criança que sonha ser princesa
fantasia em encantamentos
adulto que deseja ser rei
fantasia em obediências
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
paz
que me descansem os olhos
onde repousa aquele mar
de silêncio marulho
de corpo que se embala
de horizonte que se modela
a cima, a baixo, espelhado
longa sonância do mar
guarda-me por aí o olhar
deixa-o correr-te as colinas
saltar-te os montes
guarda-o como às gaivotas
levo-te no meu silêncio
num pensamento escrito
em voltas de vento
que me drapeiam a alma
sem calma...
a paz do murmúrio íntimo
de quem parte num peito
e de quem deixa um olhar
onde repousa aquele mar
de silêncio marulho
de corpo que se embala
de horizonte que se modela
a cima, a baixo, espelhado
longa sonância do mar
guarda-me por aí o olhar
deixa-o correr-te as colinas
saltar-te os montes
guarda-o como às gaivotas
levo-te no meu silêncio
num pensamento escrito
em voltas de vento
que me drapeiam a alma
sem calma...
a paz do murmúrio íntimo
de quem parte num peito
e de quem deixa um olhar
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
pode ser
pode ser...
pode ser... segredámo-nos
adiámos um não
ou um sim...
ou nada valia a pena...
pode ser... dissemo-nos
quando a dúvida não havia
pode ser...
da timidez...
do despego
que só existe num pode ser sussurrado...
pode ser... segredámo-nos
adiámos um não
ou um sim...
ou nada valia a pena...
pode ser... dissemo-nos
quando a dúvida não havia
pode ser...
da timidez...
do despego
que só existe num pode ser sussurrado...
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
à noite
à noite
que nunca cavalga
aborda como o nevoeiro, se adensa
se desvanece entre as sílabas
de um verso
à noite
que abraça
terna, de mulher
angústia, de viúva
aperto, de saudade
à noite
que passa lenta
sem fim, re-lenta
cubro-me com a noite
nela me aconchego, sonho
e oro-lhe meus segredos.
os esquecidos, a noite relembra-mos
e embala-os em histórias entoadas
de jamais adormecer
fizemo-nos amantes, indomados
quisemo-nos indomáveis
perdoamo-nos, antes
que o dia nos separe
ambos nos furtamos ao dia
para a noite é toque de partida
para mim é sinal do marasmo
fruto pendurado da árvore
aguardando
desígnio de homem
que não consegue ir além
de fruto pendurado em árvore
que nunca cavalga
aborda como o nevoeiro, se adensa
se desvanece entre as sílabas
de um verso
à noite
que abraça
terna, de mulher
angústia, de viúva
aperto, de saudade
à noite
que passa lenta
sem fim, re-lenta
cubro-me com a noite
nela me aconchego, sonho
e oro-lhe meus segredos.
os esquecidos, a noite relembra-mos
e embala-os em histórias entoadas
de jamais adormecer
fizemo-nos amantes, indomados
quisemo-nos indomáveis
perdoamo-nos, antes
que o dia nos separe
ambos nos furtamos ao dia
para a noite é toque de partida
para mim é sinal do marasmo
fruto pendurado da árvore
aguardando
desígnio de homem
que não consegue ir além
de fruto pendurado em árvore
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
cidade livre
a poesia dos muros
amassada a quente
rompe verdadeira
atinge pungente
lêem-se os muros
páginas da cidade
aquele livro de gente
amassada a quente
rompe verdadeira
atinge pungente
lêem-se os muros
páginas da cidade
aquele livro de gente
luar
a lua
vestiu-se de negro
enlutou-se e desapareceu
no céu
na noite fechada
a lua
depois se encheu
redonda
desenroupada
nua
o luar aconteceu
que se visse e nos ungisse
a clareza da lua ousada
vestiu-se de negro
enlutou-se e desapareceu
no céu
na noite fechada
a lua
depois se encheu
redonda
desenroupada
nua
o luar aconteceu
que se visse e nos ungisse
a clareza da lua ousada
sábado, 22 de fevereiro de 2014
como a pérola
o melhor de nós
um dia há de chegar...
chegará de surpresa...
soa a oração de velório...
é falatório de funeral...
(o nosso, infelizmente)
é ausente...
chega de mansinho...
perguntem à nossa mãe...
está nos outros (em alguém)...
persegue-nos, tortura-nos...
desponta! como a luz do dia.
um dia há de chegar...
chegará de surpresa...
soa a oração de velório...
é falatório de funeral...
(o nosso, infelizmente)
é ausente...
chega de mansinho...
perguntem à nossa mãe...
está nos outros (em alguém)...
persegue-nos, tortura-nos...
desponta! como a luz do dia.
pássaros que gosto
de todos os pássaros, gosto
daqueles que me povoam
e esvoaçam meus sentidos
bem além do horizonte
de todos os pássaros, gosto
dos que mais vadios são
dos que têm a ousadia de ser
livres de partir sem endereço
de recusar penas douradas
de todos os pássaros, gosto
dos que voam
pelo prazer de voar
daqueles que me povoam
e esvoaçam meus sentidos
bem além do horizonte
de todos os pássaros, gosto
dos que mais vadios são
dos que têm a ousadia de ser
livres de partir sem endereço
de recusar penas douradas
de todos os pássaros, gosto
dos que voam
pelo prazer de voar
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
corvos negros
eles chegaram e escureceram
primeiro os rostos
depois as vestes
agora o olhos
eles chegaram de almas negras
eles vieram vingar seus pais e seus avós
para eles
os dias puros de sol para todos
são inaceitáveis
primeiro os rostos
depois as vestes
agora o olhos
eles chegaram de almas negras
eles vieram vingar seus pais e seus avós
para eles
os dias puros de sol para todos
são inaceitáveis
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
onde ser
quero ser
onde a flor toca o rosto
onde o sorriso se desprende
onde as pétalas beijam
quero ser
onde acontece o nascente
onde a gotícula cintila
onde o rosto incandesce
onde a flor toca o rosto
onde o sorriso se desprende
onde as pétalas beijam
quero ser
onde acontece o nascente
onde a gotícula cintila
onde o rosto incandesce
desejo
deitar-me-ia
entre um lado e o outro do mundo
onde tuas pernas se unem
onde pulsa fundente teu peito
nascente de braços encorpados em mim
entre um lado e o outro do mundo
onde tuas pernas se unem
onde pulsa fundente teu peito
nascente de braços encorpados em mim
dos mistérios
... parece haver um certo mistério em estar vivo, o que soa a absurdo perante a evidência do facto. porém, encontro, até, vários mistérios neste prosaico ato de viver: que realidade gerou a dinâmica dos impulsos eléctricos que fazem a história palpitante de um coração (?) e a dos outros impulsos que correm as células do reticulado cérebro, comandando os precisos movimentos de uma dança(?). depois, o maior de todos os mistérios: a forma como entendemos duas realidades - a do coração e a do pensamento - num mesmo corpo. viver é um mistério profundo e digo mistério porque ainda desconheço milagre...
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
poemência
a minha recordação de menino é enorme
como os tempos, vivos de poesia
meu real de faz-de-conta acontecia
minha mãe sorria às histórias que eu contava
e chamava-lhes inocência
éramos tão felizes então...
desfolham-me os sentidos da fantasia
envolta; o sorriso da minha mãe
denuncia-me a inocência
que guardo como um tesouro:
as joaninhas na caixa de fósforos
no bolso dos meus calções
como os tempos, vivos de poesia
meu real de faz-de-conta acontecia
minha mãe sorria às histórias que eu contava
e chamava-lhes inocência
éramos tão felizes então...
desfolham-me os sentidos da fantasia
envolta; o sorriso da minha mãe
denuncia-me a inocência
que guardo como um tesouro:
as joaninhas na caixa de fósforos
no bolso dos meus calções
fusão
minha morte chegará
não trará dia
nem terá marcada a hora
como eu
chegará do nada
silenciosa
de silêncios se faz a morte
quietinha
sossegada
como eu
aguardando o momento
nesse dia
como agora
fundir-me-ei com meu estado
eu
sonhador de poemas
não trará dia
nem terá marcada a hora
como eu
chegará do nada
silenciosa
de silêncios se faz a morte
quietinha
sossegada
como eu
aguardando o momento
nesse dia
como agora
fundir-me-ei com meu estado
eu
sonhador de poemas
domingo, 16 de fevereiro de 2014
beijo
quero-te entre os lábios
como à palavra
que pronuncio de ti
que modelo
como modelaria teu corpo
se entre meus lábios estivesse
como à palavra
que pronuncio de ti
que modelo
como modelaria teu corpo
se entre meus lábios estivesse
loucura vocação
renascer, é minha vocação de louco
que nunca gosto das roupas que visto
que trato a pele como vestimenta
que cada pulsar me diferencia
que mudar perseverante é a minha constância
que nunca gosto das roupas que visto
que trato a pele como vestimenta
que cada pulsar me diferencia
que mudar perseverante é a minha constância
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
riqueza
minha riqueza é volátil
agora é borboleta que me voa no pensamento
agora é o encontro com a palavra que soa por mim
agora é dente-de-leão, carícia ao vento, semente, flor, inspiração
agora é poema reescrito no vento que soprou minha mão
...
agora é o sorriso que vejo despontar-lhe, destas palavras
agora é borboleta que me voa no pensamento
agora é o encontro com a palavra que soa por mim
agora é dente-de-leão, carícia ao vento, semente, flor, inspiração
agora é poema reescrito no vento que soprou minha mão
...
agora é o sorriso que vejo despontar-lhe, destas palavras
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
noite
a noite, enleante
suspende-se
que a penetremos
e no ápice seguinte
entranhou-se-nos
ante a passividade das estrelas
e o alheamento da lua
encantamento
é encontrar o firmamento
suspende-se
que a penetremos
e no ápice seguinte
entranhou-se-nos
ante a passividade das estrelas
e o alheamento da lua
encantamento
é encontrar o firmamento
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
cúmplices no poema
das palavras que vão ao vento
se escreve a poesia.
o poeta é um cata-vento de palavras
toma-as, uma a uma
assenta-as em coluna
como lhe chegam na ventania.
quando o leitor - poeta - lê
as palavras assentadas
toca-as, uma a uma
decifra-lhes o movimento
escuta-lhes as histórias suas
e completa-se o poema.
se escreve a poesia.
o poeta é um cata-vento de palavras
toma-as, uma a uma
assenta-as em coluna
como lhe chegam na ventania.
quando o leitor - poeta - lê
as palavras assentadas
toca-as, uma a uma
decifra-lhes o movimento
escuta-lhes as histórias suas
e completa-se o poema.
pobreza das palavras
as palavras
revelam-se-me tão imperfeitas de poesia
amarfanham o pensamento
as ideias debatem-se nos emaranhados de linhas
as palavras projetam-se, rolantes, são penedos
interpondo-se entre a poesia e os atos e os momentos
o que se confessa pelas palavras não ditas
não há palavras para a poesia de um silêncio
nem para a poesia de um olhar ou de um sorriso
nem para a poesia do mar ao entardecer
e palavras para escrever a alma?
e lá se professa a poesia
das palavras quero a sonância
a melodia
que me acompanha os silêncios
e outros atos de poesia
revelam-se-me tão imperfeitas de poesia
amarfanham o pensamento
as ideias debatem-se nos emaranhados de linhas
as palavras projetam-se, rolantes, são penedos
interpondo-se entre a poesia e os atos e os momentos
o que se confessa pelas palavras não ditas
não há palavras para a poesia de um silêncio
nem para a poesia de um olhar ou de um sorriso
nem para a poesia do mar ao entardecer
e palavras para escrever a alma?
e lá se professa a poesia
das palavras quero a sonância
a melodia
que me acompanha os silêncios
e outros atos de poesia
os fundos dos egos
o egos não têm fundos
são como as plumas
voam em projeções
ao sabor do vento
tendem a planar
e acabam por aterrar
são como as plumas
voam em projeções
ao sabor do vento
tendem a planar
e acabam por aterrar
faces do tempo
o tempo chega
por vezes de rompante como despertador da manhã
outras, abeira-se leve como um sonho
ocasionalmente invade-nos como um raio de luz escapulido debaixo da porta
às vezes comporta-se como criança e chama-nos em repetidos tic-tac
enquanto se exibe no baloiço do pêndulo do relógio
já o vi insinuar-se nos raios da manhã, aclarando o dia hora a hora
já lhe senti a volúpia da noite impregnando-se-me entre calafrios
acontece o tempo chegar no frio de janeiro
ou cavalgar no destempero da vingança
já o amei com o desejo cego da paixão dos amantes
já o odiei até ao fundo do ressentimento e lutei para que partisse
de todas as vezes o tempo passou, fez-se vento
houve tempos que nem lhe notei a presença
por vezes de rompante como despertador da manhã
outras, abeira-se leve como um sonho
ocasionalmente invade-nos como um raio de luz escapulido debaixo da porta
às vezes comporta-se como criança e chama-nos em repetidos tic-tac
enquanto se exibe no baloiço do pêndulo do relógio
já o vi insinuar-se nos raios da manhã, aclarando o dia hora a hora
já lhe senti a volúpia da noite impregnando-se-me entre calafrios
acontece o tempo chegar no frio de janeiro
ou cavalgar no destempero da vingança
já o amei com o desejo cego da paixão dos amantes
já o odiei até ao fundo do ressentimento e lutei para que partisse
de todas as vezes o tempo passou, fez-se vento
houve tempos que nem lhe notei a presença
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
intestinos
i
intestinos
aquela parte do cérebro
com odor próprio
ii
intestinos
escleróticas dos olhares
onde a esclerose se manifesta
iii
intestinos
ideias mordaças de um país
empestado, nas rua da amargura
iv
intestinos
governos que governam
em movimento peristáltico
v
intestinos
manifestação, desagrado
ronco interior, flato
vi
intestinos
origem deste escrito
enjeitado, mal-dito
vii
intestinos
quiseram-se poetas
perderam a poesia
intestinos
aquela parte do cérebro
com odor próprio
ii
intestinos
escleróticas dos olhares
onde a esclerose se manifesta
iii
intestinos
ideias mordaças de um país
empestado, nas rua da amargura
iv
intestinos
governos que governam
em movimento peristáltico
v
intestinos
manifestação, desagrado
ronco interior, flato
vi
intestinos
origem deste escrito
enjeitado, mal-dito
vii
intestinos
quiseram-se poetas
perderam a poesia
desolhar
sabes que o olhar me foge
como voo de pássaro
rápido e geométrico
direto e incisivo
entre os pontos A e B
inquietos ou indistintos
meu olhar não tem destino
nem razão...
na verdade, nem será olhar
perdeu a grandiosidade
agora é movimento d'olhos
como voo de pássaro
rápido e geométrico
direto e incisivo
entre os pontos A e B
inquietos ou indistintos
meu olhar não tem destino
nem razão...
na verdade, nem será olhar
perdeu a grandiosidade
agora é movimento d'olhos
revelação
noto que algo se apoderou de mim
verdade!...
vi-me ao espelho sem que me olhasse
foi estranho, o que senti
via a fotografia de um homem
um senhor - pensei - com traços bem vincados
de uma idade que lhe passeava na expressão
nas rugas e nas brancas que resistiam à queda
era definitivamente alguém de meia-idade.
incidentalmente saltou-me à vista um fragmento de texto
revelava que o senhor nascera no mesmo ano que eu
tinha 52 anos!
confirmava-se! a meia-idade...
estes meus vincos não são traços de expressão
este rosto e corpo cheios
não são temporários,... é meia-idade!
revelou-mo o espelho daquela foto.
verdade!...
vi-me ao espelho sem que me olhasse
foi estranho, o que senti
via a fotografia de um homem
um senhor - pensei - com traços bem vincados
de uma idade que lhe passeava na expressão
nas rugas e nas brancas que resistiam à queda
era definitivamente alguém de meia-idade.
incidentalmente saltou-me à vista um fragmento de texto
revelava que o senhor nascera no mesmo ano que eu
tinha 52 anos!
confirmava-se! a meia-idade...
estes meus vincos não são traços de expressão
este rosto e corpo cheios
não são temporários,... é meia-idade!
revelou-mo o espelho daquela foto.
domingo, 2 de fevereiro de 2014
foz
encanta-me, a foz
reunião de águas
rio e mar
um encontro de amigos
sempre unidos
uma fusão de destinos
que se estavam destinados
reunião de águas
rio e mar
um encontro de amigos
sempre unidos
uma fusão de destinos
que se estavam destinados
procrastinado
é manhã
meu dia inicia-se
com um friozito de estômago
com o aperto de peito
também a regular insistência em fazer algo
para que não faça o que devo
e a mesma ânsia de eu não ser eu
de não ser assim
depois as inconformáveis saudades
de ser quem já fui
finalmente, o desalento de saber
que só depende de mim
meu dia inicia-se
com um friozito de estômago
com o aperto de peito
também a regular insistência em fazer algo
para que não faça o que devo
e a mesma ânsia de eu não ser eu
de não ser assim
depois as inconformáveis saudades
de ser quem já fui
finalmente, o desalento de saber
que só depende de mim
sábado, 1 de fevereiro de 2014
levento
cai de leve
é o vento
prova a leveza de tudo
tudo leva
até o tempo
voa leve
vai no vento
sonho inquieto de pássaro
sem regressos
vem no tempo
anda leve
como o tempo
sopra assim a frescura
refresco puro
vem no vento
é o vento
prova a leveza de tudo
tudo leva
até o tempo
voa leve
vai no vento
sonho inquieto de pássaro
sem regressos
vem no tempo
anda leve
como o tempo
sopra assim a frescura
refresco puro
vem no vento
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