sexta-feira, 7 de março de 2014

talvez

i
talvez queiras escrever-me...
talvez...
talvez queiras escrever-me algo
à mão... com a tua melhor caneta
aquela que te faz a escrita redondinha
lembra-te balões de diálogos
rio-me da tua ideia: letras-diálogos
(só os balões) que decifraremos
que poema...
poesia - reforças-me
aguardo a tua escrita e penso:
talvez queiras escrever-me...
talvez...

ii
tens uma caneta azul
lindo aquele azul
estranhamente lindo
dizes ter a cor do mar
para mim é um azul teu
o teu azul!...
nele vejo os teus olhos
entre o verde-acastanhado
e o castanho-esverdeado
com azul
os teus lábios, mornos
moldáveis ao meu sonho
com azul
o teu toque suave no papel
que me inspira
em azul
a tua dedicação concentrada à escrita
ainda que seja uma nota em post-it
em azul
e quando esse azul teu
me é dirigido
é o teu azul para mim
como os beijos
(em azul)
talvez queiras escrever-me...
talvez...

iii
talvez uses a tua caneta permanente
emendas-me, sorrindo, como sempre
permanente é a tinta, não a caneta
para mim, permanente é esse ato de escrita
ficam-me gravados cada um dos teus balõezinhos
cheios de sentido
prenhes de ternura
que recebo
dessa caneta que vejo permanente
por mais que a tinta se desbote
ou se dilua se molhada
será permanente como tu
que...
talvez queiras escrever-me...
talvez...

iv
talvez queiras escrever-me
e pegues uma folha de papel
singela, como a simplicidade
leve do teu toque
que poisa
em pontas de dedos
amparo de mão
que fixa o papel numa carícia.
eu também me imobilizo
ante uma carícia tua
como o teu jeito redondinho de escrita
em balões de sonho azul
como o teu azul
que tão bem combina
com o tom amarelado do teu papel
conforto de cor
sol do entardecer
morno como tu
talvez queiras escrever-me...
talvez...

v
talvez queiras escrever-me
uma confissão de olhares
talvez me olhes
e eu não precise perguntar nada
e tu não digas mais nada
porque ouço, sinto e toco
teu olhar com meus olhos
com a força leve de uma carícia
terna, tão terna
que não quereremos saber mais nada
nada mais
e me entrego ao teu olhar
que nunca soube
se verde-acastanhado
se castanho-esverdeado
em tons de azul
redondinho como trajetos de carícias
presentes de carinho
que se querem escritos
em papel tom de entardecer
este poema que nos olhamos
talvez queiras escrever-me...
talvez...

vi
talvez queira escrever-me uma carta de amor
uma carta de sentimentos
que nunca pronuncia amor
porém, ama intensamente
tão intenso
que humedece os dedos de quem a lê
que os olhos se perdem na carta
e seja qual for o sentido e a direção
a leitura encontrará um calafrio suado
que baralha as palavras
que funde o pensamento
que incha o peito a cada batida
o ar não entra e a palavra não sai
a lágrima borbulha
redondinha
azul
e pinga
aquele papel conforto entardecer
e a tinta a que chamas permanente
agora escorre, e lá permanece
misturada com um pouco de mim
e a carta que era tua - que a escreveste
que era minha - que ma enviaste
agora é nossa
nela se misturaram emoções
tuas e minhas
como um beijo
talvez queiras escrever-me...
talvez...

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