domingo, 11 de outubro de 2015

nevrose pessoana

i.
tenho um escrever compulsivo
não sei se
será o mesmo que escrever compulsivamente.
aquela foi a forma na condição de disparo
esta o modo como entendi — é um entendimento indistinto
não identifico a génese, só percebo o ulterior,
contudo, este teve uma origem, uma concepção —,
acontece-me este destempero,
tenho erupções que só depois interpreto
e nem sempre entendo;
são ambíguas ou têm ambiguidade?
terei um pensamento que se quer escrito e não pensado.
a consciência do pensamento adultera-o
e essa violência é-lhe insustentável
é-me compulsivo.

ii.
vou esforçar-me por caminhar, parto
rua abaixo dando frente para a água — pode ser
o mar — para que a rua seja rio;
é de calçada o leito prateado.
serei homem de água em meu barco, as roupas
que envergo, o leme é de incertezas que carrego,
a trajetória meu destino. já não caminho
ando, enfuno ao vento que quero de frente
no meu rosto quero sal
que me chegue aos lábios
que me salgue a alma e
que eu aprenda Portugal.

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