havia poemas nascidos
de quem ainda não escrevia
porque não sabia;
de quem sonhava e sonhava
sem paisagem e sem história,
via-se com uma pena
que da mão lhe saía, em linhas
encadilhadas em algos
a que dava voz.
os olhos moviam-se
para o céu, para si e para dentro
como acontece com os poemas
ele sabia
sem que soubesse porquê
ali havia poesia.
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
do estado das pessoas
ela abeirou-se
precisava saber se tudo estava bem
não estava, não estava...
nada estava bem
mas agora que se viram
tudo parecia melhor
e assim ficou...
melhor
precisava saber se tudo estava bem
não estava, não estava...
nada estava bem
mas agora que se viram
tudo parecia melhor
e assim ficou...
melhor
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
cega paixão
desejo pedir-te, mesmo suplicar-te que me ames
que me ames como se não houvesse mais ninguém
a cegueira da paixão não me deixa entender
como serei mais amado quando me escolhes de entre outros
que me ames como se não houvesse mais ninguém
a cegueira da paixão não me deixa entender
como serei mais amado quando me escolhes de entre outros
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
biografia
minha biografia escreve-se de banalidades, como as letras que a
integram. nasci a 04.11.1961 e sinto que desde logo me pularam de colo para
colo: pais, tias e avós. fui deles e eles meus, por inteiro. durante 6 anos fui
a única criança daquele reino de fadas mimentas que me fizeram sentir querido,
lindo e inteligente. aprendi a ser príncipe, a ser ouvido; senti o conforto do
colo e o prazer de trocar carinhos pelas mãos, pelos sorrisos e pelas palavras,
em noites à lareira, enquanto me crescia a fantasia dos contos lindos de
impossíveis, do meu avô. ouvi-os vezes sem conta e nunca se repetiram. que
lindos, dizia então; que poesia, lembro hoje.
o tempo impeliu-me a escrever fantasias. primeiro com um ardor dorido de adolescente (sempre apaixonado) em plena revolução. passei a jovem adulto, profissional de psicologia, competentemente adulto, que por um ímpeto sempre inexplicável pecava: perdia tempo escrevendo devaneios que obnubilariam qualquer adultez, os quais sempre fui encobrindo, não sei se por cobardia intelectual se por um desejo intrínseco de culto do secreto. foi um tempo de treino, talvez de experiência.
o tempo impeliu-me a escrever fantasias. primeiro com um ardor dorido de adolescente (sempre apaixonado) em plena revolução. passei a jovem adulto, profissional de psicologia, competentemente adulto, que por um ímpeto sempre inexplicável pecava: perdia tempo escrevendo devaneios que obnubilariam qualquer adultez, os quais sempre fui encobrindo, não sei se por cobardia intelectual se por um desejo intrínseco de culto do secreto. foi um tempo de treino, talvez de experiência.
recentemente, já sem noites e sem lareira, sem nevoeiros e sem manhãs, sem mais nada para além da impetuosa necessidade de fantasiar, escrevi da minha alma os vagidos e as traquinices tal como os ouço e me tocam e dei por mim parindo-me a cada letra, verso a verso, umas vezes com a delicadeza brotante da nascente, outras com a crueza estrondosa do vagalhão, deixando emergir o que em mim sempre esteve e para a qual não encontro outro nome, senão mesmo natureza. foi então que me apropriei do advérbio que me define o modo e dele fiz nome meu; antónio assim d'oliveira.
solidão
a solidão dela fizera-se de abandonos
abandonos de memórias
primeiro as boas, depois as más
que antes de partirem escorraçaram tudo
abandonos de memórias
primeiro as boas, depois as más
que antes de partirem escorraçaram tudo
só
um livro, só
um livro numa mesa
de pé de galo
ladeado de uma chávena, só
vazia de tudo
também havia uma caneta, só
e uma folha de papel
uma folha, só
quando chegou alguém
puxou uma só cadeira
sentou-se à mesa, só
de tudo debandou a solitude
um livro numa mesa
de pé de galo
ladeado de uma chávena, só
vazia de tudo
também havia uma caneta, só
e uma folha de papel
uma folha, só
quando chegou alguém
puxou uma só cadeira
sentou-se à mesa, só
de tudo debandou a solitude
dito e não dito
quando me olhaste: — doçura
eras meu mel
quando me sorriste: — bom dia
eras meu sol
quando soltei: — querida
gritava: — meu amor
quando te beijei: — bom dia
como desejava morder-te
eras meu mel
quando me sorriste: — bom dia
eras meu sol
quando soltei: — querida
gritava: — meu amor
quando te beijei: — bom dia
como desejava morder-te
terça-feira, 22 de outubro de 2013
frágil intelegibilidade
a fragilidade com que escrevi meu nome
como o constatei quebrável, sem que fosse cristalino
frágil; mole, sem que fosse moldável, sem que fosse flexível...
a fragilidade com que escrevi meu nome escorrente no papel
como tinta aguada, como gordura ao sol
sem forma, sem textura, sem mensagem
não entendo, porque não me aceito frágil
como o constatei quebrável, sem que fosse cristalino
frágil; mole, sem que fosse moldável, sem que fosse flexível...
a fragilidade com que escrevi meu nome escorrente no papel
como tinta aguada, como gordura ao sol
sem forma, sem textura, sem mensagem
não entendo, porque não me aceito frágil
boa água
tanto espero e mais desejo
que meus olhos saibam dizer-te
o que eu não sei
o que não me perpassa os lábios
o que a garganta não desata
o que a língua não modela
a ideia que baralhei e não encontro
e na qual tropeço diariamente
constantemente
tanto espero e mais desejo
que meus olhos saibam contar-te
o rio em que minha alma se transformou
o prateado brilho, onde navegas
que em mim resplandece teu vogar
toque, corpo, água e sol
teu sorriso colorindo a janela
uma lágrima gritando
boa água
que meus olhos saibam dizer-te
o que eu não sei
o que não me perpassa os lábios
o que a garganta não desata
o que a língua não modela
a ideia que baralhei e não encontro
e na qual tropeço diariamente
constantemente
tanto espero e mais desejo
que meus olhos saibam contar-te
o rio em que minha alma se transformou
o prateado brilho, onde navegas
que em mim resplandece teu vogar
toque, corpo, água e sol
teu sorriso colorindo a janela
uma lágrima gritando
boa água
conversas ocas
foi tudo dito
tudo está dito
restam glosas e mais glosas
no mesmo tema
no mesmo assunto
sem nada acrescentado
sem nada mudado
sem novas vistas
falar e abafar silêncios
verborreia e mais verborreia
oiçamos o silêncio
entendamo-lo, sapientes
tudo está dito
restam glosas e mais glosas
no mesmo tema
no mesmo assunto
sem nada acrescentado
sem nada mudado
sem novas vistas
falar e abafar silêncios
verborreia e mais verborreia
oiçamos o silêncio
entendamo-lo, sapientes
domingo, 20 de outubro de 2013
mudema
gosto das letras mudas
por mim, todas as letras seriam mudas
as palavras pronunciar-se-iam mudamente
com os olhos bem coloridos de expressão
os poemas seriam almados, plenos... enormes
os poemas seriam declamados com olhares
por mim, todas as letras seriam mudas
as palavras pronunciar-se-iam mudamente
com os olhos bem coloridos de expressão
os poemas seriam almados, plenos... enormes
os poemas seriam declamados com olhares
meu espelho
agasta-se dia a dia
o espelho em que me vejo
pica-se-lhe o espelhado
amarelece
ao ritmo das paredes onde se aninha
enquanto as rugas se lhe desenham
na imagem do espelhado
e no olhar que me reflete
vejo-lhe o brilho
que o espelhado imagina
o espelho em que me vejo
pica-se-lhe o espelhado
amarelece
ao ritmo das paredes onde se aninha
enquanto as rugas se lhe desenham
na imagem do espelhado
e no olhar que me reflete
vejo-lhe o brilho
que o espelhado imagina
sábado, 19 de outubro de 2013
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
nascente
onde a lua voa
e o pássaro passeia
onde as nuvens navegam
e a chuva caminha
onde as poças chapinam
e as crianças brincam
afaga-se a liberdade
e o poema corre rio
e o pássaro passeia
onde as nuvens navegam
e a chuva caminha
onde as poças chapinam
e as crianças brincam
afaga-se a liberdade
e o poema corre rio
memórias
contam-se as memórias
uma a uma
sem contas, sem ordem
como a memória
sucedem-se
ligadas num punhado
fossem cerejas
assolham-se, limpam-se
alindam-se e guardam-se
tesouros sem tesouro
brilhos sem brilhantes
essência de existência
velam-se e ostentam-se
em pensamentos secretos
sorrisos enigmáticos
olhares perdidos
o indecifrável da compreensão
uma a uma
sem contas, sem ordem
como a memória
sucedem-se
ligadas num punhado
fossem cerejas
assolham-se, limpam-se
alindam-se e guardam-se
tesouros sem tesouro
brilhos sem brilhantes
essência de existência
velam-se e ostentam-se
em pensamentos secretos
sorrisos enigmáticos
olhares perdidos
o indecifrável da compreensão
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
banho de vida
se te parece
que a vida te cai aos pés
não a pises
não a evites
não a ignores
sobretudo
nunca te lamentes
chapina nela
até te sentires mergulhado
de vida
que a vida te cai aos pés
não a pises
não a evites
não a ignores
sobretudo
nunca te lamentes
chapina nela
até te sentires mergulhado
de vida
trovoada
dormente
este céu de nuvens
espessas
penedos flutuantes
contundentes
quase ruidosos
quase faiscantes
tateei o luzente
simples
como um caminho
vadio
tinha aroma a tardio
despreconceituoso
um poema
talvez extraviado
ainda incompreendido
ansioso
para ser desvendado
fizemo-nos companhia
embrenhados na trovoada
o dia rompeu
não havia poema
nem eu
este céu de nuvens
espessas
penedos flutuantes
contundentes
quase ruidosos
quase faiscantes
tateei o luzente
simples
como um caminho
vadio
tinha aroma a tardio
despreconceituoso
um poema
talvez extraviado
ainda incompreendido
ansioso
para ser desvendado
fizemo-nos companhia
embrenhados na trovoada
o dia rompeu
não havia poema
nem eu
nós
teu dia chegou-me
perfumado de ventre
onde o sol nasce
meu dia enleou-se no teu
e conjugaste-nos com todos os segundos
perfumado de ventre
onde o sol nasce
meu dia enleou-se no teu
e conjugaste-nos com todos os segundos
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
verdade
assim
dispersa pela cidade
numa situação verdadeira
mente insustentável
fizeste-te de aragem
tal a tua ânsia de chegar
a todos, teus amantes
alguns indignos de ti
verdade
pela qual existem
muros e pássaros
dispersa pela cidade
numa situação verdadeira
mente insustentável
fizeste-te de aragem
tal a tua ânsia de chegar
a todos, teus amantes
alguns indignos de ti
verdade
pela qual existem
muros e pássaros
voto de humanidade
espero que a idade me cure
desta forma infiel de viver
não renascer em cada estação
não apreciar o vento e a neve fria
que eu ganhe cor e verdor
e ao ser homem seja alguém
desta forma infiel de viver
não renascer em cada estação
não apreciar o vento e a neve fria
que eu ganhe cor e verdor
e ao ser homem seja alguém
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
desejo
se eu pudesse
correria até voar
rumaria com o vento
dançaria em teus cabelos
rebolaria em teus seios
abrigar-me-ia em teus dedos
confortar-me-ia em teu ventre
flutuaria no luar
voaria num só pé
brilharia como os rios
seria cristal sem tesouro
correria até voar
rumaria com o vento
dançaria em teus cabelos
rebolaria em teus seios
abrigar-me-ia em teus dedos
confortar-me-ia em teu ventre
flutuaria no luar
voaria num só pé
brilharia como os rios
seria cristal sem tesouro
emociomar
deixem o mar destapado
o mar precisa-se aberto
cheio de água fervente
espuma tudo o que sente
vociferando encapelado
sintam o mar por perto
pois o mar é sagrado
o mar precisa-se aberto
cheio de água fervente
espuma tudo o que sente
vociferando encapelado
sintam o mar por perto
pois o mar é sagrado
fumar
o prazer de um cigarro
esfuma-se, no fumo
a memória aloja-se nos ossos
daí se solta
com o calafrio
esfuma-se, no fumo
a memória aloja-se nos ossos
daí se solta
com o calafrio
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
desalento
caíam as mãos
peso do desapego
amargo da consciência
depois o corpo cansado
até para as mãos
que caíam
escorrendo pelo corpo
à frente dos braços
agora escorridamente longos
mais longos
tão longos que jamais abraçariam
e as mãos caídas, separadas
jamais se acariciariam
os anéis
tornaram-se largos
afastaram-se, impercetíveis
peso do desapego
amargo da consciência
depois o corpo cansado
até para as mãos
que caíam
escorrendo pelo corpo
à frente dos braços
agora escorridamente longos
mais longos
tão longos que jamais abraçariam
e as mãos caídas, separadas
jamais se acariciariam
os anéis
tornaram-se largos
afastaram-se, impercetíveis
terça-feira, 8 de outubro de 2013
ídolo
sossega
o peito
pulsar
demais
pode ser
defeito
menina
corada
respiração
pesada
grito
engatilhado
pro herói
da banda
rosto
de revista
que canta
que dança
que artista
perfeito
não pulsa
demais
sossega
o peito
o peito
pulsar
demais
pode ser
defeito
menina
corada
respiração
pesada
grito
engatilhado
pro herói
da banda
rosto
de revista
que canta
que dança
que artista
perfeito
não pulsa
demais
sossega
o peito
mais além
sentir-te é ir além dos sentidos
o mais além, sem distâncias
sentir-te a doçura da memória que te assalta
e te desconcentra
sentir-te o pensamento que me reservaste
e te contraria o momento
sentir-te a ligeireza com que te desprendes do dia
enleada te deixaste num detalhe de nós
sentir-te pelas incompreensíveis noções
de alma gémea, química, telepatia, seja lá o que for
sentir-te por algo que sinto como essência
do que chamamos amor
que nasceu de nós, cresceu
desmesuradamente, sem controlo
é o que sinto
e o que sinto diz-me que sei muito pouco
e o que sinto nunca se conjugou com medida e controlo
o mais além, sem distâncias
sentir-te a doçura da memória que te assalta
e te desconcentra
sentir-te o pensamento que me reservaste
e te contraria o momento
sentir-te a ligeireza com que te desprendes do dia
enleada te deixaste num detalhe de nós
sentir-te pelas incompreensíveis noções
de alma gémea, química, telepatia, seja lá o que for
sentir-te por algo que sinto como essência
do que chamamos amor
que nasceu de nós, cresceu
desmesuradamente, sem controlo
é o que sinto
e o que sinto diz-me que sei muito pouco
e o que sinto nunca se conjugou com medida e controlo
domingo, 6 de outubro de 2013
sorriso de pássaro
o sorriso num pássaro
tem voo e tem chilreio
tem olhar: primeiro um olho
depois o outro
tem distinção de plumagem
tem confiança: de se deixar mirar
e de vir comer às mãos
e não há alma que não lhe sorria
tem voo e tem chilreio
tem olhar: primeiro um olho
depois o outro
tem distinção de plumagem
tem confiança: de se deixar mirar
e de vir comer às mãos
e não há alma que não lhe sorria
sábado, 5 de outubro de 2013
boa água
meu poema jamais se re-escreverá
jamais de repetirão as letras de que nasceu
o que minhas tristezas parem, não se escreve
e não há palavras para a insipiência deste sol peco
meu poema foi rio abaixo
boa água
por ali vogará
compondo-se no horizonte
onde os olhares se põem
jamais de repetirão as letras de que nasceu
o que minhas tristezas parem, não se escreve
e não há palavras para a insipiência deste sol peco
meu poema foi rio abaixo
boa água
por ali vogará
compondo-se no horizonte
onde os olhares se põem
viagem
segui a voz do cantar
acendi o sonho do poema
tocou no horizonte, a melodia
um pouco de mim não quer regressar
as viagens são assim
algo de nós por lá fica
algo de lá nos acompanhará, sem fim
acendi o sonho do poema
tocou no horizonte, a melodia
um pouco de mim não quer regressar
as viagens são assim
algo de nós por lá fica
algo de lá nos acompanhará, sem fim
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
urdêncios
um poeta vive nos silêncios
fios dobados, anovelados
deles urde poemas
em paciência de enxoval
em amor virginal, de entrega
um dia...
assolha-os ao tempo
ao vento
em silêncio, trauteando
um tesouro...
fios dobados, anovelados
deles urde poemas
em paciência de enxoval
em amor virginal, de entrega
um dia...
assolha-os ao tempo
ao vento
em silêncio, trauteando
um tesouro...
silêncios
silêncio, a soada que não se ouve
o silêncio escuta-se e entende-se
o silêncio de uma gargalhada
o silêncio da palavra
o silêncio do olhar
o silêncio do sorriso
o silêncio da tarde
o silêncio de um olhar sorrido num final de tarde
o silêncio de um poema
o silêncio de estarmos connosco
em silêncio
o silêncio escuta-se e entende-se
o silêncio de uma gargalhada
o silêncio da palavra
o silêncio do olhar
o silêncio do sorriso
o silêncio da tarde
o silêncio de um olhar sorrido num final de tarde
o silêncio de um poema
o silêncio de estarmos connosco
em silêncio
terça-feira, 1 de outubro de 2013
ressequido
esvaziámos nossas carícias
primeiro ocas, agora ressequidas
magoámo-nos na aspereza do toque
já não há corpo nem meio nem lugar
para as carícias
debandaram como corvos negros
gralharam horizonte fora
até ficarmos aliviados
agora magoamo-nos se nos tocamos
primeiro ocas, agora ressequidas
magoámo-nos na aspereza do toque
já não há corpo nem meio nem lugar
para as carícias
debandaram como corvos negros
gralharam horizonte fora
até ficarmos aliviados
agora magoamo-nos se nos tocamos
tempo de brincar
vi tantas histórias nos montes da areia da minha ampulheta;
cresciam em camadas, os montes e as histórias.
podiam ser doces, pareciam-me de açúcar
amontoado, destinado a um bolo guloso;
eram sagradas de sal imaculado
como o do batismo na minha igreja,
que só a santa mão do sacerdote tocava;
via-as areias de um deserto que alguém galgava
com ou sem amada, sempre uma aventura.
então o tempo parava e a hstória mudava,
o personagem renascia num outro episódio,
feito camada a camada,
que os meus olhitos de menino namoravam
e nelas se alimentavam brincando.
quando eu sabia brincar com o tempo.
cresciam em camadas, os montes e as histórias.
podiam ser doces, pareciam-me de açúcar
amontoado, destinado a um bolo guloso;
eram sagradas de sal imaculado
como o do batismo na minha igreja,
que só a santa mão do sacerdote tocava;
via-as areias de um deserto que alguém galgava
com ou sem amada, sempre uma aventura.
então o tempo parava e a hstória mudava,
o personagem renascia num outro episódio,
feito camada a camada,
que os meus olhitos de menino namoravam
e nelas se alimentavam brincando.
quando eu sabia brincar com o tempo.
a ampulheta
lembram-se da ampulheta?
instrumento maravilhoso
instrumento maravilhoso
acumula o tempo
solta-o, devagarinho
caindo, em montinho
de cima para baixo
trabalho da gravidade
e o tempo lá dentro
não foge, caindo
se cima para baixo
depois tudo pára
também há a pausa
conhecem? a pausa?
ampulheta tem sempre pausa
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