sexta-feira, 30 de maio de 2014

sobre sonhos

Sonho,
é somente uma parte do real
que aparentemente podemos modelar a gosto; e gostamos.
Então sonhamos
e o acontecer aproxima-se e nós abeiramo-nos dele,
e neste processo frenético de construção e desejo,
a extravagância convive com a utopia
e a desventura com a perseverança.
A este convívio ocorre retirarmos os afetos,
para não sentirmos a dor da perda e o desconforto da frustração;
então resulta a realidade,
sempre acética pela inevitabilidade: o ser/estar "sem tus nem mus".

Normalmente
tendemos a esquecer que sempre corremos por algo que ainda não aconteceu
e que damos por tão certo
que não lhe reconhecemos o devir próprio do sonho:
é a nossa impossibilidade de sair do imediato,
de nos projetarmos um pouco além daqui. E chamamos real
ao que ainda não aconteceu.
O tempo, o espaço e o sonho são curtos; têm a nossa perspetiva
de vida, que se recusa sonhar, que recusa o desconforto:
instala-se a incapacidade de arriscar.

Que arriscar implica uma perspetiva de futuro que só sonho tem.

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