quinta-feira, 17 de maio de 2012

cidade em dia cinza

onde estou, de volta
chegado do abandono
vejo a vida passando
rua fora, calcorreando
descalça de tudo
para que sinta nos passos
o áspero do chão
sem que se ouça
sem que a ouçam.

onde me sento, pressinto
o odor desodorizado da vida
caído de corpos apressados
tensos, hirtos
fardados de nada
alinhados na moda
correndo, correm
sem que os vejam
sem que se toquem.

de onde medito, constato
sorrisos no olhar, perdidos
"bons dias", esquecidos
vejo faces sem rosto
olhos baços
em máscaras bafientas
de atavios idênticos
que passam cinzentas
na rua contaminadada de nada.

pergunto
pela vontade da cidade
pelo sorriso da gente
pelos olhares cruzados
pelo barulho do povo
pela cumplicidade
respondem-me
ficaram no tempo dos avós
agora trabalhamos
e andamos sós.

Sem comentários:

Enviar um comentário