terça-feira, 1 de março de 2016

entranha do vício

são horas de fazer algo e eu mordo
mordo o filtro nos lábios e fumo
fumo, não fumo que deixei de fumar
mas fumega-me a palavra e eu puxo-a
até que me arda nos lábios
e fumega-me e aspiro-a
aspiro-lhe a fumaça
e forço-a a entrar-me no peito
pelos pulmões que são maiores
e inflam como balões e estoiram
e o peito explode e quase rebenta o coração corre
corre pelo corpo,  todo até à extremidade
extremo quero, quero a extrema unção
quero tudo extremo e o corpo treme
treme delírio calafrio e a palavra beata fumaça
esfumaça, esfumaça e fumaça é o que me brota
do peito, pelo nariz pela boca uma voz rouca
e enrolos aros bolas balões de fumo cruzados
enrolados encadeados traçados
forças extremas que só o cansaço me deixa olhar
e aprecio, exausto como se tivesse fumado, um poema 
um olhar amoral, viciado que sou em qualquer coisa que arda
desde que me queime a partir das entranhas
até que me seque a boca
e me declame vadio
e fumo e fumo e fumo

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