da minha janela
há um campanário que me habituou às horas
todos os quartos
chega e solta as badaladas
todas perfeitamente iguais
perfeito, dir-se-ia
em cada face da torre
há um relógio
4 ao todo envergando as horas
também iguais
perfeitamente
da minha janela
há 2 faces do campanário
e mais 2 que adivinho
todos os lados são iguais
perfeitamente iguais
por cima do campanário
há uma cruz
também ela perfeitamente igual
a todas as outras
e as pessoas que entram na igreja
na base do campanário
são muitas e iguais
perfeitamente iguais
e quando oram
são perfeitas e iguais
as orações e as pessoas
e o campanário
que é único na minha janela
é perfeitamente igual a todos os outros
também perfeitos na sua existência
finalmente a minha janela
que me é exclusiva
é perfeitamente igual a todas as janelas
erigidas nesta cidade
mas tem uma vista única
perfeitamente
terça-feira, 30 de setembro de 2014
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
caos
algures
no indefinido
- ponto do inexplicável -
suspira em mim
um desejo quase neurótico
pela palavra bailarina. sufoca-me
a ideia que se abotoa desaparelhada
a forma que não serve
o quente da fricção
o ritmo sem melodia
a mensagem que não derrama
a criação que não se abeira
...
e tanto que tenho para dizer
sem que saiba, ainda, o quê...
no indefinido
- ponto do inexplicável -
suspira em mim
um desejo quase neurótico
pela palavra bailarina. sufoca-me
a ideia que se abotoa desaparelhada
a forma que não serve
o quente da fricção
o ritmo sem melodia
a mensagem que não derrama
a criação que não se abeira
...
e tanto que tenho para dizer
sem que saiba, ainda, o quê...
envoltura
de amor
enchemos as mãos
de corpo
que derramava
ou se derramava
caía solto
ao encontro das mãos
enchemos as mãos
de corpo
que derramava
ou se derramava
caía solto
ao encontro das mãos
fragmentos
i
da minha janela
o que vejo sei que existe
ainda que em mim, só, da forma como vejo
desconheço o olhar de outrem
ignoro-o pela condição de não o sentir
tão somente o adivinhar
ou ver como, que é outra forma de adivinhação.
...
em frente percorrem, as pessoas: é uma avenida
ao lado desenvolve-se um prédio: uma gaiola
por detrás o azul celeste do mar.
a minha tendência pelo mar
os meus caminhos desaguam nele
um dia começaram lá, era eu criança
e meus ouvidos alcançaram ser búzios
fiz dele gente e ele gente me fez
o desapego sempre meu
a paixão sempre minha
o acolhimento sempre dele
2 entidades
2 acontecimentos
2 pessoas
eu e ele
2 pronomes pessoais
no meio o tu
pronome que usamos entre nós
...
as nossas palavras não se proferem
surgem
expandem-se
espraiam-se
estrondam-se
brisam-se
como tudo entre as pessoas...
ii
as bordas da minha secretária
depois o abismo que me afasta da floresta em frente
como invejo os pássaros
como gostaria de deslocar-me em voo
como gostaria de não andar de não me mover a passo
como gostaria de pular quando não voasse
como gostaria que meu corpo se deslocasse
na mesma forma que meu espírito...
iii
na avenida
as pessoas caminham - palmilham - por obrigação
na cidade tudo acontece por obrigação.
há uma ordem que obriga
até os actos mais voluntários
como o sentar num banco de jardim
só para ver passar o que passa.
a obrigação é a ordem da cidade
por isso se arrastam as pessoas
de rojo atrás de cada passo
o corpo não se impulsiona
o pássaro da gaiola não sabe voar
a galinha - sendo pássaro - não ousa voar...
iv
na minha janela
há um casulo pendurado
bomboleia ao vento
invade-o um ronco de autocarro
que nele ecoa e se amplia
estremece-o
embrião de vida
selado
esforço último de lagarta
a existência dedicada à metamorfose
...
ao homem nunca o entendi
como ser de metamorfoses
muda-se, certo!
transforma-se, concordo!
porque renasce após morrer
de cada vez muda de religião
refaz seu deus e as tréguas consigo mesmo
é um litígio doloroso de mudança
sem calendário nem genética
e nada sei de casulos
da minha janela
o que vejo sei que existe
ainda que em mim, só, da forma como vejo
desconheço o olhar de outrem
ignoro-o pela condição de não o sentir
tão somente o adivinhar
ou ver como, que é outra forma de adivinhação.
...
em frente percorrem, as pessoas: é uma avenida
ao lado desenvolve-se um prédio: uma gaiola
por detrás o azul celeste do mar.
a minha tendência pelo mar
os meus caminhos desaguam nele
um dia começaram lá, era eu criança
e meus ouvidos alcançaram ser búzios
fiz dele gente e ele gente me fez
o desapego sempre meu
a paixão sempre minha
o acolhimento sempre dele
2 entidades
2 acontecimentos
2 pessoas
eu e ele
2 pronomes pessoais
no meio o tu
pronome que usamos entre nós
...
as nossas palavras não se proferem
surgem
expandem-se
espraiam-se
estrondam-se
brisam-se
como tudo entre as pessoas...
ii
as bordas da minha secretária
depois o abismo que me afasta da floresta em frente
como invejo os pássaros
como gostaria de deslocar-me em voo
como gostaria de não andar de não me mover a passo
como gostaria de pular quando não voasse
como gostaria que meu corpo se deslocasse
na mesma forma que meu espírito...
iii
na avenida
as pessoas caminham - palmilham - por obrigação
na cidade tudo acontece por obrigação.
há uma ordem que obriga
até os actos mais voluntários
como o sentar num banco de jardim
só para ver passar o que passa.
a obrigação é a ordem da cidade
por isso se arrastam as pessoas
de rojo atrás de cada passo
o corpo não se impulsiona
o pássaro da gaiola não sabe voar
a galinha - sendo pássaro - não ousa voar...
iv
na minha janela
há um casulo pendurado
bomboleia ao vento
invade-o um ronco de autocarro
que nele ecoa e se amplia
estremece-o
embrião de vida
selado
esforço último de lagarta
a existência dedicada à metamorfose
...
ao homem nunca o entendi
como ser de metamorfoses
muda-se, certo!
transforma-se, concordo!
porque renasce após morrer
de cada vez muda de religião
refaz seu deus e as tréguas consigo mesmo
é um litígio doloroso de mudança
sem calendário nem genética
e nada sei de casulos
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
da metamorfose
morro até ao fim do mar
a morte maior que sinto
a dor maior que tenho
a força maior me rebenta
de dentro para fora
a onda estoura
sábado, 20 de setembro de 2014
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
do desconsolo
... e retorquimos ao que olhámos
que tinha o ar...
o inodoro cheiro da palavra amorfo...
que tinha o ar...
o inodoro cheiro da palavra amorfo...
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
terça-feira, 16 de setembro de 2014
ditador
as linhas do rosto inoxidáveis
cinzas frias e duras de aço
o gume no olhar
fatiava tudo em volta
com a mesma frieza de que se fizera
têmpera trabalhada dia a dia
todos os olhos se desviavam à sua passagem
chegavam-lhe ares de poder
que não o era
que o poder não existe no estado isolado
que não o era
que o poder não existe no estado isolado
sábado, 13 de setembro de 2014
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
da vela
sei o equilíbrio frágil de chama
e embebo-me na auréola da cera iluminada
indago o fervor escorrente em inverso da ruga
e passeio na curvatura da luz e sigo
o bulício do reflexo da parede ao tecto
colho o cintilo espelhado pela íris
sou rasto de corpo tingindo de sombra a mesa
desejo desconter-me
e espraiar-me em corpo derramado
e embebo-me na auréola da cera iluminada
indago o fervor escorrente em inverso da ruga
e passeio na curvatura da luz e sigo
o bulício do reflexo da parede ao tecto
colho o cintilo espelhado pela íris
sou rasto de corpo tingindo de sombra a mesa
desejo desconter-me
e espraiar-me em corpo derramado
colorido
o azul é branco ou sem cor
o sopro perfeito abarca
o toque que faz a pétala
o corpo rumoreja
o idioma que a ave voa
a asa que baila e acolhe
a palavra é silêncio cúmplice
o aroma tem cio em tom de olhar
a cor sem nome é quente e será berrante
o sopro perfeito abarca
o toque que faz a pétala
o corpo rumoreja
o idioma que a ave voa
a asa que baila e acolhe
a palavra é silêncio cúmplice
o aroma tem cio em tom de olhar
a cor sem nome é quente e será berrante
terça-feira, 9 de setembro de 2014
da cor
onde o oceano dorme
desperta o seio
em ti, aguardando
da borboleta colorida o pólen
que a essência embeba
na borboleta a cor
no seio o ser
a vida no ato
o sono do mar marulha bonito
lá escolhi pintar esta ideia
desperta o seio
em ti, aguardando
da borboleta colorida o pólen
que a essência embeba
na borboleta a cor
no seio o ser
a vida no ato
o sono do mar marulha bonito
lá escolhi pintar esta ideia
domingo, 7 de setembro de 2014
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
rancor
do teu peito já abalaram os pardais
também os chilreios e os pulos da passarada.
nele pairam outras aves
o negrume grasnante dos corvos
e o mergulho do falcão para a bicada fatal.
do peito
peitos fazem-se de pulos de ave
de sopros meninos em bolas de sabão
de voos de borboletas
e a cor é a das flores
o sol é aquela luz emanante do peito
desesperança
a manhã não brota
não aparece
não se ilumina
será tarde e nem o relógio a ousa anunciar
será um dia que só tem noite e depois a cinza do nevoeiro
será um dia em que meus olhos se embaciam e descaem até ao chão
gostaria que quisessem rebolar-se na terra por um prazer menino de se sujarem
antes, procuram as pedras para se abrigarem do desconhecido que tanto temem
do sol já nem se lembram do nome
e quando o ouvem a palavra é o vazio
... e as manhãs não vêm
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
De manhã
Eis que sopra a manhã
Sem vento ainda
Arrivam as memórias
Uma a uma ou em bando
Pousam como pássaros na linha
Que o horizonte ondula
As nuvens brincam nela às escondidas
O sol espevita-as de fora
Elas resplandecem de dentro como os pensamentos
Tem sabor a recreio o rumor da manhã
Onde me aguardas de olhos fitos
Sei-o e trago um sorriso para ti
Que embrulhei num toque
Com ternura
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
depois
abraço longo,
até ao esquecimento
um corpo repousa nas curvas sem fim
que o outro oferece — o corpo — linhas
de regaço, de colo em anca e seio e ventre
de carícia, mãos leves de dedos e pés
em pernas enlaçadas,
curso do olhar fixo e calmo
até ao acalento
até ao esquecimento
um corpo repousa nas curvas sem fim
que o outro oferece — o corpo — linhas
de regaço, de colo em anca e seio e ventre
de carícia, mãos leves de dedos e pés
em pernas enlaçadas,
curso do olhar fixo e calmo
até ao acalento
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