quarta-feira, 4 de novembro de 2015

até ao final da manhã
as ervas tal como as gigantes das árvores
alimentavam o sonho de voar
e voavam, à sua maneira
que era uma ilusão
mas não era, porque voavam
só alguém que levanta os pés do chão
as julga como não voando
e às liberdades a que se dão as folhas à boleia do vento
uma ilusão
do mesmo modo que para um pássaro voador
um homem não voa
cai ou move-se em cima — ou dentro — de algo que voa
sem meios o homem não voa
nem mesmo aqueles que acreditam que voam em pensamento
não sabem
não sabem a diferença
que há entre pensar voando e voar pensando
no final da manhã
os pássaros voadores tal como os homens
não conhecem a transcendência
a de ensaiar um voo de raízes entranhadas na terra
e mesmo assim voar
e ser tão livre e mais viajado
que os que partem e regressam por artes do movimento
mas que no fundo não o é
e muito menos arte
porque nunca deixaram elevar-se pelas coisas e pelas forças
mantendo da terra a alma que é sua
no final da manhã
no final da tarde
e em todos os nasceres de dia
atente-se que é de ervas que o pássaro faz o ninho
é nas árvores que o constrói
e são elas que o ensinam a voar dando-lhe a segurança de um salto
que quem nunca voou pensa ser no vazio
mas que eles sabem ser um pulo para a vida
ser a força da natureza

Sem comentários:

Enviar um comentário