domingo, 10 de março de 2013

desamparados


soube que te chamavas a ti mesma de minha mãe
contaram-me.
sempre soube que o colo onde me aconchegava não era meu
senti-o. senti-o sempre que me aconcheguei
acreditava que tinha um para mim, como todos os meninos
mas não era aquele. recebia-me, amava-me
mas algo não se moldava, no corpo
nos corpos algo não correspondia
por isso percebi cedo que teria de procurar-te
melhor, teria de encontrar-te
e... , quem sabe, ver teu colo que tão bem conheço
pela ausência...
não consigo chamar-te mãe
e muito menos usando o pronome possessivo minha
nunca nos pertencemos, de facto.
abandonados na vida, só nos ligou um colo
e agora este poema
em que te chamas minha mãe
e, secretamente, me vejo o teu menino.

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