quinta-feira, 21 de agosto de 2014

dos jardins, a perenidade

o jardim a que chamo meu, porque o sinto, sei que é de quem o cuidar, ainda que sem trabalho laborioso; basta um simples olhar de entrega ao momento, e guarda-se em nós um pouco daquele jardim e será nosso, e nós dele, para sempre, que amar um jardim é assim...

e o jardim a que chamo meu é-o de cumplicidades, que não encerra, que não brota, que não expande: estão lá, como as flores, as árvores e as pedras que são visitadas pelos pássaros, pelas abelhas, pelas borboletas e pelos ventos, chegam e logo partem: poisam rodopiam e vão, chegam rodopiam e partem, dão movimento — cumplicidade — e tornam-se cúmplices deste acontecimento denominado jardim.

hoje os pássaros chegaram mais: mais próximos, mais pássaros, mais belos, mais lindos e, como ao jardim, senti-os mais meus. e eram-no, ignorando (ou talvez não). acontece sermos de alguém sem o sabermos, pelo incidente de ali passarmos, captarmos a atenção, um olhar e ficarmos alojados na memória — personagem de uma história de um momento —; é por esta necessidade de animação dos momentos que somos tão gregários, instintivamente(?) gregários, e nos pertencemos mutuamente sem que disso sejamos conscientes, sendo-o.

hoje, em meu jardim, meus pássaros chegaram mais belos, mais lindos e mais pássaros e mais meus, e pelos voos deles elevei meus olhos, primeiro mais alto, depois mais além e, finalmente, no horizonte, em linha. ao longe, uma casa, outra e outra, donde partiam os pássaros que chegavam, para onde iam os pássaros que abalavam. casas como a minha, talvez ajardinadas talvez sem jardim. os pássaros iam, pousavam, vinham, rodopiavam — no ar, no chão — como o vento, eram a cumplicidade entre jardins, que existem para aprendermos a estar com as flores, com os insectos, com os pássaros, com o sol e o vento e com todos aqueles cuidam e guardem um pouco do que chamamos nosso, ou de nós que somos gregários, por instinto.

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