sexta-feira, 3 de maio de 2013

ao pai que nunca vi

cheguei, chego ou chegarei hoje à meia idade
tu como sempre, estás ausente:
a tua forma de presença, a tua celebridade e a minha recordação.
lembro-te como um messias
aparecerias, um dia, e tudo se mudaria
tu virias e eu deixaria de sentir aquela réstia de desconforto
nos colos, nas mãos, nos olhares que pressentia não serem meus
eram de alguém e eu usava-os como um trapo em segunda mão
rompia-o e gostava,
sabendo não ser feito nem comprado a pensar em mim.
e tu chegarias (acreditava) e eu procurava, aguardava
meu pai (meu) para mim.
hoje entendi a rima do teu estado:
tu, presente, ausente, silente
e não creio, queiras ser procurado
e eu quero sentir (minhas) as ternuras e os mimos
feitos à minha medida, por quem lê nos meus olhos a necessidade
e no meu peito o reconhecimento, tão terno quanto eterno.
hoje, abandonarei a minha incessante procura
encontrar-te-ei: no mar e no vento
nos olhares, nos abraços, nos risos e nos sorrisos
oferecidos pela minha gente, tão diferente de ti,
que (só foneticamente) rima com teu estado:
presente, ausente, silente...
pai... sem ressentimento.

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