quinta-feira, 3 de abril de 2014

solidão

meus olhos viviam ensombrados
que o sol os feria
com eles se ensombrou meu rosto
por simpatia com os olhos
afinal eram parceiros de uma mesma comunidade.
meu sorriso pediu à mão que o encobrisse
e a mão assim fez
interpôs-se
logo de seguida a fala
a minha fala aproveitou
e pediu à mão o mesmo que o sorriso
minha mão anuiu
e com o tempo tornou-se indispensável
ao meu rosto
ao meu sorriso
às minhas palavras
que agora eram imperceptíveis
e eu, ensombrado
sempre atrás de qualquer coisa
como uma mão
achava-me incompreendido
quando eu é que não compreendida
que era imperceptível.
achei o mundo feio
fugi
primeiro das pessoas
depois do que me ligava a elas
e ocupei os espaços vazios
com ódios, raivas e outras daninhas
que semearam raízes em todas as frestas.
eu estalava, quebrava
e já não era imperceptível
era irreconhecível
até para mim
foi então que fiquei só
sem mim
abandonei-me à solidão
das daninhas
que nem eu podia estar comigo.

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