes, não têm o gelo que esperava encontrar. Teu corpo agora é um arco para a direita. Tua cabeça agora inclinada e voltada para baixo revela outras linhas do teu rosto; recorte de queixo e implantação das orelhas; impõe que o teu olhar agora esteja erguido para mim. Meu corpo reage interiormente e tu sente-lo pelo meu toque.

Tua mão relaxa, e foge-me da garganta um pensamento: - "que linda ficaste". Ruboresceste de leve, desviaste o olhar por uma fracção de segundo e logo voltou mais brilhante. Continuamos falando de assuntos mundanos mas agora com emoção e sentimento. A conversa ganhou um outro sentido. A tua mímica alterou-se. Deixas uma mão repousando em mim e com a outra, enquanto falas, vais acariciando o teu rosto, tua orelha, teu pescoço insinuando-me como são belos e pulsantes. O teu peito agora tem movimentos respiratórios amplos e sinto o pulsar do teu coração nas tuas carótidas.

Arrisco aproximar-me de ti, sentando-me a teu lado. Escolho o direito para que nossas mãos atravessem nossos colos. Ajeitas-te no sofá para eu caber. Fascina-me a coreografia dos teus joelhos cruzando-se e as carícias que lhes dedicas com a tua mão esquerda.

O teu perfume é agora um odor doce e quente de um corpo que pulsa e que comunica, inclinando-se de leve para o meu. A tua expressão seduz-me e a luz rasante do pôr-do-sol dão-te uma luminosidade que indescritivelmente te adoça a expressão. A tua gargalhada... ouço-a, agora, mais doce.

Termino o gole e abro os olhos, ainda sinto o fresco a bebida correr-me pala garganta abaixo. Percebi que estive ausente, esboço-te um sorriso exteriorizando o prazer que senti com a tua companhia, sonhada. Entendes algo de diferente no meu sorriso mas não compreendes o quê. Continuamos conversando.

(escrito em 05.08.2011)

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