quinta-feira, 24 de outubro de 2013

biografia

minha biografia escreve-se de banalidades, como as letras que a integram. nasci a 04.11.1961 e sinto que desde logo me pularam de colo para colo: pais, tias e avós. fui deles e eles meus, por inteiro. durante 6 anos fui a única criança daquele reino de fadas mimentas que me fizeram sentir querido, lindo e inteligente. aprendi a ser príncipe, a ser ouvido; senti o conforto do colo e o prazer de trocar carinhos pelas mãos, pelos sorrisos e pelas palavras, em noites à lareira, enquanto me crescia a fantasia dos contos lindos de impossíveis, do meu avô. ouvi-os vezes sem conta e nunca se repetiram. que lindos, dizia então; que poesia, lembro hoje.

o tempo impeliu-me a escrever fantasias. primeiro com um ardor dorido de adolescente (sempre apaixonado) em plena revolução. passei a jovem adulto, profissional de psicologia, competentemente adulto, que por um ímpeto sempre inexplicável pecava: perdia tempo escrevendo devaneios que obnubilariam qualquer adultez, os quais sempre fui encobrindo, não sei se por cobardia intelectual se por um desejo intrínseco de culto do secreto. foi um tempo de treino, talvez de experiência.

recentemente, já sem noites e sem lareira,  sem nevoeiros e sem manhãs,  sem mais nada para além da impetuosa necessidade de fantasiar, escrevi da minha alma os vagidos e as traquinices tal como os ouço e me tocam e dei por mim parindo-me a cada letra, verso a verso, umas vezes com a delicadeza brotante da nascente, outras com a crueza estrondosa do vagalhão, deixando emergir o que em mim sempre esteve e para a qual não encontro outro nome, senão mesmo natureza. foi então que me apropriei do advérbio que me define o modo e dele fiz nome meu; antónio assim d'oliveira.

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