i
no início
na indistinção o homem contemplou o mundo
e os seus elementos que deificou à sua imagem.
assim, criou deuses que amou e temeu
e por isso os adorou
e a eles se submeteu
e por eles mandou.
neste estado
o homem conheceu-se,
refez-se com o mundo e recriou deus
que fez o homem à sua imagem e semelhança.
depois de criar o universo, o mundo
e todas as coisas, deus criou a vida.
durante a criação
deus andou acompanhado do silêncio,
tão antigo como o próprio homem
que o descobriu sem que o tivesse inventado,
nesse tempo.
ii
no início
deus perguntou:
— de que água farei os rios?
o silêncio respondeu:
— de água que corra num só sentido
e deus fez.
depois, perguntou deus:
— que forma darei a uma onda?
o silêncio propôs:
— a onda tomará a forma do volume da inquietude
e deus fez.
continuando, deus teve dúvidas:
— que cantará um pássaro no voo?
o silêncio enunciou:
— o que os ouvidos não ouvirão, os olhos não verão mas estará na paisagem
e deus fez.
e logo voltou a perguntar:
— e os olhos, o que os levará ao olhar?
o silêncio disse o que sabia:
— o encanto do ser
e deus fez.
ainda questionou, deus:
— que sentido dar às perguntas inúteis?
o silêncio soltou:
— semear inutilidades é a maior de todas as ações
e deus concordou.
então confessou, deus:
— não sei porque teimo em questionar-me...
o silêncio sorriu
— é o teu modo de estares comigo
iii
desde o início
a torre da igreja, senhora de tudo,
ensina a lenda das coisas pequenas;
badala-a ao tempo
derrama-a nas horas,
recria-se a história contida no momento.
iv
no fim
permanece o silêncio
o recomeço, a criação...
o início.
sábado, 28 de fevereiro de 2015
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
sábado, 21 de fevereiro de 2015
gesto
do gesto
a forma assumida, fantasia
o movimento cheio, devaneio
acentuavam a curva que o olhar tecia
a forma assumida, fantasia
o movimento cheio, devaneio
acentuavam a curva que o olhar tecia
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
espontâneo
os melhores versos nasceram-me
ou brotaram sinceros
assaltaram-me, talvez
e jorraram e partiram.
as memórias que deixaram
são irrequietas de mais
não os consigo escrever.
um louco me ensinou
"o bonito das coisas sai à primeira"
ou brotaram sinceros
assaltaram-me, talvez
e jorraram e partiram.
as memórias que deixaram
são irrequietas de mais
não os consigo escrever.
um louco me ensinou
"o bonito das coisas sai à primeira"
de passagem
a voz moldava o gesto
meneando indiferença insinuante, para mim
o olhar rolou lento na anca inquieta
o verbo nem me era dirigido
há um estado de sedução distraída
outro de tentação involuntária
meneando indiferença insinuante, para mim
o olhar rolou lento na anca inquieta
o verbo nem me era dirigido
há um estado de sedução distraída
outro de tentação involuntária
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
rua escura
desço, diariamente, as profundezas da rua
onde coabitam memórias e pensamentos;
há uma praça onde convivemos normalmente, em algazarra.
no retorno a solidão se desvanece;
rua acima, tudo vai clareando...
há um certo ritual de via-sacra
neste trajeto por dentro de mim, penso.
a intimidade toma forma no entendimento
de si próprio... tudo acontece depois
independente da vontade.
onde coabitam memórias e pensamentos;
há uma praça onde convivemos normalmente, em algazarra.
no retorno a solidão se desvanece;
rua acima, tudo vai clareando...
há um certo ritual de via-sacra
neste trajeto por dentro de mim, penso.
a intimidade toma forma no entendimento
de si próprio... tudo acontece depois
independente da vontade.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
limiar
a forma
como pronunciavas a luz
era corpo
era alma
em mim era fogo
e havia um morno de sol nascente
como pronunciavas a luz
era corpo
era alma
em mim era fogo
e havia um morno de sol nascente
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
liberdade
sonho,
sonho com o vento
um dia planarei nele
quando me fizer leve
e digno de pairar
como folha de árvore
amadurece em outono
antes de soltar-se
livre para o vento
sonho com o vento
um dia planarei nele
quando me fizer leve
e digno de pairar
como folha de árvore
amadurece em outono
antes de soltar-se
livre para o vento
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
sinto um desejo indómito
de anotar tudo, atento ao pormenor.
partem dele a linhas mestras da vida,
sinto-o. e são tantos os que me berram à perceção...
fatalmente, a mestria gera-se no detalhe,
esse horror da minúcia que nos toma
e escraviza, desta forma nos seduz:
concentrar num ponto e dele fluirá tudo,
a vida; a doçura de um carinho
é mais e maior ao absorvermos cada ponto
do trajeto dos dedos pelo rosto.
porém, o rosto que é um todo
que olha e sorri, se ameiga na mão
agradecendo o toque de cada dedo.
viveria eternamente neste pormenor do momento.
de anotar tudo, atento ao pormenor.
partem dele a linhas mestras da vida,
sinto-o. e são tantos os que me berram à perceção...
fatalmente, a mestria gera-se no detalhe,
esse horror da minúcia que nos toma
e escraviza, desta forma nos seduz:
concentrar num ponto e dele fluirá tudo,
a vida; a doçura de um carinho
é mais e maior ao absorvermos cada ponto
do trajeto dos dedos pelo rosto.
porém, o rosto que é um todo
que olha e sorri, se ameiga na mão
agradecendo o toque de cada dedo.
viveria eternamente neste pormenor do momento.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
dos poemas
o que escrevo são racunhos
versões poéticas
do primeiro que pensei
ao último que escreverei
versões poéticas
do primeiro que pensei
ao último que escreverei
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
manhã
o mar abunda
circunda rebola volteia
entoa o movimento num ronco profundo
as gaivotas denunciam as traineiras inquietas
o acabar da faina
o céu
um punhado de azul
um fio de vento
a enfiadura de nuvens
ares de mar sobre nossas cabeças
o sol rasante
eleva a forma e provoca o visível
circunda rebola volteia
entoa o movimento num ronco profundo
as gaivotas denunciam as traineiras inquietas
o acabar da faina
o céu
um punhado de azul
um fio de vento
a enfiadura de nuvens
ares de mar sobre nossas cabeças
o sol rasante
eleva a forma e provoca o visível
sussuro
a voz
melodia do embalo
sonância
anterior ao canto
encanto
sopro leve da palavra
síntese suave
sentido da palavra antes de o ser
soube-o
ainda teus lábios modelavam
o que teus olhos anunciaram
melodia do embalo
sonância
anterior ao canto
encanto
sopro leve da palavra
síntese suave
sentido da palavra antes de o ser
soube-o
ainda teus lábios modelavam
o que teus olhos anunciaram
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
espontâneo
desenho garatujo rabisco
linhas de desinteresse
soam a intimidade
exposta na margem
rascunho... definitivo
linhas de desinteresse
soam a intimidade
exposta na margem
rascunho... definitivo
essência
teu seio
aconchego em ternura
meu rosto
os olhos caem-me no umbigo
o centro da curvatura, sinuosa
acorda o cálice, transborda
aroma, primeiro
textura sabor doce quente
abraço coxa e virilha
gesticula, a língua, toda a paixão
poema força movimento
a palavra simples e virtuosa
o gemido
aconchego em ternura
meu rosto
os olhos caem-me no umbigo
o centro da curvatura, sinuosa
acorda o cálice, transborda
aroma, primeiro
textura sabor doce quente
abraço coxa e virilha
gesticula, a língua, toda a paixão
poema força movimento
a palavra simples e virtuosa
o gemido
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