terça-feira, 1 de março de 2016

pecado virginal

sempre que atravesso a rua
esta rua que nos separa
vejo-te pendida de corpo sobre o lado esquerdo
pendida sobre o coração que abafas com o rosto preso e
humedeces com todos os mucos
e o empapas e dele fazes papas pendidas
como todo o teu corpo

pois desflora-te, que rebentem livres as flores em ti semeadas
desfolha-te das securas que te empalidecem
desonra-te das honrarias que te desalinham a felicidade
desalinha-te deslinda-te até que o sol doire seja o que for; às vezes
começa num grão de poeira, que seja!
que seja e desobriga-te
desabriga-te e salta nos charcos
encharca-te e cheirarás o prazer da lama
desalma-te e enlouquecerás por coisas mínimas
então se farão reluzentes, ímpares e deslumbrantes
desmancha-te desmembra-te desforra-te e dança
rompe o raio de sol, arredonda-lhe a trajetória
curvar-se-á à tua passagem
desmama-te do pendor que nunca foi teu, desama-o
desmanda-te para todo sempre
a rua tem dois lados paralelos: nunca se encontram
nunca se opõem e visitá-los é atravessar a rua
é perigoso mas necessário
coragem para não seres pendida
desenrola-te desenrodilha-te desemmerda-te
para que nunca te desiludas

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