há sombras neste sonho que pinto
foi dele que fiz o sol
sexta-feira, 26 de junho de 2015
quarta-feira, 24 de junho de 2015
à minha janela
minha janela é a superfície do mundo
além dela o contínuo profundo
tão longo, todo lá fora
além dela o contínuo profundo
tão longo, todo lá fora
terça-feira, 23 de junho de 2015
meu nascimento
sábado
4:00 da manhã e mais um pouco
ainda não nasci
crio-me no útero da noite
escrevo para distender o pensamento
exercito-me
mergulhado em recordações amnióticas
que me suspendem e alimentam
respiro
o ar vem-me da noite com umbilical desígnio
reteso-me numa ideia
procuro palavras que se distendam
quero exercitar-me para o nascimento
descreverei uma parábola
mortal encarpado à frente
projetar-me-ei até que a paisagem me receba
então será dia
a noite expulsa-me
o útero contrai-me os movimentos
pare-me um espécie de neurose noturna
e entrega-me dia fora
4:00 da manhã e mais um pouco
ainda não nasci
crio-me no útero da noite
escrevo para distender o pensamento
exercito-me
mergulhado em recordações amnióticas
que me suspendem e alimentam
respiro
o ar vem-me da noite com umbilical desígnio
reteso-me numa ideia
procuro palavras que se distendam
quero exercitar-me para o nascimento
descreverei uma parábola
mortal encarpado à frente
projetar-me-ei até que a paisagem me receba
então será dia
a noite expulsa-me
o útero contrai-me os movimentos
pare-me um espécie de neurose noturna
e entrega-me dia fora
domingo, 21 de junho de 2015
o movimento
um gesto livre lançado ao ar
volume do corpo nu para o sol
uma folha solta livre vogar
lento branco enfunar de lençol
ainda um sonho que sonha pairar
ou uma praia drapeia ao vento
ou uma seara que sabe ser mar
eis as maravilhas no movimento
volume do corpo nu para o sol
uma folha solta livre vogar
lento branco enfunar de lençol
ainda um sonho que sonha pairar
ou uma praia drapeia ao vento
ou uma seara que sabe ser mar
eis as maravilhas no movimento
todas as vozes tingem a paisagem
estira-se a calçada envolta nos passos
estira-se a calçada envolta nos passos
e fica o colorido marcado no tempo
eu acredito em toda a passagem
em volume e cor, em linhas e laços
e na força lenta do movimento
contratempo
o tempo que me visitou
por mim passou gerundiando
em contratempo apressei-me
ele correu eu contra investi
quando tudo acalmou
encontrei-me assisando
o modo que vivi
como nem conta dei
do que por mim passou
e por onde eu passei
por mim passou gerundiando
em contratempo apressei-me
ele correu eu contra investi
quando tudo acalmou
encontrei-me assisando
o modo que vivi
como nem conta dei
do que por mim passou
e por onde eu passei
segunda-feira, 15 de junho de 2015
diário
a manhã, o despertar
todas as memórias são sonho
e todos os sonhos são um lugar próximo
perto de mais para ser autêntico
porém, distante, ao ser fantasiado
a luz ainda não é
os atos ainda não são
o dia ousa irromper
todas as memórias são sonho
e todos os sonhos são um lugar próximo
perto de mais para ser autêntico
porém, distante, ao ser fantasiado
a luz ainda não é
os atos ainda não são
o dia ousa irromper
e urdir-se na teia do que não foi
acomodará os factos
sem ânsias, o que não era, será
e quando o for, estará planeado
ignorar-se-á o acontecer
excluir-se-á o erro - partícula
omnipresente do saber -
o modo humano de aprender
aguardarei o início da manhã
acolher-me-ei no colo da noite
em amor tenro e largo
purificar-me-ei na madrugada
quando as orações despontam
quando os poemas brotam
antes do esquecimento
haverá, então, algo de mim que me relatarei
quinta-feira, 11 de junho de 2015
quarta-feira, 10 de junho de 2015
súplica
ai,
quem me dera ser
alguém que não sou
e que temo nunca ser
ai,
senhora dai-me a graça
de não me aborrecer
com a desgraça de não ser
ai,
bendita por amor
cumprirei a promessa
aguardarei teu favor
quem me dera ser
alguém que não sou
e que temo nunca ser
ai,
senhora dai-me a graça
de não me aborrecer
com a desgraça de não ser
ai,
bendita por amor
cumprirei a promessa
aguardarei teu favor
sexta-feira, 5 de junho de 2015
meu amor
não vejo senão a água dos nossos sonhos
corrente de alegria de rio
desmandada sobre a terra
e nela cava o leito de seu ser
meu amor
não quero senão o mistério dos olhos
os teus que se quiseram meus
neles me alongo para ser maior
o bastante para abarcar o teu olhar
meu amor
não vivo senão o vício de ser amante
esse borbulhar de promessas
fios com que urdimos nosso olhar
a luz maior que nem o sol a alcança
não vejo senão a água dos nossos sonhos
corrente de alegria de rio
desmandada sobre a terra
e nela cava o leito de seu ser
meu amor
não quero senão o mistério dos olhos
os teus que se quiseram meus
neles me alongo para ser maior
o bastante para abarcar o teu olhar
meu amor
não vivo senão o vício de ser amante
esse borbulhar de promessas
fios com que urdimos nosso olhar
a luz maior que nem o sol a alcança
quinta-feira, 4 de junho de 2015
mãe
mãe
diz-me as horas do dia
diz-me que a noite é dos anjos
faz-me crer que os demónios poderão ser anjos
diz-me que sou o teu filho encantado
faz-me acreditar que as minhas asneiras não são importantes
sorri-me teu beijo de até-amanhã
abraça-me em laço feliz
deixa comigo teu aroma doce a leite e a lavado
amanhã despertarei à luz do teu olhar
vestir-me-ás entre cócegas e abraços
pentear-me-ás de pente molhado
elogiar-me-ás o cabelo forte e rebelde
e far-me-ás orgulhoso de mim mesmo
sentirei segurança no teu olhar
e direi baixinho para mim mesmo
mãe
diz-me as horas do dia
diz-me que a noite é dos anjos
faz-me crer que os demónios poderão ser anjos
diz-me que sou o teu filho encantado
faz-me acreditar que as minhas asneiras não são importantes
sorri-me teu beijo de até-amanhã
abraça-me em laço feliz
deixa comigo teu aroma doce a leite e a lavado
amanhã despertarei à luz do teu olhar
vestir-me-ás entre cócegas e abraços
pentear-me-ás de pente molhado
elogiar-me-ás o cabelo forte e rebelde
e far-me-ás orgulhoso de mim mesmo
sentirei segurança no teu olhar
e direi baixinho para mim mesmo
mãe
terça-feira, 2 de junho de 2015
banho do tempo
assassinato é
hipérbole de facto
no subjetivo interpessoal
assassino é um termo da relação
vítima é outro
na vasilha do tempo
todos matam e todos morrem
hipérbole de facto
no subjetivo interpessoal
assassino é um termo da relação
vítima é outro
na vasilha do tempo
todos matam e todos morrem
segunda-feira, 1 de junho de 2015
eucêntrico
embebeda-me este andar por dentro
perscrutando o sentir daqueles
que por mim passam escancarados
ignorando o que mostram pelos olhos
que são montras que escondem da vista de outrem
ignorando que seus andrajos propalam como arautos
mistérios que ainda desconhecem
ignorando que no caminho espalham confissões
que seus passos se derreiam das tristezas e pulam alegria
embebeda-me a história que revelam
e como o fazem: momentâneo sôfrego
há tanto a contar num lapso de tempo
embebeda-me este cruzar de silhuetas que tudo diz
e nada ouve. uma surdez em estado de alma
toda garganta e nada ouvidos
sente-se o que está dentro bem muralhado
de fora protegidos
perscrutando o sentir daqueles
que por mim passam escancarados
ignorando o que mostram pelos olhos
que são montras que escondem da vista de outrem
ignorando que seus andrajos propalam como arautos
mistérios que ainda desconhecem
ignorando que no caminho espalham confissões
que seus passos se derreiam das tristezas e pulam alegria
embebeda-me a história que revelam
e como o fazem: momentâneo sôfrego
há tanto a contar num lapso de tempo
embebeda-me este cruzar de silhuetas que tudo diz
e nada ouve. uma surdez em estado de alma
toda garganta e nada ouvidos
sente-se o que está dentro bem muralhado
de fora protegidos
cor
espero nascer do branco página
para ser um ponto no vazio
depois outro e mais outro
e crescer linha que se eleva
curva e voa
como são as borboletas
na metamorfose coram
para ser um ponto no vazio
depois outro e mais outro
e crescer linha que se eleva
curva e voa
como são as borboletas
na metamorfose coram
ao Eugénio de Andrade
Eugénio
matam-me todas as manhãs
se correm para a tarefa
sem gente
chegas
eu levanto os olhos
há um sorriso para ler
e tantos para escrever
matam-me todas as manhãs
se correm para a tarefa
sem gente
chegas
eu levanto os olhos
há um sorriso para ler
e tantos para escrever
insignificância
sou um homem pequenino
minúsculo
ao pisar-me, uma formiga magoou-me
imenso
nem tanto pelo peso
mas quis passar-me por cima
minúsculo
ao pisar-me, uma formiga magoou-me
imenso
nem tanto pelo peso
mas quis passar-me por cima
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