quinta-feira, 12 de setembro de 2013

a morte

a morte. a morte chegou-me de manhã, com o nascer do dia, ainda antes de eu acordar.
instalou-se. estava instalada.
tinha um vestido vermelho e eu que nunca tinha reparado. eu aprendera que se vestia de negro  negro da morte  e, talvez por isso, nunca tenha notado a vermelhidão da vestimenta.
também me sorriu, o que teve em mim um efeito que poderia chamar-se encanto feminino. por isso não pude deixar de a olhar e, depois, de a apreciar, com o meu melhor olhar distante.
ela insinuava-se, sentada, tombava ora sobre um lado, ora sobre o outro, num rebolo das ancas sobre a almofada da poltrona. usou o sempre clássico cruzar de pernas, dançado e enfeitado por dois joelhos perfeitos. insinuava-se também  pelo olhar: ora tropeçante no meu, ora indiferente, como a ignorância.
minha pose era seráfica, hirta como um sírio, como aprendi com meu pai e sabia-me a castigo ou a alerta. por ali ficámos, estando: eu sonhava, ela instalava-se, mediamo-nos, cúmplices.
não fossem as modas dos tempos e teríamos ido ao encontro um do outro pedindo/oferecendo lume para um cigarro. mas agora seria um convite explícito para sairmos: os dois para um momento de intensa intimidade, no exterior, à porta de algo  neste caso do sonho  em torno de um cigarro que partilharíamos passa-a-passa.
acordei! tudo tinha passado, porém, estava cá tudo: o vestido vermelho, os olhares e o desejo de uma passa, também.
compreendi porque o cigarro mata.

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