quinta-feira, 29 de maio de 2014

abandono

olho(-te)
pela janela encaro o escuro
invade-me essa luz de farol de carro velho
tudo em mim é velho como eu e a roupa que visto
e a janela que assomo à luz desse farol
e o escuro, da noite que surge sem ser aguardada
mas chega e olho-o nos olhos que não tem
só isso!... e acerca-se velho
como o meu rosto.

há um cão que me olha nos olhos
tomei-o por meu amigo
contemplou-me
que saudades de um olhar, eu tinha...
urinou no muro e partiu; poderei censurá-lo
se lhe devo o olhar que trocou comigo?

chamam-me louco
desculpam-me por ser quem sou
quando sou só solitário e velho
sem o direito a existir ancião
a idade mo nega, os olhos de outrem também.
meus dias perderam a nobreza
de merecer um olhar, procuro-o
à janela, na escuridão
no farol de um carro
na atenção de um cão.

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