quinta-feira, 21 de novembro de 2013

postal de s. valentim

desprende-te desses olhos pardos de tristeza
e deixa que se alegrem em alguém.
tropeça sem medo
nessa vida alinhada, engelha-a e amassa-a
machuca-te e aceita a cura de um beijo.
despe-te desse bafio ricamente adornado
limpa a maquilhagem que te greta as mãos
e a face
te seca o peito que já se parte de ressequido
exibindo-te o empedernido a que chamas coração;
como vês, não se compara com a imagem desse postal
que torturas na mão. a quem o vais dar?
não o escrevas: rabisca-o, rasura-o, porquê?
porque sim, porque é assim o amor;
ficas nervosa quando dizes que amas, e depois?
é porque amas e pronto, rasura-o
para que vejam, que saibam que tens ansiedade de amar.
e não te preocupes com a resposta,
talvez não seja a que gostarias, e então?
se o que queres é amar, ama! ama! e ama!
sem palavras românticas,
que o romantismo nunca esteve nas palavras
mora no peito e despeja-se pelo olhar e pela entoação.
sim, a entoação que se dá às palavras
sejam elas quais forem, mesmo que te pareçam impropérios;
já ouviste um palavrão que te acendesse o desejo de ser para ti?
ainda bem! pois não és um caso perdido.
e olha, esborrata-me bem esse postal com o teu batom
não precisas de uns lábios perfeitamente desenhados
mas de uns lábios bem amachucados nesse pedaço de coração de papel
já sentiste um beijo perfeito? saciante? carnudo?
doce e terno? desejado de tanto desejo?
pois bem, digo-te, tem lábios colados
gulosos, que nada têm a ver com esse fino recortado.

e o teu corpo? meneia-me esse corpo, dá-lhe balanço
realça-lhe as formas
ou de nada vale a dieta que estudaste e cumpres religiosamente
aceticamente,
sem uma pinta de desejo de pecar, de comer o proibido.
estala o verniz dessas unhas até à loucura
como aquela que imaginas sentir um dia, e ensaias
quando pronuncias para ti um "meu amor" forte e arrebatador
que entregarás ao teu amante que colocaste bem alto num pedestal.
pois bem, atira-te de cabeça, aplaca-o e rebola-te nele
despe-te rasgadamente e sorve-lhe o perfume
e mistura-o com o teu e devolve-lho pela pele
a tua pele na dele. vai-te a ele!
exibe-lhe os teus seios, mostra-lhos
como são bem nutridos
com os melhores cremes e carícias
que disfarças em massagens corporais
corporais uma treta!
são corporais porque também é corporal o prazer
e o desejo, aquele que faz as tuas mãos perecerem de outrem
e desejar-lhe os lábios, mais!
a boca bem aberta, bem cheia do teu seio
ah!! prazer! supremo! vai-te a ele
dá-lhe teu ventre, dá-lhe as costas
dá-lhe tudo o que sempre quiseste dar-lhe
vai-te a ele!
dá-lhe esse maldito postal torturado de mãos em agonia
imperfeito de tudo como o amor
que perfeito e mais que perfeito só o pretérito.

por isso corre, corre à chuva e salta na lama
constipa-te, se for preciso, engripa-te
enlameia-te tanto que os sapatos fiquem estragados
e põe-te na frente dele, barra-lhe o caminho
dá-lhe tudo o que tens e se recusar não interessa
tu ama-lo e és bela, que importa o que aconteça?

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