quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

enlevo

i ato - desejo e sedução

o mar sempre desejou namorar a praia.
despudoradamente, corre, cavalgando
em ondas de desejo e de prazer
(o prazer de sentir desejo);
ruidosamente, volta e revolta-se
salpicando toda a espuma que pode,
só para parecer mais alvo e, quem sabe, mais belo,
acreditando, assim, conseguir seus intentos.

a praia, é aquela cumplicidade
de água, areia e gente
onde convívio, alegria, folia e desejo não faltam.
não raramente, escasseia disponibilidade
para ceder ao mar
a atenção que este requer,
e o barulhento roncar, estonteante até,
queda-se mero fundo de uma paisagem viva.
é certo que não há paisagem sem fundo,
mas um mar apaixonado
precisa do virtuosismo do 1.º  plano,
pelo menos ao pé da praia, sua amada.

no estado de minguada ou crescente,
a praia mantém a jornada,
ora só, ora apinhada de gente,
determinada que está a ser independente.
embora precise do mar bem próximo;
encorpa-lhe a alma, aquele roncar,
e adora ver-se enrolada pela areia,
sentir o mar espraiado,
ansioso por cobri-la
em toda a extensão do areal.


ii ato - impossível

o mar tem um estar ramerrão:
revigora-se 2 vezes ao dia
para descansar nos intervalos.
descreve-se pela rotina,
em texto corrido, chega uma linha.

a irreverente praia, ora se abandona
ao seu areal, solitária,
ora se dedica às estrelas, ao sol e ao nevoeiro,
ora, ainda, se vê pejada de gente,
pingentes que ostenta vaidosa
feliz de ser a escolhida.
não tem manias de vida,
tem o sabor da maresia e da nortada,
o toque do sal e da areia,
o fresco da neblina,
o brilho do sol, da lua e da trovoada.
irrequieta e ladina, gosta do mar,
mas não se vê namorar
(com data e hora marcada)
agenda que não é a sua.
talvez seja descritível, a praia
nas sinusóides do areal
num estilo enigmático
insinuado à luz da lua.


iii ato - cumplicidade

a praia celebra a vida, cuja força vem do mar
que sendo parte da praia, não a pode namorar
isto nunca perceberá essa entidade solitária
e autoritária, chamada mar.

ora, segundo esta história,
nós somos meros pingentes,
alindamos a praia, reluzimos
a magia necessária e damos-lhe vida de gente...

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