terça-feira, 25 de março de 2014

não ser

ah...
é que achei que te tinhas perdido
nas linhas mestras desse padrão
de vida
tecido de um fato, abotoado
botão a botão
com uma... e outra mão
que bem te assenta 
tão competente
eleva-te a fronte
ergue-te o olhar
e o nariz que empina
frio olhar
ave de rapina

secaram-te as mãos
os pés
agora de escamas
as unhas são garras
teu fato a plumagem
grasnas uns ismos
pareces perdido

não te perdeste
disseste
nada encontraste
nem dentro de ti
vazios não se perdem
nem se orientam
em linhas mestras
vazio

resta-te o entulho
o que não sentes
o que transportas
vejo-o eu
vemo-lo todos
excluindo tu
vazio até de olhares

vazio como o olhar teu

lembras-te da tua mãe
lembras-te como ela te amou
lembras-te dos sonhos
com que te embalou
penteou o cabelo
te beijou
nas idas para a escola
no aconchego do lençol
recordas-te como tudo era cheio
cheio de sono
cheio de amor
cheio de esperança
cheio de carinho
cheio de tudo...
cheio que se esvaziou
até ao nada
vazio do ser
melhor, o não ser

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