terça-feira, 3 de setembro de 2013

trajetos da tarde

i
não sou nada, por isso
quando olho pela janela
só encontro meu reflexo
todo o resto, eu invento

ii
destino de homem
que se foi fazendo bicho
é bicho-homem
corpo de homem
alma de bicho;
indistinto bicho

iii
a metafísica, a filosofia
e uma certa poesia
são modos de procurar
a felicidade
em dias de mau-humor

iv
ai,
como eu tenho algo para te dar...

v
vejo uma flor que cresce do chão
estica-se, balança-se, aproxima-se
o chão ajuda-a e eu sorrio-lhes
pateta da emoção...
não sou nada... nada...

vi
a primavera escreve-se nas árvores
e também nas flores
livros estampados de paisagens
com o mar, sempre o mar,
ao fundo
para onde todos os rios correm

vii
as folhas
amarelas-castanho de morno e de sol
libertam o outono
dançam ondulações de mar
(ainda o mar)
unem-se sem capas, algumas enrolam-se
outras rebolam, livres, porque é solta a poesia

viii
os amantes, como poetas, assinam nos troncos
querem a perenidade de um epitáfio

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