quinta-feira, 20 de setembro de 2012

retrato

recordo-me
de um retrato partido, gasto e sujo do tempo
que um dia morou numa cómoda puída da idade e do pano do pó
e num outro dia se esfumou
na história, no tempo e perdeu o lugar.
viajei num retrato desses
senti dos dedos da avó o prazer de o emoldurar
vi a satisfação contemplativa
desprendida ao ritmo das contas
de um rosário carregado
também ele, de histórias e significados longínquos
enquanto a avó bichanava com deus
ou com a consciência e de certeza com os seus
alguns ausentes
outros desconhecidos dos meus olhos, da minha moldura
mas presentes nas orações
nos pensamentos e na galeria de retratos.
começamos vizinhos, ficamos conhecidos e daí passámos a amigos
ligados pelo gesto de uma avó
que bichanava para nós ao ritmo de um rosário.
e nós, sorridentes atrás de um vidro, exibíamos o nosso melhor
agradecidos pela devoção.

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