é noite
longa
de lonjuras e de horas
parou
estacada
nada me trouxe
nada me traz
nada me leva
nada me fica
sonho vago
vazio
sem mote
a glosa ancorada
na noite
de um sono que desdurmo
sem acordo de mim
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
até ao avesso
desconforto-me sentado, procuro entender o que desentendo, escrevendo ou descrevendo o que me sopra: o pensamento. vejo-o, melhor, sinto-o como uma brisa que passa, toca sem mexer, o suficiente para entender e sossegar-me. agora apreende que o desconforto é um estado e, por o ser, se manterá neste modo consolidado de ser.
percorro-me por interiores de corpo e de alma até aos avessos, esperando que só assim me desnude sem pudores. vejo a minha nudez, e por ela a minha invisibilidade que me revela menos material do que outrora supusera, quando ainda tinha o pensamento comigo. a verdade que desvendo, porque a verdade se desvenda com uma gradação imensurável, é que um homem de avessos, nada esconde, exibe-se em toda a transparência e torna-se invisível como vidro de uma janela. o pensamento, sendo brisa, sopra leve colorido de um lado e de outro dessa mesma janela.
continuo sentadamente desconfortado: mas agora tenho uma ideia mosca cujo voo posso seguir em toda a sua geometria. darei formas ao tempo e relevo ao pensamento.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
não-narciso
nele, nela, em ti
em vós eu me vi
poderia ser o olhar meu
que por ele eu vos vejo
que por ele vos vicejo
ali, acolá, aqui
omnipresenças de mim mesmo
em vós eu me vi
poderia ser o olhar meu
que por ele eu vos vejo
que por ele vos vicejo
ali, acolá, aqui
omnipresenças de mim mesmo
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
à beira d'água
leito de poeta
de rio em rio
de rio em rio
que a poesia jorra
como água de rio corrente
que antes brotou de nascente
impetuosa
que a infância de rio e de gente
vive-se impetuosamente
como poesia nascida do coração quente
e pula, barulha, enrola, gargalha
e empurra, arrasta, acalma
serpenteia e desmaia
serpenteia e desmaia
então estua, espraia, espelha
rejubila, dá vida
entrega-se ao mar
e leva os olhares
que se perderam
que encantou
à beira d'água
entrega-se ao mar
e leva os olhares
que se perderam
que encantou
à beira d'água
iliimensitude
gravito no poema
grávido de mim
pari-o
para que me parisse
órbita de significados
entre leituras e escritas
grávido de mim
pari-o
para que me parisse
órbita de significados
entre leituras e escritas
infinitude
leio
o poema que escrevi
escreverei
o poema que li
cada leitura
faz um poema por escrever
o poema que escrevi
escreverei
o poema que li
cada leitura
faz um poema por escrever
jamais
não podem calar-se as memórias
dos que foram extorquidos até à dignidade
não podem apagar-se os silêncios
dos olhares desesperados, dos olhos impotentes
não pode sossegar-se a dor de ver um país desmoronado
não se desfaz o desalento da liquidação de futuros
não há perdão por ter-se permitido a invasão
dos que constroem estampando a miséria nas ruas e nas vidas
não pode curar-se o arrependimento
de não se ter sido mais ativo e politicamente exigente
já não pode encobrir-se a raiva da nossa zanga
já não podem forjar-se versões heróicas
que esta guerra de economia só tem vítimas e vilões
não se pode deixar esquecer
que jamais alguém esqueça! nunca!
dos que foram extorquidos até à dignidade
não podem apagar-se os silêncios
dos olhares desesperados, dos olhos impotentes
não pode sossegar-se a dor de ver um país desmoronado
não se desfaz o desalento da liquidação de futuros
não há perdão por ter-se permitido a invasão
dos que constroem estampando a miséria nas ruas e nas vidas
não pode curar-se o arrependimento
de não se ter sido mais ativo e politicamente exigente
já não pode encobrir-se a raiva da nossa zanga
já não podem forjar-se versões heróicas
que esta guerra de economia só tem vítimas e vilões
não se pode deixar esquecer
que jamais alguém esqueça! nunca!
antevidência
a noite a noite a noite
todas as noites
são boas para morrer
o silêncio que se confunde com a paz
a visão clara da escuridão
a solidão doce cortantemente amarga
e o desconforto das vísceras
com que se urde a morte libertadora
aconchega-me o lençol
um movimento menino de mãe
a minha mãe toda ela ternura
ternura em beijo de boa noite
e sorrio sorrio sorrio
todas as noites
são boas para morrer
o silêncio que se confunde com a paz
a visão clara da escuridão
a solidão doce cortantemente amarga
e o desconforto das vísceras
com que se urde a morte libertadora
aconchega-me o lençol
um movimento menino de mãe
a minha mãe toda ela ternura
ternura em beijo de boa noite
e sorrio sorrio sorrio
domingo, 26 de janeiro de 2014
urdidor de melancolias
era um melancólico sempre atento
ao pior que o dia urdia
com isso mesmo ele tecia
a muito sua melancolia
ao pior que o dia urdia
com isso mesmo ele tecia
a muito sua melancolia
perecibilidade do eu
que os eus são assim, perecíveis
têm um tempo
morrem um pouco antes de renascermos
é uma história de ressuscitamentos
sem tragédia
só reconhece a vida
quem emerge da caruma negra
a negrura de um eu que desviveu
têm um tempo
morrem um pouco antes de renascermos
é uma história de ressuscitamentos
sem tragédia
só reconhece a vida
quem emerge da caruma negra
a negrura de um eu que desviveu
fracionado
quando falas de mim
nunca sei que eu invocas
se o eu que te deslumbrou
se o eu que me desejas
se eu que agora tocas
nunca sei que eu invocas
se o eu que te deslumbrou
se o eu que me desejas
se eu que agora tocas
convertido
não consigo amar mais
já não quero amar mais
esgotou-se o amor em mim
esgotou-se o amor para mim
já não sou deus
não faço o diabo do milagre
a m a r
já não sou lírico nem telúrico
nem colérico
nem apaixonado
nem sanguíneo nem irado
nem fleuma eu sou.
o sol é-me o que distingue a noite do dia
a poesia nunca deu de comer a ninguém
e alimentar almas não existe
amar é uma escolha
e o coração tem uma única função
trabalhar! e bem! ou serei cardíaco
e tu também
o poema é um desperdício de papel
e por isso a poesia é um atentado
ecológico, ideológico
esse pensar e escrever em outra via
isso existe? é fantasia!
daquela que enlouquece os povos
os pobres dos pensadores
que atendem mais à dores
do corpo, da alma, do coração
da sociedade, a que chamam a cidade
ou povo, semeando o pieguice
em nome da liberdade
da paz, da felicidade
da solidariedade?
tudo fantasia,
promiscuidade
poesia
e a dívida? quem a paga?
quem viveu acima de?...
fui eu? fui só eu?
trabalhemos ou morreremos de fome
que neste país
quem não trabalha não come
e quando não formos devedores
poderemos lamber nossas dores
escrever poemas esbanjar papel
e, quem sabe, seremos poetas
se ainda conseguirmos amar...
já não quero amar mais
esgotou-se o amor em mim
esgotou-se o amor para mim
já não sou deus
não faço o diabo do milagre
a m a r
já não sou lírico nem telúrico
nem colérico
nem apaixonado
nem sanguíneo nem irado
nem fleuma eu sou.
o sol é-me o que distingue a noite do dia
a poesia nunca deu de comer a ninguém
e alimentar almas não existe
amar é uma escolha
e o coração tem uma única função
trabalhar! e bem! ou serei cardíaco
e tu também
o poema é um desperdício de papel
e por isso a poesia é um atentado
ecológico, ideológico
esse pensar e escrever em outra via
isso existe? é fantasia!
daquela que enlouquece os povos
os pobres dos pensadores
que atendem mais à dores
do corpo, da alma, do coração
da sociedade, a que chamam a cidade
ou povo, semeando o pieguice
em nome da liberdade
da paz, da felicidade
da solidariedade?
tudo fantasia,
promiscuidade
poesia
e a dívida? quem a paga?
quem viveu acima de?...
fui eu? fui só eu?
trabalhemos ou morreremos de fome
que neste país
quem não trabalha não come
e quando não formos devedores
poderemos lamber nossas dores
escrever poemas esbanjar papel
e, quem sabe, seremos poetas
se ainda conseguirmos amar...
sábado, 25 de janeiro de 2014
circunstância do colorido
a manhã nasceu escura e manteve-se nesse tom.
decidira assim, parecia.
que as manhãs nascem do escuro, é sabido;
que umas se abrilhantam e que outras se acinzentam, é óbvio.
que as manhãs se fazem ao sabor do tempo e das circunstâncias, ensinaram-nos;
que sabor é genuinamente animal e o tempo puramente humano, sabemos.
quanto à circunstâncias,
somos peixes num mar de coral: mergulhados no mar que bebemos e respiramos.
e o colorido desse mar de coral depende dos peixes que o bebem, respiram e habitam.
esta manhã nascida, de que falávamos, seria um coral cinza habitado de peixes cinzentos.
decidira assim, parecia.
que as manhãs nascem do escuro, é sabido;
que umas se abrilhantam e que outras se acinzentam, é óbvio.
que as manhãs se fazem ao sabor do tempo e das circunstâncias, ensinaram-nos;
que sabor é genuinamente animal e o tempo puramente humano, sabemos.
quanto à circunstâncias,
somos peixes num mar de coral: mergulhados no mar que bebemos e respiramos.
e o colorido desse mar de coral depende dos peixes que o bebem, respiram e habitam.
esta manhã nascida, de que falávamos, seria um coral cinza habitado de peixes cinzentos.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
genética do acaso
serei um erro da natureza
um acaso
creio mesmo
que o espermatozoide que me deu origem era preguiçoso
nunca quis correr nem chegar primeiro
detestava competir e amava a multidão
terá sido uma corrente d'ar, um salto
ou um qualquer movimento brusco de minha mãe
que o precipitou e quedou no óvulo
e fez-se o ovo
nasci eu
sonho a comunidade
não acredito na superioridade de chegar primeiro
e de competir de forma maníaca com tudo e todos
nunca poderei ser neo-liberal
detesto que me empurrem
empreendedorismo soa-me a impropério
na minha comunidade a dignidade é inviolável
um acaso
creio mesmo
que o espermatozoide que me deu origem era preguiçoso
nunca quis correr nem chegar primeiro
detestava competir e amava a multidão
terá sido uma corrente d'ar, um salto
ou um qualquer movimento brusco de minha mãe
que o precipitou e quedou no óvulo
e fez-se o ovo
nasci eu
sonho a comunidade
não acredito na superioridade de chegar primeiro
e de competir de forma maníaca com tudo e todos
nunca poderei ser neo-liberal
detesto que me empurrem
empreendedorismo soa-me a impropério
na minha comunidade a dignidade é inviolável
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
esmorrecimento
morre-se, por onde morrem as borboletas
pela falta de flores
morre-se, por onde morrem os dias
pela queda no esquecimento
morre-se, por onde morrem as histórias
pela submissão ao silêncio, ao segredo e ao degredo
pela falta de flores
morre-se, por onde morrem os dias
pela queda no esquecimento
morre-se, por onde morrem as histórias
pela submissão ao silêncio, ao segredo e ao degredo
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
diálogo interno
navego
de táxi atravesso este oceano
em tráfego tráfico tragédia
que o dinheiro vale -
os mercados - na nova roupagem
não há pessoas felizes
o radio anima-se a si próprio
a proa deste táxi segue o cinza
que não termina
que não acaba nunca.
uma criança à escotilha
numa barcaça ao lado
acena-me, desafiadora sorriu -
por trás da chupeta - até aos olhos
viu-me amigável
nas minhas sorumbáticas vestimentas
de zeloso servidor de mercados
zangado no cinza deste mar.
insosso um sorriso
mostro-lhe a palma da mão
aberta, quero dar-lhe um pouco de paz
que sinto não ter.
não podia frustrar quem olha as pessoas
como o essencial da humanidade.
a criança partiu
o táxi onde navego, segue
segue, parecendo encalhado
e prossigo silencioso
como meu aceno de paz ao futuro
...
de táxi atravesso este oceano
em tráfego tráfico tragédia
que o dinheiro vale -
os mercados - na nova roupagem
não há pessoas felizes
o radio anima-se a si próprio
a proa deste táxi segue o cinza
que não termina
que não acaba nunca.
uma criança à escotilha
numa barcaça ao lado
acena-me, desafiadora sorriu -
por trás da chupeta - até aos olhos
viu-me amigável
nas minhas sorumbáticas vestimentas
de zeloso servidor de mercados
zangado no cinza deste mar.
insosso um sorriso
mostro-lhe a palma da mão
aberta, quero dar-lhe um pouco de paz
que sinto não ter.
não podia frustrar quem olha as pessoas
como o essencial da humanidade.
a criança partiu
o táxi onde navego, segue
segue, parecendo encalhado
e prossigo silencioso
como meu aceno de paz ao futuro
...
em nome de todos os nomes
todas as palavras pronunciam teu nome
que enuncia tudo; em teu nome
tudo te pertence; de teu nome
tudo provém; chega e parte
em teu nome; em nome de todos
os nomes que teu nome tem
que enuncia tudo; em teu nome
tudo te pertence; de teu nome
tudo provém; chega e parte
em teu nome; em nome de todos
os nomes que teu nome tem
apelo
escreve-te
escreve-te de dentro para fora
como nascem os rios, de dentro da terra
brota o que houver em ti, seja o que for
rio, mar, calhau, flor
mas nasce, brotando escrita
bendita, maldita, por certo ainda não dita
escreve, rasura, corrige, rabisca
arrisca, escreve de onde te nasce a alma
escreve, acalma, sossega
entrega o que de ti fluiu
e paira não pares, voa, parte
vai longe, bem longe, e regressa
se quiseres, sem pressa, escreve
desenha, compõe, usa o pensamento
faz poema na memória
guardá-lo-ás como história
deste aqui e agora
que viverás vida fora
sem que recordes este momento
escreve-te de dentro para fora
como nascem os rios, de dentro da terra
brota o que houver em ti, seja o que for
rio, mar, calhau, flor
mas nasce, brotando escrita
bendita, maldita, por certo ainda não dita
escreve, rasura, corrige, rabisca
arrisca, escreve de onde te nasce a alma
escreve, acalma, sossega
entrega o que de ti fluiu
e paira não pares, voa, parte
vai longe, bem longe, e regressa
se quiseres, sem pressa, escreve
desenha, compõe, usa o pensamento
faz poema na memória
guardá-lo-ás como história
deste aqui e agora
que viverás vida fora
sem que recordes este momento
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
sábado, 18 de janeiro de 2014
era uma vez
o sol botou as pernitas de fora
e esticou os deditos até ao estalido
e bocejou cheio, redondinho e quente
e despertou o vento que quis aquecer-se
enrolou-se no sol, umas 2 ou 3 voltas, e partiu
chegou quentinho e cantador
em coro, as cigarras trinaram
enquanto as formigas carregavam
tudo como manda a natureza
bucólico
que o escritor transcreveu até ao inverno
e os povos o leram e política cometeram
e esticou os deditos até ao estalido
e bocejou cheio, redondinho e quente
e despertou o vento que quis aquecer-se
enrolou-se no sol, umas 2 ou 3 voltas, e partiu
chegou quentinho e cantador
em coro, as cigarras trinaram
enquanto as formigas carregavam
tudo como manda a natureza
bucólico
que o escritor transcreveu até ao inverno
e os povos o leram e política cometeram
profissionalidades no amor
i. o engenheiro
ela escolheu
de entre todas as poses
a melhor
queria fazer amor
ele correspondeu
sempre engenheiro
foi uma máquina
contou todas as vezes
ela recostou
de cara no peito dele
ele contou
tudo com grande precisão
ii. o gestor
ela escolheu
de entre todas as poses
a melhor
queria fazer amor
ele correspondeu
sempre dominador
verificou todos os indicadores
apontou todas as vezes
ela recostou
de cara no peito dele
ele controlou
tudo com grande objetividade
iii. o político
ela escolheu
de entre todas as poses
a melhor
queria fazer amor
ele correspondeu
sempre liderando
procurou a audiência
sorriu de todas as vezes
ela recostou
de cara no peito dele
ele declarou
tudo com grande heroicidade
iv. o poeta
ela escolheu
de entre todas as poses
a melhor
queria fazer amor
ele correspondeu
sempre glosando
entregue à fantasia
apaixonou-se de todas as vezes
ela recostou
de cara no peito dele
ele exaltou
eram sóis, mares, perfumes e outros voos
ela escolheu
de entre todas as poses
a melhor
queria fazer amor
ele correspondeu
sempre engenheiro
foi uma máquina
contou todas as vezes
ela recostou
de cara no peito dele
ele contou
tudo com grande precisão
ii. o gestor
ela escolheu
de entre todas as poses
a melhor
queria fazer amor
ele correspondeu
sempre dominador
verificou todos os indicadores
apontou todas as vezes
ela recostou
de cara no peito dele
ele controlou
tudo com grande objetividade
iii. o político
ela escolheu
de entre todas as poses
a melhor
queria fazer amor
ele correspondeu
sempre liderando
procurou a audiência
sorriu de todas as vezes
ela recostou
de cara no peito dele
ele declarou
tudo com grande heroicidade
iv. o poeta
ela escolheu
de entre todas as poses
a melhor
queria fazer amor
ele correspondeu
sempre glosando
entregue à fantasia
apaixonou-se de todas as vezes
ela recostou
de cara no peito dele
ele exaltou
eram sóis, mares, perfumes e outros voos
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
deságuo
deslumbro-me
no teu ar
profundo de mar
faço-me rio
para desaguar
em ti
e sigo todo
eu
numa corrente
que me tomes
além dos abraços
na profundeza do mar
que é teu
donde se solta brisa
que me entregas no sopro quente
do teu beijo
no teu ar
profundo de mar
faço-me rio
para desaguar
em ti
e sigo todo
eu
numa corrente
que me tomes
além dos abraços
na profundeza do mar
que é teu
donde se solta brisa
que me entregas no sopro quente
do teu beijo
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
aqui
onde estou, aqui, é árido, não sei se seco
sinto-o estéril; o lume é fogo, a míngua é grande
o que emerge é tosco de forma e mirrado de essência
aqui é longe de tempo, é longo de espaço
aqui é lugar de perdidos que em si mesmo derivam; ignoram
acenos de vida que não entendem; tateiam
paredes de negrura e navegam no breu.
aqui é o quarto escuro e esconso da vida
anseio meu voo de gaivota
a vadiagem além, onde a vida começa
sinto-o estéril; o lume é fogo, a míngua é grande
o que emerge é tosco de forma e mirrado de essência
aqui é longe de tempo, é longo de espaço
aqui é lugar de perdidos que em si mesmo derivam; ignoram
acenos de vida que não entendem; tateiam
paredes de negrura e navegam no breu.
aqui é o quarto escuro e esconso da vida
anseio meu voo de gaivota
a vadiagem além, onde a vida começa
fogo
do fogo, nas trevas, se fez o calor e a luz
que superou as trevas
e o amor, para nascer o sol
que é feito do fogo que aquece a pele,
enquanto o amor queima por dentro o fogo que tem
o lume que alumia ou o ofuscante da paixão.
desnorte, pode haver, mas sem escuridão
que o fogo como o saber, ilumina e pode até doer
mas apaga a escuridão das trevas onde se fez
que superou as trevas
e o amor, para nascer o sol
que é feito do fogo que aquece a pele,
enquanto o amor queima por dentro o fogo que tem
o lume que alumia ou o ofuscante da paixão.
desnorte, pode haver, mas sem escuridão
que o fogo como o saber, ilumina e pode até doer
mas apaga a escuridão das trevas onde se fez
domingo, 12 de janeiro de 2014
ideação
tenho o desaire de não ouvir
as palavras que ideio, escrevo-as
como desenhos bem da infância
há uma história em cada risco
e outra em cada volta
até que meus olhos se miúdam
aí, sorrio sem sonhar
as palavras que ideio, escrevo-as
como desenhos bem da infância
há uma história em cada risco
e outra em cada volta
até que meus olhos se miúdam
aí, sorrio sem sonhar
servo de si
o que eu sei de hoje é muito pouco
que dia é hoje?
tomo meu café de olhar erguido
ao balcão há um cliente
hoje é dia livre? - perguntou
sem telemóvel... - inferiu
avariou - expliquei
sem agenda
sem notícias
sem telefone... - lamentei
hoje será um dia seu - declarou
e partiu
que dia é hoje?
será o dia que quiser!
que dia é hoje?
tomo meu café de olhar erguido
ao balcão há um cliente
hoje é dia livre? - perguntou
sem telemóvel... - inferiu
avariou - expliquei
sem agenda
sem notícias
sem telefone... - lamentei
hoje será um dia seu - declarou
e partiu
que dia é hoje?
será o dia que quiser!
simples
não inventei o lado certo de mim
ainda não criei minha maturidade
ainda brinco ao equilíbrio
no bordo dos passeios
e sorrio cobiçoso ao chocolate
perdido na cara de uma criança feliz
e quando vejo o catraio imito-o
na simplicidade que me dedica
sem certos, sem errados
só curiosidade
de ver, entender
invento-me aprendendo assim
ainda não criei minha maturidade
ainda brinco ao equilíbrio
no bordo dos passeios
e sorrio cobiçoso ao chocolate
perdido na cara de uma criança feliz
e quando vejo o catraio imito-o
na simplicidade que me dedica
sem certos, sem errados
só curiosidade
de ver, entender
invento-me aprendendo assim
sábado, 11 de janeiro de 2014
íntimo
aproximei-me
todo aquele mar ali contido
consigo só na infinita solidão
remexendo-se, roncador...
roncão insatisfeito
que se saiba, o só
procura o mar
quer sentir no olhar
tudo o que lhe vai no peito
todo aquele mar ali contido
consigo só na infinita solidão
remexendo-se, roncador...
roncão insatisfeito
que se saiba, o só
procura o mar
quer sentir no olhar
tudo o que lhe vai no peito
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
dias de nada
cansa-me o restolho dos dias
cheira a papel de repartição
diz-me que não sou dali
e percebo que não sonho
pesadelo!
cheira a papel de repartição
diz-me que não sou dali
e percebo que não sonho
pesadelo!
talvez amanhã seja um dia sem fim, grande e pleno
talvez amanhã eu consiga contar-te o que não sei dizer
talvez amanhã as palavras não empanquem em mim e se soltem
talvez amanhã eu te diga, sem escrever, versos dignos
talvez amanhã eu saiba pronunciar-te o valor do teu olhar
talvez amanhã eu saiba alcançar o que não dizes
talvez amanhã eu saiba entender as tuas palavras
talvez amanhã eu deixe escapar um dos meus sonhos de ti
talvez amanhã meu dia não acabe tarde de mais e eu possa aconchegar-te como mereces
talvez amanhã eu consiga contar-te o que não sei dizer
talvez amanhã as palavras não empanquem em mim e se soltem
talvez amanhã eu te diga, sem escrever, versos dignos
talvez amanhã eu saiba pronunciar-te o valor do teu olhar
talvez amanhã eu saiba alcançar o que não dizes
talvez amanhã eu saiba entender as tuas palavras
talvez amanhã eu deixe escapar um dos meus sonhos de ti
talvez amanhã meu dia não acabe tarde de mais e eu possa aconchegar-te como mereces
rio
a água corrente
no leito
gera-se o rio
a corrente
os peixes e as gaivotas
dão-lhe a vida
o olhar demorado das gentes
os segredos confessados
criam-lhe a memória
o espelhado do sol
a neblina e os pingos da chuva
ateam-lhe a magia
a cidade
os jardins e as luzes da noite
reservam-lhe um lugar na paisagem
no campo
as borboletas e as crianças
ensinam-lhe o caminho
no leito
gera-se o rio
a corrente
os peixes e as gaivotas
dão-lhe a vida
o olhar demorado das gentes
os segredos confessados
criam-lhe a memória
o espelhado do sol
a neblina e os pingos da chuva
ateam-lhe a magia
a cidade
os jardins e as luzes da noite
reservam-lhe um lugar na paisagem
no campo
as borboletas e as crianças
ensinam-lhe o caminho
sufoco
indecifrável este entremeio
acabou o mundo entre nós
e quando éramos 2 passamos a 1
e sufocamos neste corpo
de 1 cérebro e 2 peitos
acabou o mundo entre nós
e quando éramos 2 passamos a 1
e sufocamos neste corpo
de 1 cérebro e 2 peitos
meu povo vive convencido que é vítima. o que até é verdade; é vítima de si mesmo nesse estado resignado do qual se recusa acordar.
instalou-se no lado mais atávico do "velho do restelo", empurra-se pelos jovens para fora do país e oferece-se, como cordeiro no sacrifício, a experimentalismos (maldosos?, ignorantes?).
e ainda há quem invoque o regresso do D. Sebastião e quem viva encolhido, temendo ser apanhado na tempestade.
instalou-se no lado mais atávico do "velho do restelo", empurra-se pelos jovens para fora do país e oferece-se, como cordeiro no sacrifício, a experimentalismos (maldosos?, ignorantes?).
e ainda há quem invoque o regresso do D. Sebastião e quem viva encolhido, temendo ser apanhado na tempestade.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
ao sol
encontrei-te
no sol
que toca tua face
no livro, onde escrevo
onde leio teus olhos
adormecidos
para mim
no sol
que toca tua face
no livro, onde escrevo
onde leio teus olhos
adormecidos
para mim
meu amigo
meu amigo é fácil
compreensivo
domadamente contido
resignado até
ao infortúnio de ser o que é.
meu amigo não acredita
e compra a culpa que lhe estendem
aceita o elogio que lhe dão
costas voltadas ao poder
nem viu o daninho crescer
(embora o conheça bem)
e parte para longe, sem luta
ou fica por cá e oculta
a dor que sente da culpa
que sabe não ser sua
sabendo que é de alguém.
meu amigo, porém
vai dando sinais de mudança...
compreensivo
domadamente contido
resignado até
ao infortúnio de ser o que é.
meu amigo não acredita
e compra a culpa que lhe estendem
aceita o elogio que lhe dão
costas voltadas ao poder
nem viu o daninho crescer
(embora o conheça bem)
e parte para longe, sem luta
ou fica por cá e oculta
a dor que sente da culpa
que sabe não ser sua
sabendo que é de alguém.
meu amigo, porém
vai dando sinais de mudança...
cidade
olhei minha folha de papel
li-a como uma sala branca
de paredes brancas
vazia
nada tinha escrito
ninguém ali habitava, pensei
e logo se transformou em cidade
li-a como uma sala branca
de paredes brancas
vazia
nada tinha escrito
ninguém ali habitava, pensei
e logo se transformou em cidade
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
seco, vazio, escuro
entregues à lonjura dos silêncios da noite,
onde os sonhos se toldam,
secaram
onde secam as fontes; na nascente.
sem nada que lhes corra, escorrem-se
de mãos dadas
como os amantes
apagados de tudo até aos olhos
embrulham-se na manta do silêncio
e respiram algum conforto.
onde os sonhos se toldam,
secaram
onde secam as fontes; na nascente.
sem nada que lhes corra, escorrem-se
de mãos dadas
como os amantes
apagados de tudo até aos olhos
embrulham-se na manta do silêncio
e respiram algum conforto.
teus olhos
teus olhos chegam-me pássaros
em bandos
olhares chilreantes
aos meus pensamentos em pulos
tagarelos
que inquiétude
(enquanto lia O segredo dos pássaros, de Vítor Serpa)
em bandos
olhares chilreantes
aos meus pensamentos em pulos
tagarelos
que inquiétude
(enquanto lia O segredo dos pássaros, de Vítor Serpa)
seara
todos futuros que tive
todos semeados em presentes
a todos olho, em volta
contemplando a sementeira
insinuam-se-me como onda
pela brisa de vida fresca
do vento passado
que se ouve no canto da cigarra
todos semeados em presentes
a todos olho, em volta
contemplando a sementeira
insinuam-se-me como onda
pela brisa de vida fresca
do vento passado
que se ouve no canto da cigarra
onde voa o céu
esvazio-me em perguntas
uma a uma escorro-me, sem pressa
que as respostas chegarão
umas vezes em bandos
outras solitárias
gralhando silêncios
como voos de pássaros
fluidezes que vêm e vão
esvoaçar-nos realidades
uma a uma escorro-me, sem pressa
que as respostas chegarão
umas vezes em bandos
outras solitárias
gralhando silêncios
como voos de pássaros
fluidezes que vêm e vão
esvoaçar-nos realidades
o corpo é a parte concreta de nós. tem caprichos, doamos-lhe os melhores cuidados, começa por nos pregar umas partidas e um dia, normalmente de surpresa, recusa-se a acompanhar-nos.
já o espírito é o nosso imaterial, também com seus caprichos. é eterno se o cuidarmos e morre se não o deixamos crescer e nós nem damos conta quando o matamos.
já o espírito é o nosso imaterial, também com seus caprichos. é eterno se o cuidarmos e morre se não o deixamos crescer e nós nem damos conta quando o matamos.
domingo, 5 de janeiro de 2014
simbiose
fito o olhar
o sereno soltar das folhas
onde cresce o poema
à medida que teus olhos o iluminam
página a página
a cor nasce do esgar doce, um sorriso
um ténue massajar da folhas
o livro entre mãos
esvoaçam-me as ideias
ao aconchego de teus olhos
que finalizam meu poema
deixo-me olhar-te
o sereno soltar das folhas
onde cresce o poema
à medida que teus olhos o iluminam
página a página
a cor nasce do esgar doce, um sorriso
um ténue massajar da folhas
o livro entre mãos
esvoaçam-me as ideias
ao aconchego de teus olhos
que finalizam meu poema
deixo-me olhar-te
noite
porque o dia só teve noite
silêncios de sossegos
desassossegados por todos os silêncios
que a solidão chega
quando nos despedimos de nós
não há sol
que desfaça a noite
de um dia assim
silêncios de sossegos
desassossegados por todos os silêncios
que a solidão chega
quando nos despedimos de nós
não há sol
que desfaça a noite
de um dia assim
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
envelhecer
o que realmente nos envelhece é o medo de morrer
depois o medo de envelhecer.
tudo começa com uma simples dor de costas
e as rugas, onde líamos expressão, desenham-nos a idade
que agora parece muita (como chegou?) demais.
escondem-se uns anitos. ajuda estilo de vestir
o corte de cabelo, uns bálsamos amenos
e os analgésicos para dores das costas e outros males.
lembramos menos os medos, não os esquecemos,
nem os dominamos. pisámo-los e recalcamos-los
sabendo que se alastram pelos ossos.
enquanto não chegam outros comprimidos para o medo, esperamos
envelhecendo, mantendo o bom aspeto.
aprendi com uma velhinha linda de um retrato,
no preto e branco da portugalidade que tanto gostamos.
lia-se-lhe nas rugas a tortura do tempo e como fora dura de vergar
amarrotava na mão um lenço, que foram imaculadamente liso
com que limpava os olhos, um após o outro,
sempre na mesma cadência, e com frequência.
sorria, não chorava, nunca chorara, dizia
mas já não se continha a água dos olhos, que não eram lágrimas
afirmava, sorrindo, sem saudade e sem medo
linda de fotografia
sem envelhecer, não havia vestígios de velhice.
depois o medo de envelhecer.
tudo começa com uma simples dor de costas
e as rugas, onde líamos expressão, desenham-nos a idade
que agora parece muita (como chegou?) demais.
escondem-se uns anitos. ajuda estilo de vestir
o corte de cabelo, uns bálsamos amenos
e os analgésicos para dores das costas e outros males.
lembramos menos os medos, não os esquecemos,
nem os dominamos. pisámo-los e recalcamos-los
sabendo que se alastram pelos ossos.
enquanto não chegam outros comprimidos para o medo, esperamos
envelhecendo, mantendo o bom aspeto.
aprendi com uma velhinha linda de um retrato,
no preto e branco da portugalidade que tanto gostamos.
lia-se-lhe nas rugas a tortura do tempo e como fora dura de vergar
amarrotava na mão um lenço, que foram imaculadamente liso
com que limpava os olhos, um após o outro,
sempre na mesma cadência, e com frequência.
sorria, não chorava, nunca chorara, dizia
mas já não se continha a água dos olhos, que não eram lágrimas
afirmava, sorrindo, sem saudade e sem medo
linda de fotografia
sem envelhecer, não havia vestígios de velhice.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
simplesmente
em poesia
todas as figuras de estilo
poderiam ser denominadas
simplesmente
poesia
poesia vive de gente
pessoas pequenas e grandes
redondas e quadradas
coloridas e descoradas
tanto faz, gente
simplesmente
gente que poesia a vida
gente que vida a poesia
todas as figuras de estilo
poderiam ser denominadas
simplesmente
poesia
poesia vive de gente
pessoas pequenas e grandes
redondas e quadradas
coloridas e descoradas
tanto faz, gente
simplesmente
gente que poesia a vida
gente que vida a poesia
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