sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

envelhecer

o que realmente nos envelhece é o medo de morrer
depois o medo de envelhecer.
tudo começa com uma simples dor de costas
e as rugas, onde líamos expressão, desenham-nos a idade
que agora parece muita (como chegou?) demais.
escondem-se uns anitos. ajuda estilo de vestir
o corte de cabelo, uns bálsamos amenos
e os analgésicos para dores das costas e outros males.
lembramos menos os medos, não os esquecemos,
nem os dominamos. pisámo-los e recalcamos-los
sabendo que se alastram pelos ossos.
enquanto não chegam outros comprimidos para o medo, esperamos
envelhecendo, mantendo o bom aspeto.

aprendi com uma velhinha linda de um retrato,
no preto e branco da portugalidade que tanto gostamos.
lia-se-lhe nas rugas a tortura do tempo e como fora dura de vergar
amarrotava na mão um lenço, que foram imaculadamente liso
com que limpava os olhos, um após o outro,
sempre na mesma cadência, e com frequência.
sorria, não chorava, nunca chorara, dizia
mas já não se continha a água dos olhos, que não eram lágrimas
afirmava, sorrindo, sem saudade e sem medo
linda de fotografia
sem envelhecer, não havia vestígios de velhice.

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