quinta-feira, 1 de agosto de 2013

silêncio

não digas nada
deixemos o tempo passar
sem nada dizer. e tu
sem nada me contares
não digas sequer que o tempo está bom
ou que vai chover
não gastes as palavras
é que os silêncios não se preenchem
e muito menos com palavras
as palavras só os encobrem
aparências
não digas nada

um dia ouvi
(se calhar inventei)
que os silêncios se quebram.
era criança e imaginava-os cristais
teriam mil cores,  ou mais
nunca as contei.
todas lindas para me encantar
na minha certeza
que o silêncio nunca fora de ouro
era o meu saber, a minha riqueza
a minha maior idade.
por isso prezo o silêncio, preciosidade
que não quero ver quebrada
mesmo se pesado, denso e acre
como agora
não digas nada.

não digas que o tempo acabou
porque o tempo nunca acaba
o silêncio distende-o
até que seja amplo e moldável
eterno.
consta que a eternidade nasceu em silêncio
que sempre foi silenciosa
como os desertos tão silenciosos e eternos
e como as almas
sempre eternas
sempre silenciosas
não digas nada.

não digas nada
nem à partida nem à chegada
o silêncio não é ausência
e nunca será nada
o silêncio é uma melodia
que podes fazer tua
é no silêncio que falas à lua
é no silêncio que tocas o sol
é no silêncio que te ouves a ti
e pares um poema
bem lá do fundo da imaginação.
e soltas teu simples desejo
"não digas nada".

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