domingo, 13 de abril de 2014

estrangeiro

sou estrangeiro
disse-mo esta angústia que me acompanha
este alerta de não ter sido germinado nesta terra
esta meu olhar que destoa na paisagem
sempre presente, esta angústia proclamou-me estrangeiro.

depois, há o que não entendo
o que a natureza não me diz e os sinais que procuro e não encontro
e a saudade que trouxe da minha terra
aqui cresce e floresce sozinha comigo
é a minha companhia de estrangeiro.

gosto de tudo o que vejo
como me falta o que deixei
no lugar que me gerou e onde me pari
uma fronteira em encosta escorrente para o mar
onde me banhava até à alma

meu corpo acha-me estrangeiro
a pele que o cobre não é a do sangue que o corre
o andar que o leva tem muito da alma que se arrasta
a dor cerrou os dentes e chamou a raiva da vida
e a angústia, contínua e maldita
declarou-me estrangeiro

estrangeiro em meu próprio corpo
estrangeiro em minha própria vida

e os pássaros cantam noutra língua
sou um estrangeiro

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