terça-feira, 31 de dezembro de 2013

a voz do túnel de gente

o som era de violino
encorpado em gente pobre
pelo abandono

as cordas vibravam, via-se
em garganta de anjo
ressoavam em peito de deus
e soavam pelos túneis
entranhando-se
naquele bocadinho de vida
dos transeuntes de olhos fixos
no nada ouviam
conforto de ser
daquele lugar de todas as horas

intemporais, passavam
dançados, confessados, apressados
deixando um nada de si
(a minúscula moeda)
suficiente para manter a voz
um violinista, ali, adrajo

a comunhão de almas que se tocam
a economia de arte
dá-se do fundo mais profundo
a troco de trocos

creio que o conforto de alma não tem preço
creio que ninguém pode pagar por ele
creio que todos os trocos são blasfémia

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